Chazelle está falando de jazz, mas também de musical, porque em seu filme também há esse embate entre tradição e modernidade. Ele cita o mestre Vincente Minnelli. Gosling e Emma, depois de uma festa, caminham no alto de um monte, com árvores ao redor
Transição, modernidade
Minnelli é referido de novo, mais adiante. An American in Paris, Sinfonia de Paris. A cidade idealizada pelos pintores. A França, onde as pessoas amam jazz. E Jacques Demy, que amava o musical. La La Land reproduz a estrutura de Os Guarda-Chuvas do Amor, Les Parapluies de Cherbourg, que ganhou a Palma de Ouro de 1964. O casal ama-se, mas, às vezes, para conseguir o que querem, as pessoas precisam se separar
Em Whiplash, seu longa anterior, já havia essa busca do artista pela perfeição. Chazelle, como bom americano, acredita na segunda chance. Ele reescreve a frase famosa de Demy (e Michel Legrand, seu compositor). Je vous attendrai toujours, Vou te esperar para sempre. A tragédia de Nino Castelnuovo, na obra-prima de Demy, é que Catherine Deneuve, ao contrário da promessa, não o espera. A frase agora é - Vou te amar para sempre, e é verdade. Um sorriso, um gesto quase furtivo, compensam o que a vida dá, e tira. La La Land pode até nem ser o melhor filme desta edição do Oscar. Os demais concorrentes principais - Manchester à Beira-Mar, Moonlight - ainda nem estrearam para que o cinéfilo possa compará-los. Mas La La Land beneficia-se de um fato, uma verdade básica. A Academia ama os musicais.
E o filme é lindo. Emma Stone é uma graça. Como aspirante a atriz, ela participa, dentro do filme, de vários testes. Muitas vezes, a câmera fica parada em seu rosto para mostrar o que ela tenta passar em sua interpretação, e depois a decepção, porque durante boa parte do filme os diretores de elenco não estão nem aí para ela. Emma interpreta. E canta, e dança. Ryan Gosling, ele, é um deus. Gosling virou cult em Drive, de Nicolas Winding Refn. É charmoso, é viril.
Vive dividido - tradição e modernidade. Leva a mocinha para ver Juventude Transviada, o clássico de Nicholas Ray. E depois a leva ao planetário de verdade, onde James Dean, Natalie Wood e Sal Mineo sonham com esse lugar perfeito em que poderão viver com suas imperfeições. Gosling é moderno, mas tem a aura dos astros do passado. Você não precisa saber de nada disso para amar La La Land. Mas está tudo no filme. O mais demyniano que Demy não realizou.