O trabalho do cineasta surge no fim dos anos 1970, sem temor à censura na época estabelecida pela ditadura militar, e como contraponto ao cinema novo - que tem no baiano Glauber Rocha seu representante mais conhecido. Tonacci - ao lado de Júllio Bressane, Rogerio Sganzerla e outros adeptos do cinema marginal - surge como fundador de uma arte crítica ao elitismo da vertente de Rocha, que considerava ‘aburguesada’, longe do contato com a realidade brasileira.
O artista que nasceu em Roma em 1944, mas migrou para o Brasil aos 9 anos, estava prestes a concluir o curso de engenharia e arquitetura quando decidiu largar as exatas para se dedicar à sétima arte.
Belo Horizonte é o cenário de sua obra mais famosa: Bang Bang (1971), filme em que o ator Paulo César Pereio interpreta um neurótico envolvido em bizarras situações, que incluem do enfrentamento de bandidos ao cumprimento do ritual higiene vestindo uma máscara de macaco. O longa chegou a ser exibido em Cannes.
Destaca-se ainda em sua filmografia o media-metragem Blablablá (1968), com Paulo Gracindo; e, mais recentemente, o premiado Serras da Desordem (2006). A produção mostra o massacre da tribo Awá-Guajá nos anos 70 na Amazônia por meio da história de Carapirú, índio que sobreviveu à tragédia. Em novembro de 2015, o filme foi eleito pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. O trabalho inaugural do italiano é um curta-metragem: Olho por Olho, rodado em 1965 em São Paulo.
“Foi um cara que se manteve íntegro.
Em 1995, Patrícia dirigiu um documentário sobre Bang Bang, que considera uma das maiores referências do cinema nacional. Filmado em BH, Detonacci foi, segundo a mineira, uma homenagem feita ao cineasta. “Filmamos aqui em BH e um pedaço no Rio. Bang Bang é um marco do cinema marginal, entre outras coisas, porque é urbano. É quando o cinema brasileiro, que, até então, estava lá no sertão, num outro tipo de estética, passa a explorar a cidade”, explica.
Reverências a Tonacci foram registradas sem economia também pelo jornalista e diretor Jairo Ferreira, no livro Cinema de Invenção (Azougue Editorial). Ao descrever o longa BláBláBlá, Ferreira chega a compará-lo ao célebre Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, e O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla. "Um esplendor da forma, um vulcão de criatividade", elogia o jornalista.