No dia 15 de janeiro de 2009, o mundo ficou estarrecido diante dos noticiários graças ao feito de um homem: Chesley Sullenberger.
Quase oito anos depois, o fato é revivido no filme Sully: O herói do Rio Hudson, que chega hoje aos cinemas com Tom Hanks no papel principal.
Grandes desastres reais costumam render bons roteiros para Hollywood. Filmes como Titanic (1998), Vivos (1993) e O impossível (2011) contam sobre o naufrágio no Atlântico Norte, a queda de um avião nos Andes e o tsunami na Ásia, respectivamente. Todos eles se valem do longo intervalo de tempo entre a catástrofe e o resgate dos sobreviventes, para mostrar o drama dos envolvidos e construir a narrativa.
No caso de Sully, o desafio foi diferente. Primeiro porque, como é sabido por todos, a tragédia foi evitada. Além disso, o episódio compreendido entre a decolagem no aeroporto de La Guardia, em Nova York, e o pouso forçado no Hudson durou pouco mais de três minutos e a tripulação foi rapidamente resgatada pelos bombeiros e policiais da metrópole e da vizinha Nova Jersey.
Sendo assim, como fazer um bom filme com mais de uma hora e meia de duração sobre um episódio tão breve? O diretor Clint Eastwood conseguiu. Com roteiro de Todd Komarnicki, baseado no livro Highest duty, escrito pelo próprio capitão Sullenberger, o ponto central da trama não é a manobra do piloto em si, mas a investigação movida pelo conselho de segurança aérea local.
O heroísmo de Sully, imediatamente reconhecido pela mídia e pela população, é colocado em xeque pelos agentes e peritos que apontam uma falha na conduta do piloto ao pousar no rio.
DEPOIMENTOS
A história contada no longa se passa nos dias imediatamente posteriores ao “quase acidente’’, quando Sully e seu co-piloto Jeff Skiles (Aaron Eckhart) têm que prestar depoimentos às autoridades. Hospedado em Nova York, o personagem de Tom Hanks vai convivendo, simultaneamente, com o carinho e a devoção da população nas ruas e a frieza hostil dos agentes. Além disso, ele ainda tenta superar em sua mente o trauma do que havia ocorrido e se convencer de que fez a coisa certa.
Pesadelos, visões do avião caindo, além de diálogos emocionados por telefone com sua esposa, que ainda não pôde encontrá-lo depois do ocorrido, vão atordoando o piloto, que já tinha mais de 40 anos dedicados com muito amor à profissão. Reminiscências de sua formação também fazem parte de seu processo de revisão do episódio.
Quem espera pelas cenas de ação mostrando o que ocorreu com a aeronave não se decepciona. Todo o processo foi remontado no filme. Com um show de efeitos especiais, decolagem, pane nos motores, momentos de tensão, aterrissagem na água, drama e resgate dos passageiros são mostrados de maneira bem equilibrada, levando em conta a experiência específica de vários dos passageiros que deram testemunhos para o livro e para o filme, sem nenhum tipo de sensacionalismo ou exagero.
ATITUDE
Com direito ao reconhecido talento de Tom Hanks, o filme é mais do que uma bela homenagem ao piloto, tratado como herói pelos norte-americanos. O longa mostra como Sully é admirado não só pelo seu ato corajoso, mas pela atitude que adotou de dividir o sucesso da manobra com toda sua tripulação. Além disso, a história traz ainda uma interessante – e oportuna – reflexão sobre os limites entre a técnica e a sensibilidade humana.
Sully estreou em 9 de setembro nos Estados Unidos, onde já arrecadou quase US$ 125 milhões, ocupando a 20ª posição no ranking de bilheterias do país em 2016. No Brasil, a estreia seria em 1º de dezembro, mas acabou adiada pela coincidência da tragédia com o avião que levava a Chapecoense para a Colômbia dois dias antes. O desastre matou 71 pessoas, entre jogadores, membros de comissão técnica, dirigentes, jornalistas e tripulantes..