Este ano vem sendo tão difícil para o povo brasileiro que o ator Caio Blat até se sente culpado. “Cara, para mim, está maravilhoso. Um ano cheio de realizações e reconhecimento”, diz. Hoje, estreia o longa BR 716, o grande vencedor do Festival de Gramado, em agosto. Caio Blat interpreta o jovem Domingos – Domingos Oliveira, o próprio diretor do filme.
“Cara, foi uma experiência incrível. Conheci o Domingos através da Maria (sua mulher), contaminado pelo olhar dela. A Maria ama o Domingos, tem profunda gratidão por tudo o que ele fez por ela. Na verdade, ele incorporou a Maria como atriz, ela fez um documentário sobre ele. No processo, Maria cresceu muito como artista, como pessoa. Domingos é movido a sentimento. Vive num estado de amor, cercado de gente que retribui sua generosidade. Acho que ele é único. Domingos é autor da própria vida. Transformou sua biografia em obra de arte. Não são muitos os que conseguem isso”, diz o ator.
saiba mais
'Conto de verão', de Domingos de Oliveira, chega pela primeira vez a BH
Sophie Charlotte apresenta seu filho Otto no 'Programa do Jô'
Caio Blat é contratado por emissora do Reino Unido para série de oito episódios
'Os dias eram assim' chega ao fim sem surpreender
'Os dias eram assim' estreia com nudez de Sophie Charlotte
SUBURBANA
O ator destaca os planos descontínuos, a memória inventada de BR 716. “Acho genial essa liberdade que ele se concede. A personagem da Sophie (Charlotte) é pura invenção. Uma suburbana que se constrói numa imagem de glamour. Isso é a essência de Domingos. Ao mesmo tempo, dentro do grupo, essa mulher idealizada é a que vai partir para a militância política num momento em que a ditadura está baixando a lenha”, observa o ator.
O Brasil inteiro num apartamento. Não mudou tanto assim. Caio Blat acha que, 50 anos depois, uma outra juventude está vivendo em crise, tentando se afirmar, quem sabe mudar o país. Preocupado, sente em toda a parte o desejo de manipular: “As coisas não estão sendo discutidas como deveriam. Do patrocínio à administração pública, está tudo muito emocional.”
Como é, para um ator, ser Domingos de Oliveira? Como dar voz a Domingos? “Não foi preciso pensar nesses termos. Ele se colocou no texto, e o texto me deu a chave. A cena me pedia um tom, foi só entregar”, explica Caio.
BR 716 levou vários prêmios na 44ª edição do Festival de Cinema de Gramado, em agosto: melhor filme nacional, diretor, atriz coadjuvante (Glauce Guima) e trilha, também assinada por Oliveira.
TV Outro motivo de comemoração para o ator em 2016 foi a novela Liberdade, liberdade, exibida pela Rede Globo. “Só a adesão do público às cenas de sexo gay já foi demais. A gente fez sem alarde. Não criou expectativa – vai ter, não vai? O Vinicius (Coimbra) ousou, fazia sentido dentro da dramaturgia. Foi maravilhoso”, afirma.
Neste finalzinho de ano, Blat se prepara para outra grande experiência. Ele, a mulher, a atriz Maria Ribeiro, e os filhos vão a Londres. “Fui convidado, o único latino-americano, para fazer uma série da BBC, McMafia. Baseia-se num livro investigativo da criminalidade em tempos de globalização. A máfia como organização multinacional. Vou filmar em Londres e na Croácia, em inglês”, conta, entusiasmado.
Simultaneamente, Caio vai apresentar na Alemanha e em Portugal a peça Comédia latino-americana, que recentemente encerrou temporada em São Paulo. “Foi outra coisa enriquecedora. Felipe (Hirsch, o diretor) nos fez investigar muitos autores latinos para chegar ao texto final. E nem era um texto final, porque ele a toda hora estava mudando. Acho que os europeus vão ficar loucos”, revela. (Estadão Conteúdo)
BR 716
Direção: Domingos Oliveira. Com: Caio Blat, Sophie Charlotte e Maria Ribeiro. Em cartaz no Cine 104 (Praça da Estação, 104, Centro), às 17h, 19h e 20h40 (exceto asexta)
ELE NÃO PARA
Aos 80 anos, Domingos Oliveira (foto) enfrenta o mal de Parkinson. Mas continua na ativa. Tanto é que BR 716 é seu 18º longa. Em quase seis décadas de carreira, esse carioca fez de tudo: escreveu, criou roteiros, atuou e dirigiu. Trabalhou no cinema, teatro e televisão. Escreveu 26 peças e dirigiu 57, publicou cinco livros e participou de 50 telefilmes. Um de seus longas de destaque é Todas as mulheres do mundo (1967), estrelado por Leila Diniz, com quem foi casado.