“A única coisa que eu queria na vida é trabalhar e ter dignidade”, diz a baiana Elisângela, paciente do Hospital Juliano Moreira, em Salvador, retratada no documentário A loucura entre nós, que estreia hoje no Cine Belas Artes, em BH. Diretor de 'Se beber não case' volta com 'dramédia' sobre comércio de armas 'O roubo da taça' faz rir com história sobre o destino da Jules Rimet Conheça youtubers especializados em games que dominam hoje a internet Mostra em Tiradentes homenageia Nise da Silveira e discute a loucura Séries 'Justiça' e 'The night of' confirmam alto nível da teledramaturgia
Por trás de corredores e das grades da instituição psiquiátrica, pessoas e histórias revelam as fronteiras do que se considera loucura. Por meio de mulheres, principalmente, o documentário aborda as contradições da razão para nos fazer refletir sobre nossos próprios conflitos, desejos e erros.
Durante quatro anos, Fernanda Fontes Vareille, cineasta brasileira radicada na França, mergulhou nesse universo delicado ao se propor a uma espécie de imersão no manicômio baiano. “Convivemos intimamente com as pessoas internadas. Fazíamos as atividades que elas faziam, como artesanato, conversamos bastante. O clima de intimidade foi tão forte que acabou criando uma confiança muito grande”, destaca.
A ideia surgiu quando Fernanda ganhou um livro do psiquiatra Marcelo Veras, que dirigiu o Hospital Juliano Moreira. A obra deu origem ao filme. “Fiquei encantada com a maneira como ele conseguiu tratar os pacientes, com certa subjetividade. Decidi ir lá conhecer e fazer esse projeto”, revela.
Com cerca de 300 horas de material e histórias riquíssimas, não foi nada fácil editar o documentário, diz Fernanda. Durante a imersão, surgiu a ideia de focar mais nos pacientes do que nos profissionais de saúde e especialistas. “Importava muito mais saber quem eles eram e como viviam em vez do motivo de estarem ali. A doença é o de menos. A essência humana era o mais importante”, destaca.saiba mais
Quais os limites da sanidade? O que nos define como normais? É impossível responder a essas questões, acredita a baiana Fernanda. Para ela, é fundamental levar o espectador a questionar as próprias loucuras e normalidade.
“O que é loucura para você pode não ser para mim. No fundo, é como aquele ditado: de médico e louco, todo mundo tem um pouco. Também tenho as minhas loucuras. A gente deve aprender a conviver com elas”, afirma. Uma de suas preocupações foi escolher a terminologia adequada. Em vez de usar a palavra louco, Fernanda optou por pessoa em estado de sofrimento mental. “Até porque, não é um estado permanente”, justifica.
A loucura entre nós tem participado de festivais nacionais e estrangeiros, com boas críticas tanto da imprensa quanto de nomes ligados à psiquiatria brasileira. Os pacientes que participaram do documentário gostaram do filme, informa Fernanda. “A maioria ficou emocionada e se sentiu respeitada. A repercussão tem sido maravilhosa, percebo que o público está se sentido tocado. Por tudo isso, já valeu a pena contar essas histórias”, conclui a cineasta.
Na Itália
Também em cartaz em BH, a produção italiana Loucas de alegria, do diretor Paolo Virzi, mostra pacientes de instituições psiquiátricas e critica o uso de remédios para tratar frustrações cotidianas. Beatrice, rica e extravagante, não para de falar. Tímida e misteriosa, Donatella evita contato com o outro. Com personalidades opostas, as duas têm algo em comum: foram internadas no manicômio. As duas se tornam amigas e decidem fugir de lá para resolver uma questão do passado de Donatella.
Confira o trailer de 'A loucura entre nós'