A 74ª edição do Globo de Ouro, na noite de domingo (8), consagrou o musical La la land: Cantando estações – com os prêmios de melhor filme, diretor e roteiro (Damien Chazelle), ator (Ryan Gosling), atriz (Emma Stone), trilha e canção – mandou duros recados de Hollywood para o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, e valorizou a produção negra no audiovisual, com troféus para as séries Atlanta e Black-ish e prêmio de melhor filme dramático para Moonlight, sobre um garoto negro e pobre, que descobre sua homossexualidade.
Na parcela da premiação voltada à TV, The crown, a série da Netflix sobre a história da rainha Elizabeth II, venceu em sua categoria e também na de atriz (Claire Foy). The Night Manager dominou os prêmios de elenco. Confira abaixo a relação completa dos premiados.
Foi a última vez que a comunidade de Hollywood se reuniu num grande prêmio sob a presidência de Barack Obama. A posse de Trump está marcada para o próximo dia 20. O mestre de cerimônias Jimmy Fallon – que durante a corrida presidencial americana foi criticado por ter sido feito uma entrevista bem-humorada demais com o candidato republicano em seu programa – disse: "Este é o Globo de Ouro, um dos poucos lugares que acredita no voto popular", numa referência ao fato de a candidata democrata, Hillary Clinton, ter vencido Trump por uma diferença superior a 2 milhões de votos na contagem popular.
Mas foi Meryl Streep, que recebeu o prêmio especial Cecil B. DeMille, quem fez o mais potente discurso da noite. Ela citou nominalmente os colegas presentes nascidos em outros países, como Natalie Portman (Jerusalém), Amy Adams (Itália), Ryan Gosling (“que é canadense, como todos os caras legais”), antes de dizer que, “se mandarmos todos os estrangeiros embora não teremos mais nada a fazer a não ser assistir futebol e artes marciais”.
Ainda num claro recado a Trump, ela afirmou que “desrespeito convida ao desrespeito; violência incita a violência. Se você usa sua posição para fazer bullying gom outra pessoa, todos nós perdemos”. Em seguida, pediu a Hollywood que “proteja os jornalistas, porque vamos precisar deles no futuro, para nos protegerem”. Por fim, citou a amiga recentemente falecida Carrie Fisher: “Pegue seu coração partido e transforme-o em arte”.
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O momento mais terno da noite veio do diretor holandês Paul Verhoeven, cujo Elle, protagonizado por Isabelle Huppert, foi eleito o melhor filme estrangeiro. "Gostaria de agradecer à imprensa estrangeira de Hollywood por sua mente aberta". Elle é sobre uma mulher vítima de estupro que reage de forma incomum ao crime que sofreu. Olhando diretamente para a diva de seu filme, Verhoeven: "Muito obrigado por tudo o que você deu a este filme, pelo seu talento, sua audácia, sua autenticidade, sua atuação, você é maravilhosa. Eu te amo, eu te amo, eu te amo. Muito obrigado." Mais tarde, Huppert recebeu o prêmio de melhor atriz em drama. Muito emocionada, ela agradeceu ao diretor. "Obrigada Paul, por ser o que você é. Por me deixar ser o que eu sou." E emendou com mais um recado contra a política anti-imigração de Donald Trump. "Aqui há pessoas de todos os lugares do mundo. É inútil tentar fazer a arte ter fronteiras."
A contundência marcou também os discursos de agradecimento, como o de Nina Jacobson, produtora-executiva da série The people v. O.J. Simpson: American crime story, que levou dois prêmios, o de melhor minissérie e o de melhor atriz, para Sarah Paulson. Nina afirmou: “O julgamento transformou a tragédia em entretenimento e mostrou que o sistema de Justiça americano é cego”, para em seguida emendar: “Queremos agradecer às nossas famílias, no meu caso, à minha mulher, meus filhos e minha mãe”.
Viola Davis, premiada como melhor atriz, por Fences, fez um discurso emocionado, no qual contou que seu pai não havia sido alfabetizado até os 15 anos de idade e inspirou a história. A premiação de Viola Davis ressaltou uma tendência desse Globo de Ouro, de valorizar a produção que destaca artistas negros e narrativas sobre a comunidade afrodescentente americana.
Mais tarde, ao entregar o prêmio especial para Meryl Streep, Viola Davis brilhou novamente. “Você me deixa orgulhosa de ser artista! Você me faz sentir que o que eu tenho em mim, no meu corpo, no meu rosto, na minha idade é o bastante. Você engloba aquele dito do Émile Zola: 'Se você me perguntasse o que eu, um artista, vim fazer neste mundo, eu diria: eu vim viver em voz alta'.”
Antes de Viola, Tracee Ellis Ross, que é filha de Diana Ross, foi premiada como melhor atriz em série de comédia. “É minha primeira vez aqui. Lugar bonito. Este prêmio é para todas as mulheres de cor, cujas ideias e pensamentos nem sempre são considerados importantes. É uma honra estar nessa série e mostrar a história que sai do modelo da indústria. Quero agradecer a todas as pessoas que me ajudaram a chegar aqui aos 44 anos. Gosto do que estou vivendo agora. Muito obrigada”, afirmou.
O ator Donald Glover, que recebeu o prêmio de melhor série de comédia para Atlanta - e mais tarde voltou ao palco para receber o troféu de melhor ator - fez um agradecimento mais curto, mas não menos enfático: “Queria agradecer à cidade de Atlanta e aos negros que vivem em Atlanta, por estarem vivos e serem pessoas maravilhosas”.
Quando Hugh Laurie, premiado como melhor ator coadjuvante em minissérie, por The Night Manager, foi receber seu prêmio, o alvo voltou a ser Trump: “Não quero parecer pessimista, mas não sei o que vai acontecer no futuro. Acho que, para alguns republicanos, a palavra associação, mesmo que seja de jornalistas, é algo suspeito.”
A cerimônia marcou a volta à cena pública de Brad Pitt, depois de seu tumultuado divórcio de Angelina Jolie. Visivelmente mais magro, ele apresentou um dos últimos prêmios e foi muito aplaudido pela plateia formada por colegas.
La la land deve estrear no Brasil no dia 19 de janeiro e Moonlight, no dia 23 de fevereiro.
Confira o resultado do Globo de Ouro 2017:
Ator coadjuvante
Aaron Taylor Johnson (Animais noturnos)
Ator em série de drama
Billy Bob Thornton (Goliath)
Atriz em série de comédia
Tracee Ellis Ross (Black-ish)
Série – Comédia
Atlanta
Atriz em filme para TV ou minissérie
Sarah Paulson (The people v. O.J. Simpson: American crime story)
Filme para TV ou minissérie
The people v. O.J. Simpson: American crime story
Ator coadjuvante em minissérie
Hugh Laurie (The Night Manager)
Trilha sonora
La la land: Cantando estações
Música original
City of stars (La la land: Cantando estações)
Melhor atriz
Viola Davis (Fences)
Atriz coadjuvante em minissérie
Olivia Colman (The Night Manager)
Melhor ator
Ryan Gosling (La la land: Cantando estações)
Melhor roteiro
Damien Chazelle (La la land: Cantando estações)
Melhor animação
Zootopia
Melhor filme estrangeiro
Elle, de Paul Verhoeven (França)
Melhor Ator em Minissérie
Tom Hiddleston (The Night Manager)
Atriz em série de drama
Claire Foy (The crown)
Série – Drama
The crown
Diretor
Damien Chazelle (La la land: Cantando estações)
Ator em série de comédia
Donald Glover (Atlanta)
Atriz em comédia ou musical
Emma Stone (La la land: Cantando estações)
Melhor filme – Musical ou comédia
La la land: Cantando estações
Melhor ator - drama
Casey Affleck (Manchester à beira mar)
Melhor atriz - drama
Isabelle Huppert (Elle)
Melhor filme – Drama
Moonlight