Boa-praça, Ventania é o autêntico ''virador''. Já foi ambulante de sinal, animador de festas infantis. Negro e pobre, faz qualquer negócio para pagar as contas. Um dia resolve virar empresário de futebol. Seu cliente é Glanderson, um jovem igualmente negro e pobre.
Correndo atrás, novo filme do paulista Jeferson De (Bróder e O amuleto), conta essas duas histórias de vida. Ventania é homem feito; Glanderson, a despeito de uma deficiência física (não tem os dedos menores do pé direito), é bom de bola. Quer se tornar o novo Neymar.
Os dois vivem numa comunidade que pode ser a de qualquer grande centro. Mas que acabou se tornando Muriaé, na Zona da Mata.
Correndo atrás é inspirado no livro Vai na bola, Glanderson, do humorista Hélio de La Peña. O casseta assina o roteiro com Jeferson, e também faz uma participação no filme interpretando Berinjela, amigo de infância de Ventania.
''É um filme sobre a dificuldade do homem negro e pobre se situar na sociedade brasileira. Mas ele faz isso com alegria, e foi por isso que topei fazer o filme. Acho que ninguém consegue fazer uma crítica tão profunda como a comédia'', comenta Jeferson, que vê no personagem Ventania uma espécie de Dom Quixote.
ESTEREÓTIPO
Um dos mais ativos realizadores negros da atualidade, ele busca, em seu cinema, eliminar os estereótipos que costumam associar o negro à marginalidade. Em 2000, idealizou o chamado Dogma Feijoada, manifesto que propunha uma produção feita por negros.
Correndo atrás, de acordo com Jeferson, é o seu filme com a maior equipe negra até então. ''É um filme que contempla a palavra diversidade não só na frente, mas sobretudo atrás das câmeras e em lugares-chave. Quanta mulher, quanta gente de pele escura, quanta gente diversa'', afirma.
Ailton Graça vive seu primeiro protagonista no cinema como Ventania. O papel de Glanderson coube a Juan Paiva, que na novela Totalmente demais foi filho de Graça. O elenco ainda conta com Juliana Alves, Lázaro Ramos, Tonico Pereira, Rocco Pitanga, Antônio Pitanga, entre outros. BNegão é o diretor musical do longa.
A comunidade onde os protagonistas vivem não é identificada no filme. ''Correndo atrás é um filme todo de rua.
Jeferson comenta que andou tanto pela cidade que conhece ''todas as quebradas, melhor do que os candidatos a prefeito e vereador''.
A previsão é de que Correndo atrás chegue aos cinemas no próximo ano. ''O momento (do lançamento) é sempre delicado. Às vezes você prepara com carinho uma estreia e lá vem um blockbuster americano.''
Seja como for, ele acredita que Correndo atrás dialoga com o Brasil de hoje. ''Nunca tivemos tantos jovens negros sendo mortos no país. O caso mais emblemático é o do Amarildo. A gente quis fazer uma comédia para mostrar a dureza de ser um homem negro no Brasil deste momento. E o filme mostra isso com alegria, com a possibilidade de viver a esperança de cada dia'', finaliza.
CHICA DA SILVA
Correndo atrás não é a única produção de Jeferson De a passar por Minas Gerais.