Pequeno segredo, de David Schurmann, desbancou Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, na corrida do Brasil pelo Oscar.
A coprodução com a Nova Zelândia foi escolhida por uma comissão de dez jurados nomeados pela Secretaria do Audiovisual para definir o representante brasileiro a tentar uma vaga na disputa do Oscar de filme estrangeiro.
A Academia de Hollywood anunciará os cinco indicados em 24 de janeiro. Pequeno segredo é inspirado na história da família Schurmann (David é um dos filhos dos velejadores Vilfredo e Heloísa Schurmann).
O filme amarra algumas histórias. A principal delas é sobre a garota Kat, que foi adotada pelos Schurmann após perder os pais.
O elenco mistura atores brasileiros e estrangeiros. Na parte nacional estão Julia Lemmertz, Marcelo Anthony e Maria Flor. Na internacional, destacam-se a irlandesa Fionnula Flanagan e o neozelandês Erroll Shand.
Schurmann, de 42 anos, diz que sua meta sempre foi o Oscar. Leia entrevista logo abaixo.
No Canadá, onde participa do Festival de Toronto, Mendonça Filho reagiu à não indicação de Aquarius com uma nota enviada por meio da assessoria de imprensa do filme, em que diz:
“Soube aqui no Festival de Toronto da decisão via Ministério da Cultura de não indicar Aquarius como candidato brasileiro ao Oscar.
O assunto foi um dos Trending Topics no Twitter na tarde de ontem, com avalanche de comentários, tanto dos que se revoltaram com a derrota do filme quanto dos que aplaudiram a escolha de outro candidato.
Segue a nota do cineasta pernambucano: “É bem possível que a decisão da comissão esteja em total sintonia com a realidade política do Brasil, ou seja, é coerente e já esperada. Para além de decisões institucionais via governo brasileiro, Aquarius tem conquistado internacionalmente um tipo raro de prestígio, e isso inclui distribuição comercial em mais de 60 países, enquanto já se aproxima dos 200 mil espectadores nos cinemas brasileiros, com o tipo de impacto popular também raro. Mais ainda, é um filme que já faz parte da cultura e desse tempo, num ano difícil no nosso país.
No final das contas, Aquarius é um filme sobre o Brasil, que está no filme da maneira mais honesta possível. Talvez seja exatamente esta honestidade que tenha feito de Aquarius um filme forte como agente cultural, social e produto da nossa indústria do entretenimento. Sonia está aqui do lado, poderosa como Clara. Ela manda beijos!”.
Nos últimos dias, a página do Facebook de Pequeno segredo dava sinais do crescimento da candidatura. Texto postado no sábado mostra as impressões do produtor Barrie Osborn, vencedor do Oscar por O senhor dos anéis, sobre o filme: “É de uma execução impressionante. Parabéns. Já não é mais um pequeno segredo, mas um filme que todos nós podemos comemorar”.
Três perguntas para...
David Schurmann
diretor de Pequeno segredo
1 - Pelas regras da Academia de Hollywood, os concorrerentes ao Oscar de filme estrangeiro devem estrear em seus países até 30/9. Vocês mudarão a estratégia de lançamento?
O filme sairá de modo restrito até o dia 30, para cumprir as regras e será nacionalmente distribuído em pelo menos 300 salas em novembro.
2 - Esperava que Pequeno segredo fosse conseguir a vaga?
Quando o filme estava nos primeiros cortes, fui ao Festival de Berlim para uma projeção para o mercado internacional. Disseram que era um filme para o Oscar. Aquilo começou a nos pegar, pois fizemos um filme brasileiro de qualidade internacional e que não é de nicho.
3 - Aquarius era seu principal concorrente?
Assisti a Aquarius em Cannes, ao lado do Kleber Mendonça Filho e da Sonia Braga. Quando vi o filme, vi que ele não fala bem com o Oscar, fala bem com Cannes. O Brasil, nos últimos anos, tem enviado filmes parecidos com Aquarius, que não necessariamente dialogam bem com o Oscar. O último que entrou, e que era diferente, foi Cidade de Deus, com quatro indicações. Acompanhando os filmes, claro que Aquarius tinha potencial, assim como Nise – O coração da loucura e Mais forte que o mundo. Mas, conhecendo nosso filme, acho que ele tem uma chance real..