David Frankel, diretor de bons filmes como O diabo veste Prada, teve à sua disposição um elenco formado por Will Smith, Helen Mirren, Kate Winslet, Edward Norton, Michael Peña e Naomie Harris – que acaba de ser indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por Moonlight. Em que pese a qualidade dos nomes envolvidos, Beleza oculta, que estreia hoje nos cinemas brasileiros, é, em síntese, um enorme desperdício de talentos.
Boa parte do decepcionante resultado do filme deve ser creditada (ou melhor, debitada) à mais do que excessiva dose de sentimentalismo de seu roteiro. O drama gira em torno de Howard (Smith), que tem direito a não mais do que 30 segundos solares na história, quando festeja a excepcional performance de sua agência de publicidade. É também o momento em que ele explica o trinômio no qual se baseiam suas campanhas: “tempo, amor e morte”, as três “abstrações universais”, porque, “no fim do dia, todos nós queremos ser amados e tememos a morte”.
Na cena seguinte, já se passaram três anos, Howard aparenta ter envelhecido ao menos 15 e um ar sombrio se apossou definitivamente de seu semblante. Ocorre que sua filha de 6 anos morreu de um tipo raro de câncer e, desde então, ele quase não dorme, mal se alimenta, separou-se da mulher, mudou-se para um apartamento sem telefone nem internet e, embora vá diariamente à agência, já não trabalha. Mas Howard ainda escreve – cartas raivosas para as três abstrações, que ele acusa de o terem aprisionado (o tempo), traído (o amor) e se negado a negociar (a morte).
ARMADILHA
É a esse ponto que seus três sócios na agência – Claire (Kate Winslet), Wit (Edward Norton) e Simon (Michael Peña, o astronauta cristão de Perdido em Marte) – se apegam para armar uma jogada que comprove o desequilíbrio mental de Howard e, com isso, afastá-lo da negociação de venda da empresa, antes que ela conclua seu caminho em direção à falência.
O truque teatral consiste em fazer com que o Amor, a Morte e o Tempo se materializem – nos corpos de Keira Knightley, Helen Mirren e Jacob Latimore, respectivamente – e retruquem as acusações de Howard. Mas cada um dos sócios tem também questões pendentes com o amor (Wit), a morte (Simon) e o tempo (Claire) e eles acabarão, de certa forma, sendo arrastados para dentro do próprio jogo.
Em benefício do filme deve-se notar que há ao menos duas boas piadas que quebram momentaneamente a artificialidade dos diálogos e da trama. Uma envolve psicanalistas e motoristas do Uber; a outra é quando a Morte se encanta com sua própria cena de improviso diante de Howard e conclui: “Foi Grotowski; foi pura Stella Adler”. Os poucos pontos altos do longa, aliás, pertencem a Helen Mirren, que propositalmente brinca de ser teatral.
Na reta final, o roteiro faz um giro que, se supõe, deveria surpreender o espectador. No entanto, essa é mais uma vez em que se torna embaraçosa a distância entre as intenções do filme e seu resultado. Descontados os fãs irremediáveis dos melodramas mais açucarados, o espectador provavelmente concluirá que, diferentemente de seu título, esse é um filme em que a beleza não é oculta, porque inexistente.
Boa parte do decepcionante resultado do filme deve ser creditada (ou melhor, debitada) à mais do que excessiva dose de sentimentalismo de seu roteiro. O drama gira em torno de Howard (Smith), que tem direito a não mais do que 30 segundos solares na história, quando festeja a excepcional performance de sua agência de publicidade. É também o momento em que ele explica o trinômio no qual se baseiam suas campanhas: “tempo, amor e morte”, as três “abstrações universais”, porque, “no fim do dia, todos nós queremos ser amados e tememos a morte”.
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ARMADILHA
É a esse ponto que seus três sócios na agência – Claire (Kate Winslet), Wit (Edward Norton) e Simon (Michael Peña, o astronauta cristão de Perdido em Marte) – se apegam para armar uma jogada que comprove o desequilíbrio mental de Howard e, com isso, afastá-lo da negociação de venda da empresa, antes que ela conclua seu caminho em direção à falência.
O truque teatral consiste em fazer com que o Amor, a Morte e o Tempo se materializem – nos corpos de Keira Knightley, Helen Mirren e Jacob Latimore, respectivamente – e retruquem as acusações de Howard. Mas cada um dos sócios tem também questões pendentes com o amor (Wit), a morte (Simon) e o tempo (Claire) e eles acabarão, de certa forma, sendo arrastados para dentro do próprio jogo.
Em benefício do filme deve-se notar que há ao menos duas boas piadas que quebram momentaneamente a artificialidade dos diálogos e da trama. Uma envolve psicanalistas e motoristas do Uber; a outra é quando a Morte se encanta com sua própria cena de improviso diante de Howard e conclui: “Foi Grotowski; foi pura Stella Adler”. Os poucos pontos altos do longa, aliás, pertencem a Helen Mirren, que propositalmente brinca de ser teatral.
Na reta final, o roteiro faz um giro que, se supõe, deveria surpreender o espectador. No entanto, essa é mais uma vez em que se torna embaraçosa a distância entre as intenções do filme e seu resultado. Descontados os fãs irremediáveis dos melodramas mais açucarados, o espectador provavelmente concluirá que, diferentemente de seu título, esse é um filme em que a beleza não é oculta, porque inexistente.