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Sigourney Weaver interpreta avó apavorante em longa

Atriz se prepara para voltar a desempenhar o papel de Ripley, 'a mocinha de ação' de Alien, que a consagrou

Agência Globo
A personagem atende pela alcunha de avó e nada mais.
É a primeira da carreira de Sigourney Weaver, de 66 anos e uma coleção memorável de mulheres duronas no cinema, da Ripley da franquia Alien à Grace de Avatar, passando pela Dian de Nas montanhas dos gorilas, uma de suas três indicações ao Oscar. A contida avó inglesa, um dos vértices de Sete minutos depois da meia-noite, cuja estreia mundial ocorreu no Festival de Toronto, foi o primeiro papel escalado quando o diretor catalão Juan Antonio Bayona iniciou sua adaptação do livro homônimo do escritor anglo-americano Patrick Ness.

A partir de 2017 nos cinemas brasileiros, o filme mescla fantasia com o drama sofrido pelo adolescente Colin. Devastado pela doença terminal da mãe, interpretada por Felicity Jones, o menino vivido por Lewis MacDougall, de 14 anos, encontra num monstro, na voz de Liam Neeson, o guia improvável para enfrentar um futuro cinza cujo caminho passa pela convivência com uma avó que mete tanto medo quanto, bem, uma típica criação de Sigourney Weaver.

“Tenho cá pra mim que esse foi justamente o lampejo de Bayona para me convidar a viver uma mulher por quem é muito difícil ter alguma compaixão, especialmente no início. Mas tudo bem, eu o entendo. Sabe que, durante as filmagens, na Inglaterra, Ness me pegou pelo braço e disse: ‘A avó, Sigourney, sou eu?’ Aquilo me ajudou muito a investir na transformação de uma mulher cheia de atitude, que julga os parentes, em alguém um pouco mais humana”, diz a atriz de 1,82m, gestos comedidos, voz austera e olhar afiado.

O título original do filme, em inglês (A monster calls), é algo como “o chamado do monstro”, uma referência tanto ao ser fantástico criado pela imaginação de Colin quanto à brusca transformação do menino em quase adulto. Incentivado pelo diretor, o mergulho dos atores de Sete minutos depois da meia-noite na escuridão foi tão intenso e assustador quanto o de alguns de seus filmes de ficção-científica, diz Sigourney, que conta partir de emoções reais para encontrar as dores e alegrias das mulheres que vive na tela.

PERDAS “Conversamos muito sobre isso com Lewis, que tinha a difícil tarefa de se conectar com o que seria a perda da mãe. Lembrei de meu querido amigo Maurice Sendak (1928-2012), que escreveu algumas coisas bem duras para jovens em seus livros.
Ele me dizia que as crianças pensam na morte o tempo todo e que nós, adultos, precisamos aceitar o fato e lidar com isso da melhor forma possível”, afirma, para sintetizar: “A gente esquece que é preciso encarar a escuridão em nossas vidas, seja na forma de um alienígena ameaçador ou na da perda de uma pessoa verdadeiramente importante.”

Seja pelas conversas com Sigourney, seja pela direção de Bayona, realizador de O orfanato (2007) e O impossível (2012), Lewis foi um dos primeiros atores a serem lembrados na corrida pelo Oscar, uma surpresa neste começo de temporada de prêmios em Hollywood. A inglesa Felicity Jones foi igualmente elogiada por não cair na tentação de reduzir sua personagem à vítima de um destino cruel, figura típica de melodramas.

“Falamos muito que o filme não deveria jamais ser sobre a morte, e sim sobre as possibilidades da vida. E lá estava eu, de braços dados com Sigourney, uma real pioneira, que reinventou o papel das atrizes em Hollywood”, conta Felicity, lembrando o convívio durante as filmagens nas cercanias de Manchester, na Inglaterra, e nas visitas conjuntas a hospitais especializados em tratamento de pacientes com câncer. “Ela criou a mocinha de ação, com Ripley.”

Lá se vão 37 anos desde que a tenente Ripley surgiu pela primeira vez em Alien, de Ridley Scott. Agora, Sigourney se prepara para voltar à franquia numa nova sequência, dirigida pelo sul-africano Neil Blomkamp, com estreia prevista para 2017.

“Ripley me deu muita sorte. Ela sempre me pareceu uma personagem interessantíssima, original pacas, e foi minha primeira protagonista no cinema. Voltar a ela a esta altura, quando tenho um domínio maior da câmera e a conheço mais profundamente, me faz coçar as mãos de ansiedade. E posso adiantar que o roteiro é ótimo!”, afirma.

Depois disso, a atriz volta a trabalhar com James Cameron (que a dirigiu em Aliens, o resgate há exatos 30 anos). Vai fazer quatro sequências de Avatar. Enquanto isso, além de estrelar Sete minutos depois da meia-noite, ela também aparece em Toronto no novo filme do produtor de Aliens, Walter Hill, o thriller barra-pesada (Re)Assignment, com Michelle Rodriguez. E ri de si mesma ao lembrar que não queria de jeito algum segurar armas em Aliens.

ARMAS A resistência se dá por conta de sua defesa radical do controle do porte de armas nos EUA. A atriz – que viveu personagem inspirada em Hillary Clinton na série televisiva Political animals e participou neste ano da convenção do Patido Democrata que escolheu a ex- secretária de Estado americana à sucessão de Barack Obama – jamais se incomodou em expor posições políticas: “De lá para cá, a coisa só piorou, e a sensação é de que não sabemos como lidar com o problema das armas nos EUA. Não vivemos mais em 1600, quando as pessoas precisavam de rifles para defender suas colônias.”

De Toronto, Sigourney segue para a Espanha, onde é homenageada pelo conjunto da obra no Festival de San Sebastián (16/9 a 24/9).
E, com a honraria, vêm, inevitavelmente, as perguntas sobre seus quase 40 anos de cinema, iniciados com uma ponta no set de Noivo neurótico, noiva nervosa (1977), de Woody Allen.

“Não sei exatamente o que dizer. Que é uma maravilha ter durado tanto? Que é uma espécie de círculo completo, já que meu primeiro festival foi justamente San Sebastián, em 1979, por Alien, o oitavo passageiro? Ainda guardo uma foto minha passando por baixo de um arco formado pelas espadas dos soldados bascos. Mal sabia que registrava, ali, o começo de minha história no cinema.” (Eduardo Graça, Agência Globo)

” Ripley (seu papel em Alien) me deu muita sorte. Ela sempre me pareceu uma personagem interessantíssima, original pacas, e foi minha primeira protagonista no cinema. Voltar a ela a essa altura, quando tenho um domínio maior da câmera e a conheço mais profundamente, me faz coçar as mãos de ansiedade”

“A sensação é de que não sabemos como lidar com o problema das armas nos EUA. Não vivemos mais em 1600, quando  as pessoas precisavam de rifles para defender suas colônias”

Sigourney Weaver, atriz
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