Diretor do filme que deu ao Irã seu primeiro (e até hoje único) Oscar – A separação (2011) –, Asghar Farhadi é atualmente o mais conhecido cineasta iraniano. “As pessoas me reconhecem na rua. Às vezes me sinto como um jogador de futebol”, brincou ele durante o Festival de Cannes do ano passado, quando apresentou O apartamento, longa que estreou nesta semana nos cinemas brasileiros.
O filme saiu de Cannes com os prêmios de melhor roteiro (assinado pelo próprio Farhadi) e ator, para Shahab Hosseini. No próximo domingo, concorre ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. E aposta-se que estará (de novo) no Oscar.
O apartamento é sobre um dublê de ator e professor. Na peça dentro do filme, ele integra um grupo que monta A morte do caixeiro viajante, de Arthur Miller. Ocorre um problema no prédio onde mora com a mulher. O casal se muda para o apartamento oferecido por um amigo. A moradora anterior era uma prostituta. Um antigo cliente tenta invadir a casa. Há dúvida se a mulher de Hosseini, cujo personagem se chama Emad, foi violentada, mas alguma forma de assédio e embaraço ela sofreu
PERSEGUIÇÃO “Os intelectuais são tão perseguidos, têm sofrido tanta repressão no Irã. De alguma forma eu queria mostrar isso na tela”, afirmou Farhadi. O curioso, segundo ele, é que com artistas de teatro isso tende a ocorrer menos, até por ser o cinema um meio mais popular. A própria ideia de uma montagem iraniana do clássico de Arthur Miller pode parecer estranha. Como no texto de Miller, O apartamento é sobre homens de bem e até onde podem ir.
No filme, a reação de Emad provoca uma situação que escapa ao controle. Para Farhadi, a violência de Emad não é irracional, mas premeditada. “O filme coloca um problema ético. Tem gente que acredita que a violência que vai cometer é justificada. Sei que é complicado, mas o terrorista parte desse princípio. Muita coisa violenta que ocorre hoje no mundo tem justificativa ideológica