Boa parte do decepcionante resultado do filme deve ser creditada (ou melhor, debitada) à mais do que excessiva dose de sentimentalismo de seu roteiro. O drama gira em torno de Howard (Smith), que tem direito a não mais do que 30 segundos solares na história, quando festeja a excepcional performance de sua agência de publicidade. É também o momento em que ele explica o trinômio no qual se baseiam suas campanhas: “tempo, amor e morte”, as três “abstrações universais”, porque, “no fim do dia, todos nós queremos ser amados e tememos a morte”.
Na cena seguinte, já se passaram três anos, Howard aparenta ter envelhecido ao menos 15 e um ar sombrio se apossou definitivamente de seu semblante. Ocorre que sua filha de 6 anos morreu de um tipo raro de câncer e, desde então, ele quase não dorme, mal se alimenta, separou-se da mulher, mudou-se para um apartamento sem telefone nem internet e, embora vá diariamente à agência, já não trabalha. Mas Howard ainda escreve – cartas raivosas para as três abstrações, que ele acusa de o terem aprisionado (o tempo), traído (o amor) e se negado a negociar (a morte).
ARMADILHA
É a esse ponto que seus três sócios na agência – Claire (Kate Winslet), Wit (Edward Norton) e Simon (Michael Peña, o astronauta cristão de Perdido em Marte) – se apegam para armar uma jogada que comprove o desequilíbrio mental de Howard e, com isso, afastá-lo da negociação de venda da empresa, antes que ela conclua seu caminho em direção à falência.
O truque teatral consiste em fazer com que o Amor, a Morte e o Tempo se materializem – nos corpos de Keira Knightley, Helen Mirren e Jacob Latimore, respectivamente – e retruquem as acusações de Howard. Mas cada um dos sócios tem também questões pendentes com o amor (Wit), a morte (Simon) e o tempo (Claire) e eles acabarão, de certa forma, sendo arrastados para dentro do próprio jogo.
Em benefício do filme deve-se notar que há ao menos duas boas piadas que quebram momentaneamente a artificialidade dos diálogos e da trama. Uma envolve psicanalistas e motoristas do Uber; a outra é quando a Morte se encanta com sua própria cena de improviso diante de Howard e conclui: “Foi Grotowski; foi pura Stella Adler”. Os poucos pontos altos do longa, aliás, pertencem a Helen Mirren, que propositalmente brinca de ser teatral.
Na reta final, o roteiro faz um giro que, se supõe, deveria surpreender o espectador. No entanto, essa é mais uma vez em que se torna embaraçosa a distância entre as intenções do filme e seu resultado. Descontados os fãs irremediáveis dos melodramas mais açucarados, o espectador provavelmente concluirá que, diferentemente de seu título, esse é um filme em que a beleza não é oculta, porque inexistente.