A narrativa se passa no final dos anos 1970 na Colônia Elena (vilarejo fictício), quando o capitão Tomas Kóblic se retira da carreira militar, buscando refúgio junto a um amigo, que lhe oferece trabalho como piloto de monomotor responsável pela pulverização da lavoura. A imagem de vilarejo pacato é construída tanto na fotografia bucólica quanto nos cortes que determinam o ritmo narrativo. Mas o autor apresenta que o território das turbulências é outro. Onde há interações entre os sujeitos haverá decisões difíceis a serem tomadas.
Perto de completar 60 anos em janeiro, Darín não se distancia do papel de galã. Ao contrário, confirma que, além do enorme talento, a beleza joga a seu favor mesmo com o passar dos anos. Parte importante da trama se desenrola em virtude da paixão de Kóblic por Nancy, personagem vivida por Inma Cuesta. Bela mulher de 30 e poucos anos, ela trabalha no mercado do vilarejo e vê os dias passarem sem qualquer perspectiva. Ela é resiliente ao destino até a chegada do enigmático Kóblic. Aliás, o piloto desperta não só a atenção de Nancy, como a ira dos homens. Kóblic é uma construção complexa: um homem tomado por exames de consciência e extremamente vulnerável, mas que teve papel decisivo na engrenagem de tortura da ditadura argentina.
Borensztein apresenta cenas ordinárias de maneira plástica. Ganham destaque os galhos pelados das árvores no outono, os cães abandonados que perambulam pela colônia. A relação dos personagens com cães nos faz lembrar do mexicano Amores brutos (2000), do diretor Alejandro Iñárritu. A fotografia remete o espectador à temporalidade da Colônia Elena, um local sem grandes acontecimentos, em que as pessoas aparentemente existem sem grandes pretensões. A narrativa é uma maneira de dizer que, mesmo diante de situações extremas, como a ditadura militar, a vida ordinária segue e pode ser surpreendente.
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