Admiradora ou obcecada? Testemunha ou suspeita? Esses questionamentos em torno da personagem Rachel Watson são a chave publicitária para promover a versão cinematográfica do best-seller A garota no trem, que chega hoje a 14 salas da Grande BH.
Escrito pela britânica Paula Hawkins e lançado em 2015, o livro liderou listas de mais vendidos valendo-se da velha fórmula do suspense em torno de um crime, mas trazendo questões bem atuais a respeito da violência física e psicológica infligida às mulheres.
O longa segue fielmente o livro. A história é contada pela própria Rachel Watson (Emily Blunt), afundada no sofrimento causado pelo divórcio e pelo alcoolismo. Morando de favor na casa de uma amiga, a personagem viaja diariamente de trem entre o subúrbio e Londres. Durante o percurso, observa a casa do ex-marido Tom (Justin Theroux), novamente casado, enquanto remói culpas, remorsos e dúvidas.
Confira os horários de exibição de A garota do trem nos cinemas da Região Metropolitana de BH
Nessas viagens, Rachel se depara com a residência da jovem Megan (Haley Bennet), que parece viver uma paixão ardente. A intimidade da moça está exposta e a observadora começa a imaginar coisas sobre ela. Watson projeta na desconhecida o seu ideal de relacionamento, que não conseguira construir com Tom devido ao abuso de álcool e à incapacidade de engravidar.
Entre flashbacks e declarações da personagem, a imagem de Rachel é construída como uma pessoa complicada e afundada em problemas. Nesse processo narrativo, há um terceiro elemento: Anna (Rebecca Fergunson), mulher de Tom e mãe do filho dele, que odeia a ex do marido.
O mistério começa no dia em que Rachel, em seu trajeto cotidiano, observa algo estranho na casa de Megan, babá da família de Tom. Dias depois, a jovem desaparece. O crime parece envolver todos os personagens, inclusive a própria voyeur, que se torna suspeita depois de uma noite de bebedeiras da qual pouco se lembra.
MEMÓRIAS
O mistério vai sendo desvendado a partir da reconstrução das memórias de Rachel e das revelações sobre Megan, que passa a assumir a função de narradora sob seu próprio ponto de vista, assim como no livro.
Embora no cinema a estrutura fique um pouco confusa com tantos flashbacks e alternâncias de narração, a história tem todos os elementos de um bom thriller. Prende a atenção, faz com que o espectador se envolva na solução do crime.
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Fragilizada, Rachel desconfia da própria sanidade diante da incapacidade de cumprir padrões sociais. Paralelamente à solução do mistério, ela se redescobre como mulher, aprendendo consigo mesma a se fortalecer neste mundo complicado.
ABUSO
Megan, o centro da trama e vítima de feminicídio, enfrenta traumas decorrentes de relacionamentos abusivos e se sente culpada por sua vida sexual. Entre as duas está Anna, a mãe de família supostamente perfeita e segura, que começou a se envolver com Tom enquanto ele ainda era casado.
Além do mistério em torno de um assassinato, A garota do trem trata de violência psicológica. Mulheres sofrem agressões invisíveis, quase institucionalizadas, e às vezes capazes de consequências tão graves quanto a morte. Esse filme de suspense não se limita ao crime. Também instiga o público a repensar a história de horror que acontece todos os dias ao redor de todos nós.