Por trás de corredores e das grades da instituição psiquiátrica, pessoas e histórias revelam as fronteiras do que se considera loucura. Por meio de mulheres, principalmente, o documentário aborda as contradições da razão para nos fazer refletir sobre nossos próprios conflitos, desejos e erros.
Durante quatro anos, Fernanda Fontes Vareille, cineasta brasileira radicada na França, mergulhou nesse universo delicado ao se propor a uma espécie de imersão no manicômio baiano. “Convivemos intimamente com as pessoas internadas. Fazíamos as atividades que elas faziam, como artesanato, conversamos bastante. O clima de intimidade foi tão forte que acabou criando uma confiança muito grande”, destaca.
A ideia surgiu quando Fernanda ganhou um livro do psiquiatra Marcelo Veras, que dirigiu o Hospital Juliano Moreira. A obra deu origem ao filme. “Fiquei encantada com a maneira como ele conseguiu tratar os pacientes, com certa subjetividade. Decidi ir lá conhecer e fazer esse projeto”, revela.
Com cerca de 300 horas de material e histórias riquíssimas, não foi nada fácil editar o documentário, diz Fernanda.
REFLEXÃO
Quais os limites da sanidade? O que nos define como normais? É impossível responder a essas questões, acredita a baiana Fernanda. Para ela, é fundamental levar o espectador a questionar as próprias loucuras e normalidade.
“O que é loucura para você pode não ser para mim. No fundo, é como aquele ditado: de médico e louco, todo mundo tem um pouco. Também tenho as minhas loucuras. A gente deve aprender a conviver com elas”, afirma. Uma de suas preocupações foi escolher a terminologia adequada. Em vez de usar a palavra louco, Fernanda optou por pessoa em estado de sofrimento mental. “Até porque, não é um estado permanente”, justifica.
A loucura entre nós tem participado de festivais nacionais e estrangeiros, com boas críticas tanto da imprensa quanto de nomes ligados à psiquiatria brasileira. Os pacientes que participaram do documentário gostaram do filme, informa Fernanda. “A maioria ficou emocionada e se sentiu respeitada.
Na Itália
Também em cartaz em BH, a produção italiana Loucas de alegria, do diretor Paolo Virzi, mostra pacientes de instituições psiquiátricas e critica o uso de remédios para tratar frustrações cotidianas. Beatrice, rica e extravagante, não para de falar. Tímida e misteriosa, Donatella evita contato com o outro. Com personalidades opostas, as duas têm algo em comum: foram internadas no manicômio. As duas se tornam amigas e decidem fugir de lá para resolver uma questão do passado de Donatella.
Confira o trailer de 'A loucura entre nós'