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Morre, aos 72, o cineasta Andrea Tonacci

Referência do cinema marginal, diretor italiano radicado no Brasil rodou em BH 45 anos atrás sua obra mais famosa, marco do cinema marginal: Bang Bang

Cecília Emiliana
- Foto: Reprodução internet
Expoente do chamado cinema marginal, o diretor italiano Andrea Tonacci faleceu nesta sexta-feira (16), em São Paulo. Vítima de um câncer de pâncreas, ele tinha 72 anos, 61 deles vividos no Brasil.

O trabalho do cineasta surge no fim dos anos 1970, sem temor à censura na época estabelecida pela ditadura militar, e como contraponto ao cinema novo - que tem no baiano Glauber Rocha seu representante mais conhecido. Tonacci - ao lado de Júllio Bressane, Rogerio Sganzerla e outros adeptos do cinema marginal - surge como fundador de uma arte crítica  ao elitismo da vertente de Rocha, que considerava ‘aburguesada’, longe do contato com a realidade brasileira.

O artista que nasceu em Roma em 1944, mas migrou para o Brasil aos 9 anos, estava prestes a concluir o curso de engenharia e arquitetura quando decidiu largar as exatas para se dedicar à sétima arte.

Belo Horizonte é o cenário de sua obra mais famosa: Bang Bang (1971), filme em que o ator Paulo César Pereio interpreta um neurótico envolvido em bizarras situações, que incluem do enfrentamento de bandidos ao cumprimento do ritual higiene vestindo uma máscara de macaco. O longa chegou a ser exibido em Cannes.

Cena mais famosa do longa Bang Bang, marco do cinema nacional rodado em BH - Foto: Youtube/Reprodução
Destaca-se ainda em sua filmografia o media-metragem Blablablá (1968), com Paulo Gracindo; e, mais recentemente, o premiado Serras da Desordem (2006). A produção mostra o massacre da tribo Awá-Guajá nos anos 70 na Amazônia por meio da história de Carapirú, índio que sobreviveu à tragédia.  Em novembro de 2015, o filme foi eleito pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. O trabalho inaugural do italiano é um curta-metragem: Olho por Olho, rodado em 1965 em São Paulo.

“Foi um cara que se manteve íntegro.
Tinha compromisso só com a sua arte, mais nada. Fez tudo com muita experimentação e poesia. Sua técnica estava muito mais no olhar e na formação. Foi o primeiro, por exemplo, a editar vídeo sem se preocupar com o formato. Além de tudo, era uma pessoa muito generosa no trabalho”, descreve a diretora Mineira Patrícia Moran, que é também coordenadora do Programa de Pós-graduação em Meios e Processos Audiovisuais da USP .

Em 1995, Patrícia dirigiu um documentário sobre Bang Bang, que considera uma das maiores referências do cinema nacional. Filmado em BH, Detonacci foi, segundo a mineira, uma homenagem feita ao cineasta. “Filmamos aqui em BH e um pedaço no Rio. Bang Bang é um marco do cinema marginal, entre outras coisas, porque é urbano. É quando o cinema brasileiro, que, até então, estava lá no sertão, num outro tipo de estética, passa a explorar a cidade”, explica.

Reverências a Tonacci foram registradas sem economia também pelo jornalista e diretor Jairo Ferreira, no livro Cinema de Invenção (Azougue Editorial). Ao descrever o longa BláBláBlá, Ferreira chega a compará-lo ao célebre Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, e O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla. "Um esplendor da forma, um vulcão de criatividade", elogia o jornalista.
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