Era para ser um filme dedicado a quem ama cachorros. Filhotes, brincadeiras fofinhas, giros atrás do rabo e uma história já conhecida do livro, mas bastou um vídeo de bastidores vazar que o amor acabou. As imagens divulgadas na última semana pelo site norte-americano TMZ mostram um dos animais de Quatro vidas de um cachorro sendo maltratado em uma cena aquática, dentro de uma correnteza. A mesma devoção aos cães que poderia transformar o longa num sucesso virou uma campanha contrária, que agora a produção corre para contornar.
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Responsável pela filmagem em questão, a empresa Birds & Animals publicou uma nota se defendendo, dizendo que as imagens divulgadas pelo TMZ teriam sido manipuladas para dar o tom negativo que chocou os internautas. O vídeo mostra o pastor alemão, identificado como Hércules, relutando para entrar em um tanque que simula uma correnteza, mas sendo forçado por um homem a entrar na água. Em seguida, já dentro da piscina, o animal quase se afoga, causando pânico no pessoal envolvido. Veja:
A Amblin Entertainment e a distribuidora Universal Pictures divulgaram uma nota garantindo que todas as filmagens prezaram pela segurança e bons tratos dos animais e que as circunstâncias mostradas no vídeo serão investigadas. As empresas endossam o argumento de que o vídeo foi editado, dizendo que “foram vários dias de ensaio das cenas realizadas na água para garantir que Hércules se sentisse confortável com as gravações. No dia da filmagem, Hércules não quis gravar as imagens retratadas no vídeo divulgado, portanto, a equipe da Amblin não continuou as filmagens da cena”.
ABUSO
Ontem, Gavin Palone, um dos produtores do longa admitiu que houve erro e negligência por parte da equipe, afirmando que “o treinador força o cachorro a entrar na água contra sua vontade” e que “a cabeça do animal fica submersa por cerca de quatro segundos”. “Essas duas situações são completamente injustificáveis e não deveriam nunca ter acontecido”’, esclareceu Gavin. No entanto, ele critica a inclusão de uma cena no vídeo divulgado pela TMZ e viralizado pelo Peta, que teria sido gerada por computador. “Não é essa a definição de notícia falsa?”’, questiona.
Hércules “interpreta” a cadela Ellie, treinada por um oficial da Polícia de Chicago para combater o crime na cidade. Ela é uma das encarnações do protagonista do filme, que inicia a história como Bailey, um golden retriver adotado por uma família que marca para sempre sua consciência por ser sua primeira relação afetiva com humanos. Ele ainda volta na pele e no pêlo de Tino, criado por uma universitária solitária, e finalmente de Buddy, que acaba no lar de um casal desajustado e problemático, sem a menor condição de criar um cachorro.
O filme dirigido pelo sueco Lasse Hallström é uma adaptação do livro de mesmo título, escrito por W. Bruce Cameron e publicado em 2010. Nas duas versões, o narrador da história é o próprio cachorro, que conta suas percepções a respeito da vida humana: “Será que ele está tentando achar comida na boca dela?”, diz ao testemunhar um beijo, “Sou muito feliz por ter um Ethan”, conclui diante das manifestações de amor de seu primeiro dono.
Os inusitados pontos de vista se juntam às trapalhadas caninas, daquelas que os amantes de cachorros compartilham nas redes sociais, dando um tom engraçadinho à trama. No entanto, ela traz uma camada mais profunda de entendimento. A cada volta, com uma diferente raça e diferentes donos, todos eles enfrentando algum drama pessoal relacionado à solidão, o cachorro tenta compreender a efemeridade das relações humanas, cujas vidas normalmente duram bem mais que a dos cães. Dessa forma, ele procura nos ensinar a valorizar mais cada momento aqui na Terra, especialmente na companhia de quem amamos.
Essa mensagem talvez não seja novidade e, possivelmente, é a razão pela qual os cães conquistaram os humanos há tantos anos. O sucesso do trailer do filme (assista abaixo), quando foi lançado, e também do livro são prova disso, assim como o de Rin-Tin-Tin, Marley, passando por Lassie, Beethoven, Bud, entre outros. A empatia dos humanos com os cães talvez seja maior do que aquela existente entre eles mesmos e isso pode ter feito Quatro vidas de um cachorro uma grande contradição, depois da denúncia de maus-tratos nas gravações.