A produção – que marca a estreia do roteirista Newton Canitto na direção de um longa-metragem – faz uma releitura bem-humorada da fábula infantil A cigarra e a formiga, do francês La Fontaine. O conto fala do valor do esforço e do trabalho e narra a saga de uma cigarra que canta durante o verão, enquanto a formiga trabalha acumulando provisões em seu formigueiro.
“Essa fábula é muito louca e desvaloriza quem canta, como se fosse algo menor.
Por isso, nada mais adequado do que ter o intérprete de Sandra Rosa Madalena como a cigarra. Na história, João (Norival Rizzo) é um operário aposentado à beira da depressão que odeia o Sidney Magal, “aquele rebolador televisivo”. Até que um belo dia Magal aparece para ele como uma visão e começa a ensinar ao formiga João “o que é que a cigarra tem”. O protagonista, então, aprende a curtir a vida, reconquista sua mulher Mary (Imara Reis) e ajuda os filhos Sérgio (Nicolas Trevijano) e Sandra (Mel Lisboa).
Interpretar a si próprio não é novidade para Sidney Magal. Já foi protagonista no filme Amante latino (1970) e fez uma ponta em Jean Charles (2009). O cantor recorda que o diretor queria alguém para o filme com o temperamento e o jeito de ser bem alegre e alto-astral de Magal. “Como o longa tem essa coisa de passar uma mensagem positiva e otimista para as pessoas através do meu personagem, que é um cara que vai tentar dar uma guinada na vida do João, o Canitto achou que eu tinha tudo a ver. O Sidney Magal é desse jeito mesmo, esse cara performático, passional. Mas eu não sou assim na vida real. Ou você acha que eu chego na padaria com uma rosa vermelha na boca e faço uma pose toda sensual na hora de pedir um pão?” (risos), brinca.
Mesmo sendo um showman no palco, o cantor revela que não imaginava que sua veia de ator iria render tanto. O primeiro convite para a TV surgiu em 1991, quando Jayme Monjardim o chamou para participar da novela A história de Ana Raio e Zé Trovão, na extinta Rede Manchete.
A partir dali, a carreira deslanchou. Trabalhou ao lado de Bibi Ferreira, Miguel Falabella, Bruno Barreto e chegou a receber elogio da exigente crítica teatral Bárbara Heliodora. “Aí comecei a ver que realmente era capaz de fazer muitas coisas. Trabalhei com diretores de primeira, fiz quatro novelas, mais musicais e, recentemente, me aventurei na dublagem, o que tem sido bem interessante também”, pontua.
CINEBIOGRAFIA Uma parte importante da vida do artista vai para o cinema no ano que vem, outro projeto para celebrar as cinco décadas de trajetória artística.
O longa está em fase de produção e o elenco ainda não foi escolhido. Mas o cantor tem o seu preferido para encarná-lo na telona: Mateus Solano. “Ele é camaleão, um cara supertalentoso e que tem o meu espírito.” Enquanto o filme não sai, o que não falta é trabalho. “Vamos ter muita coisa pra celebrar esses 50 anos. Show e DVD com músicas inéditas, livro com bastidores e histórias curiosas, e vamos continuar divulgando Magal e os formigas”, comemora.
Três perguntas para...
Newton Cannito, diretor e roteirista
Por que a escolha de Magal?
Ele tem uma energia, uma alegria tão grande que irradia. É uma festa constante. Quando comecei a fazer o filme, já pensava em ter algum cantor de música popular. A minha irmã lembrou o Magal, porque lá em casa a gente sempre gostou muito dele. E tudo deu certo porque, além de ser um ótimo músico, ele atua. Sem contar que como ele vem de uma família de militares, sempre foi considerado a “cigarra da família”. Tinha tudo a ver.
Você já fez roteiro para novelas, filmes e dirigiu alguns trabalhos. Mas como é estrear na direção de um longa-metragem?
Não é uma tarefa fácil. A gente tem que aceitar as restrições de orçamento e outras limitações. Então, o tempo todo tem que ter criatividade. Mas é muito gostoso. E quis imprimir a comédia não só na atuação dos atores, mas na direção, na decupagem. Tem alguns exercícios quando dirijo que dão um tom cômico às cenas.
O filme é inspirado na sua experiência de vida. Como foi levar isso para o cinema e compartilhar com várias pessoas?
O João é inspirado no meu pai. Aquele cara viciado em trabalho, que se aposenta e não sabe o que fazer da vida. Fica sem sentido e passa a jogar na loteria para ver se muda de vida. O que eu fiz foi pegar um carma familiar e transmutar em uma fábula engraçada, criando uma solução imaginária. E também foi uma maneira de melhorar minha relação com meu pai e aceitá-lo. Ele sempre foi um grande cara, mas, mesmo assim, eu queria transformar alguns aspectos dele que ainda tinham em mim. Te digo que foi até uma cura pra mim, ajudou a resolver a minha própria relação com ele, apesar de papai não estar mais vivo..