A narrativa se passa no final dos anos 1970 na Colônia Elena (vilarejo fictício), quando o capitão Tomas Kóblic se retira da carreira militar, buscando refúgio junto a um amigo, que lhe oferece trabalho como piloto de monomotor responsável pela pulverização da lavoura. A imagem de vilarejo pacato é construída tanto na fotografia bucólica quanto nos cortes que determinam o ritmo narrativo. Mas o autor apresenta que o território das turbulências é outro. Onde há interações entre os sujeitos haverá decisões difíceis a serem tomadas. Se o isolamento foi uma maneira de fugir dos dramas de consciência gerados por sua atuação na armada argentina, Kóblic será muitíssimo exigido na Colônia Elena. Os voos da morte, dos quais participou o personagem, são uma lembrança a atormentá-lo, mas a relação que estabelece com as pessoas locais testará Kóblic em diferentes situações. Nesse aspecto, a qualidade dramatúrgica de Darín dá densidade a Kóblic, não sendo possível chegar a conclusões fechadas sobre a personalidade do piloto.
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Borensztein apresenta cenas ordinárias de maneira plástica. Ganham destaque os galhos pelados das árvores no outono, os cães abandonados que perambulam pela colônia. A relação dos personagens com cães nos faz lembrar do mexicano Amores brutos (2000), do diretor Alejandro Iñárritu. A fotografia remete o espectador à temporalidade da Colônia Elena, um local sem grandes acontecimentos, em que as pessoas aparentemente existem sem grandes pretensões. A narrativa é uma maneira de dizer que, mesmo diante de situações extremas, como a ditadura militar, a vida ordinária segue e pode ser surpreendente. Diante da falta de liberdade, os cidadãos vivem numa dimensão suspensa em que não se pode viver na plenitude, mas que a visceralidade das paixões floresce.
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