Talvez seja, na vida, a típica história hollywoodiana de redenção. Astro de duas das mais populares séries de ação do cinema, a futurista Mad Max e Máquina mortífera, o australiano Mel Gibson tomou de assalto Hollywood, virou diretor, ganhou o Oscar por Coração valente (em 1995), e parecia instalado no Olimpo reservado aos deuses do cinema. Mas Gibson começou a beber, brigou com jornalistas, fez declarações consideradas antissemitas e homofóbicas. Virou vilão da própria história. Desculpou-se com os judeus. Não adiantou muito. E aí fez um novo filme como diretor. Redimiu-o o próprio trabalho.
Até o último homem, que está em cartaz nos cinemas e recebeu três indicações ao Oscar – melhor filme, diretor e ator (Andrew Garfield) –, conta a história de Desmond T. Doss e sua particular luta para ir à guerra. Andrew Garfield faz esse garoto religioso, com convicções profundas, que não quer tocar em armas – tem motivos para isso –, mas sua consciência o obriga a ir para o front na 2ª Guerra Mundial.
Desmond quer lutar do seu jeito. O Exército tem regras. Mesmo para ser paramédico, ele precisa passar por treinamento militar e isso significa pegar em armas. Doss nega-se. O pai, com quem tem uma relação litigiosa, cerra fileiras com o filho. O garoto vence, vai para a guerra sem armas e, mesmo assim, ganha a Medalha de Honra por bravura em combate. Uma história altruísta? Não exatamente – não do jeito que Mel Gibson a conta. Intimista em O homem sem face, o Mel diretor orientou-se para o épico. Coração valente, A paixão de Cristo, Apocalypto. Seus épicos são narrados com som e fúria, jogando o espectador no meio do perigo, com toda a violência possível numa encenação. E, dentro desse horror, Mel busca os momentos íntimos, em que um homem duvida de si mesmo.
Até o último homem parece-se com A paixão de Cristo, porque mostra até onde um homem – lá, era o filho de Deus – vai por suas convicções. O Cristo era moído por seus algozes e, posto que eles eram judeus, mais algumas declarações explosivas – feitas como autodefesa – fizeram de Mel o antissemita por excelência. Ele se desculpou, agora vai adiante. Doss vira alvo dos colegas recrutas.
Mais de um ele vai salvar. Seu mantra, justamente: “Mais um!”. O preconceituoso Mel abre espaço para que o espectador entenda o outro, o porquê de esses homens que agridem o garoto aparentemente indefeso serem como são. No ardor da batalha, Doss está acuado, os camaradas sendo mortos e a arma está a seu lado, no chão. Ele vai usá-la? Mel não transige. O filme é poderoso.
Até o último homem, que está em cartaz nos cinemas e recebeu três indicações ao Oscar – melhor filme, diretor e ator (Andrew Garfield) –, conta a história de Desmond T. Doss e sua particular luta para ir à guerra. Andrew Garfield faz esse garoto religioso, com convicções profundas, que não quer tocar em armas – tem motivos para isso –, mas sua consciência o obriga a ir para o front na 2ª Guerra Mundial.
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Mais de um ele vai salvar. Seu mantra, justamente: “Mais um!”. O preconceituoso Mel abre espaço para que o espectador entenda o outro, o porquê de esses homens que agridem o garoto aparentemente indefeso serem como são. No ardor da batalha, Doss está acuado, os camaradas sendo mortos e a arma está a seu lado, no chão. Ele vai usá-la? Mel não transige. O filme é poderoso.