Você talvez não o conheça, mas aos 22 anos de idade ele já tem três biografias escritas e agora uma filmada. Catarinense radicado na capital paulista desde a infância, Christian Figueiredo é parte da geração que encontrou na exposição on-line o sentido da própria vida. Hoje, ele é idolatrado por mais de 7 milhões de pessoas que o seguem no YouTube, onde começou a postar vídeos pessoais há alguns anos.
O que ele fez para ter tanto sucesso? Foi adolescente, sentiu inseguranças, amou e não foi correspondido, tentou enturmar e não conseguiu, quis ser igual a todo mundo e se deu mal. E é justamente essa história, parecida com a de muita gente nascida nos últimos 30 anos, que chega hoje aos cinemas de todo o país com o filme Eu fico loko.
O título do longa é o nome do canal do YouTube, criado em 2010 por Christian. Na época, ele era só mais um secundarista, impopular na escola e apaixonado por uma amiga que não dava bola para ele. A timidez nas relações pessoais era compensada pela criatividade diante da filmadora. Através do aparelho ele gravava esquetes em parceria com o melhor amigo Yan e acabou encontrando na câmera o refúgio para suas fraquezas sociais e se tornou um fenômeno, justamente por compartilhar essas fraquezas.
Trapalhadas
A história de Christian antes da fama na web não se difere da de milhões de adolescentes. A proposta de seu canal no YouTube também é semelhante às de outros entre os mais populares do país: vídeos falando sobre trivialidades e trapalhadas num tom escrachado em edições dinâmicas e pretensamente engraçadas. ''E aí, loucões e louconas do meu Brasil'' é o bordão que costuma marcar o início de seus vídeos. Tudo isso leva a imaginar uma cinebiografia previsível e insossa, mas o resultado final é uma divertida comédia adolescente que toca em vários pontos importantes sobre a juventude atual.
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''Este é o meu vídeo mais longo'', diz a estrela logo no início do filme. Ao contrário de outros youtubers que interpretaram personagens em produções nacionais recentes, Christian é inserido pontualmente em vários momentos do filme como narrador de sua própria história. Quem assume o papel principal é o jovem ator Felipe Bragança, de Chiquititas. A maior parte da trama se passa sete anos atrás e gira em torno da paixão não correspondida de Christian pela melhor amiga Alice, interpretada pela também chiquitita Isabella Moreira.
Pressionado pelos amigos para se iniciar sexualmente, começar a beber e ser popular, mas ainda sem a menor aptidão para nada disso, o personagem começa a contar um monte de mentiras para os amigos para não se tornar ainda mais excluído. As situações inventadas por ele criam complicações envolvendo todos ao seu redor, tornando a trama engraçada e cheia de reviravoltas, se valendo de estruturas já vistas em comédias como American pie e Curtindo a vida adoidado.
Com bom humor, o filme permeia temas delicados, como a gravidez na adolescência, bullying, consumo de álcool na juventude e exposição on-line. O roteiro é baseado no livro Eu fico loko: As desventuras de um adolescente nada convencional, escrito pelo próprio Christian e lançado em 2015 com suas histórias pessoais antes da criação do canal. No comando de tudo está Bruno Garotti. Assistente na direção e roteiro de S.O.S mulheres ao mar 2 e em outras produções e séries de TV, Eu fico loko marcou a estreia do cineasta como diretor e roteirista principal.