Cinco dias após ter arrebatado o Globo de Ouro – levando todos os sete prêmios a que havia sido indicado –, La la land: cantando estações, de Damien Chazelle, já pode ser visto em todo o Brasil, em pré-estreias diárias, que irão se prolongar até a estreia oficial, na próxima quinta-feira, 19.
Não espere até lá. Não se deixe tampouco se envolver por um velho argumento (''Eu não gosto de musicais'') repetido sempre que um filme do gênero ganha os holofotes. La la land não é um musical típico, mesmo que reverencie a Era de Ouro de Hollywood. É um filme romântico (com alguma dose de comédia e outra de drama) que tem números musicais. Impecáveis, por sinal, e com uma música muito acima da média.
Aliás, qual foi a última vez que você se viu cantarolando uma melodia na saída do cinema? Pois isso acontece. Aliás, outras coisas ocorrem ao longo das 2h08min de La la land: é um filme que o tira do chão, esquecendo da vida lá fora. Magia de que só o bom cinema é capaz.
Mas vamos ao filme, afinal. A história é de uma banalidade gritante. Rapaz encontra garota e, após alguns desentendimentos, os dois se apaixonam. Quantas vezes você já viu essa mesma história sendo contada?
La la land faz exatamente isso, de uma maneira muito própria. Mas nada, vale dizer, é original
A maneira como o cineasta costura essas referências – sem jamais as trair – é que faz com que o longa-metragem seja único. Chazelle trouxe consigo um elenco impecável – Emma Stone e Ryan Gosling são adoráveis juntos, mesmo estando longe de ser exímios cantores e dançarinos – e cenários diferentes.
Sua Los Angeles passa ao largo dos lugares-comuns. Entre as locações que chamam a atenção estão aquelas que dialogam com o próprio cinema, como o Rialto (histórica sala criada em 1925 que fechou em 2007), o chamado The Lighthouse Cafe (um reduto jazzístico dos anos 1950 que recebeu nomes como Miles Davis e Chet Baker) e o mural You are the star, na Calçada da Fama, que destaca imagens de Marilyn Monroe e Shirley Temple, entre outros.
Engarrafamento
A abertura do longa já tira o fôlego. Num engarrafamento de uma das freeways que marcam o Sul de Los Angeles, um grupo de pessoas deixa o carro para uma coreografia ao som de Another day of sun. A cena foi filmada num coreografado (e aparente) plano-sequência. Sua referência mais imediata é a dos alunos de Fame, musical que marcou a década de 1980.
Somente ao final desta cena, Sebastian (Gosling) e Mia (Stone) se encontram. Ele é um pianista que sonha em ter um clube de jazz nos moldes tradicionais. Está num conversível antigo, tentando ouvir jazz numa fita cassete que não para de enrolar
O encontro é rápido, nada promissor (um dedo médio marca a despedida) e ocorre durante o inverno. La la land, por sinal, se desenrola ao longo das quatro estações do ano (isso explica o infame subtítulo que o filme ganhou no Brasil).
No período desses meses, os dois se encontram e se apaixonam. Querem, basicamente, a mesma coisa: viver de sua arte, sem nunca trair suas convicções. Algo um tanto improvável para os dias atuais, um cético diria.
Mas é neste ponto que La la land se distingue. Brinca com o passado com respeito, sem nostalgia. No entanto, coloca-se como um filme do agora. Há uma fala de Sebastian que resume bem esse sentimento. ''‘Vocês (diz ele, referindo-se aos que vivem Los Angeles) veneram tudo, mas não valorizam nada.'' La la land, de certa maneira, tenta mudar essa perspectiva.