A história de que as cegonhas são responsáveis pela chegada dos bebês é uma das mais universais mitologias contemporâneas. Usada por milhões de pais e mães embaraçados com a indesejada pergunta infantil, a lenda é também o gancho para a animação que estreia nesta quinta (22) nos cinemas, contando não apenas de onde vêm os bebês, mas para onde vamos e como nos enganamos ao longa da vida adulta.
Sob produção do grupo Warner, Cegonhas – A história que não te contaram é mais um longa feito para a criançada, mas com grandes questões por trás do enredo. As relações de trabalho e as estruturas familiares são colocadas em xeque através de personagens representados por estereótipos facilmente identificáveis em nosso cotidiano adulto.
Quem pretende levar os pequenos para assistir, mas ainda não quer que os filhos saibam a respeito da real origem da vida, não precisa se preocupar. Na história do filme, as cegonhas são realmente as responsáveis por isso. Ou pelo menos deveriam ser, porém, por questões mercadológicas, resolveram interromper o serviço para se dedicar a outros empreendimentos.
A aventura começa na corporação comandada e operada pelas aves, a Lojadaesquina.com. Na empresa, as cegonhas realizam todo tipo de e-commerce, se valendo da expertise conquistada durante anos entregando bebês pelos lares de todo o mundo. O personagem principal é o dedicado funcionário Júnior, dublado na versão brasileira pelo ator Klebber Toledo, que está prestes a ser promovido à chefia por seu brilhante desempenho.
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Para assumir o novo cargo de seu truculento e intimidador superior, ele recebe a missão de demitir a única funcionária humana da firma: a órfã Tulipa, que acaba de completar 18 anos, sem nunca ter sido entregue aos pais por causa de um incidente que resultou no fim das atividades envolvendo bebês.
O conflito enfrentado por Júnior e Tulipa na fábrica, localizada acima das nuvens, acaba se entrelaçando com a vida dos Jardim, típica família de classe média, em que o pai e a mãe vivem atribulados com o próprio negócio de correção imobiliária a ponto de não ter tempo para o único filho, Nate. Na solidão de seus menos de 8 anos, o jovem deseja um irmão para acompanhá-lo nas brincadeiras e sua vontade acaba envolvendo a cegonha e a garota.
OBSESSÃO De forma sutil e bem-humorada, o filme mostra como estamos presos às amarras que a vida adulta nos impõe. O cegonha Júnior, tão bom de serviço quanto solitário, atropela a própria vida para se tornar chefe, sem nem saber por que quer assumir a nova função. A obsessão pelo cargo de chefia, aliás, é muito bem ironizada no desenho em diversos momentos, bem como as estruturas empresariais, cheias de puxa-sacos e superconvenções para apresentar novidades tecnológicas nem tão úteis assim.
O humor crítico de Cegonhas é feito com tal simplicidade e precisão, dentro da trama infantil, que mesmo alguns clichês são capazes de fazer rir quem assiste. Chavões como “vocês vão piscar e eu estarei na faculdade”, geralmente ditos pelos pais, são usados pelo pequeno Nate Jardim para chamar a atenção dos genitores para o exagero deles em relação ao trabalho.
O conceito de família, alvo de tantos debates, também é explorado no filme. De várias maneiras, os personagens questionam a estrutura-padrão e a própria trama funciona como uma metáfora para questionar se é realmente necessário um pai homem e uma mãe mulher para conceber um bebê e formar um núcleo familiar.
Com piadas igualmente adequadas para crianças e adultos, a história escrita e dirigida por Nicholas Stoller, mesmo autor do besteirol Vizinhos, mostra que aquilo que desejamos como família se constrói através do afeto e do envolvimento. Itens que costumamos deixar perder nas rotinas de trabalho que aceitamos, ludibriados pelos mitos impostos por um sistema corporativo. Tal qual um pai que inventa a história da cegonha para uma criança.