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Documentário 'A loucura entre nós' questiona estigma de pacientes psiquiátricos

Rodado em manicômio baiano, filme de Fernanda Vareille, brasileira radicada na França, estreia nesta quinta-feira no Cine Belas Artes

Ana Clara Brant

- Foto: Gabriel Teixeira/divulgação

“A única coisa que eu queria na vida é trabalhar e ter dignidade”, diz a baiana Elisângela, paciente do Hospital Juliano Moreira, em Salvador, retratada no documentário A loucura entre nós, que estreia hoje no Cine Belas Artes, em BH.

Por trás de corredores e das grades da instituição psiquiátrica, pessoas e histórias revelam as fronteiras do que se considera loucura. Por meio de mulheres, principalmente, o documentário aborda as contradições da razão para nos fazer refletir sobre nossos próprios conflitos, desejos e erros.

Durante quatro anos, Fernanda Fontes Vareille, cineasta brasileira radicada na França, mergulhou nesse universo delicado ao se propor a uma espécie de imersão no manicômio baiano. “Convivemos intimamente com as pessoas internadas. Fazíamos as atividades que elas faziam, como artesanato, conversamos bastante. O clima de intimidade foi tão forte que acabou criando uma confiança muito grande”, destaca.

A ideia surgiu quando Fernanda ganhou um livro do psiquiatra Marcelo Veras, que dirigiu o Hospital Juliano Moreira. A obra deu origem ao filme. “Fiquei encantada com a maneira como ele conseguiu tratar os pacientes, com certa subjetividade. Decidi ir lá conhecer e fazer esse projeto”, revela.

Com cerca de 300 horas de material e histórias riquíssimas, não foi nada fácil editar o documentário, diz Fernanda.
Durante a imersão, surgiu a ideia de focar mais nos pacientes do que nos profissionais de saúde e especialistas. “Importava muito mais saber quem eles eram e como viviam em vez do motivo de estarem ali. A doença é o de menos. A essência humana era o mais importante”, destaca.

REFLEXÃO


Quais os limites da sanidade? O que nos define como normais? É impossível responder a essas questões, acredita a baiana Fernanda. Para ela, é fundamental levar o espectador a questionar as próprias loucuras e normalidade.

“O que é loucura para você pode não ser para mim. No fundo, é como aquele ditado: de médico e louco, todo mundo tem um pouco. Também tenho as minhas loucuras. A gente deve aprender a conviver com elas”, afirma. Uma de suas preocupações foi escolher a terminologia adequada. Em vez de usar a palavra louco, Fernanda optou por pessoa em estado de sofrimento mental. “Até porque, não é um estado permanente”, justifica.

A loucura entre nós tem participado de festivais nacionais e estrangeiros, com boas críticas tanto da imprensa quanto de nomes ligados à psiquiatria brasileira. Os pacientes que participaram do documentário gostaram do filme, informa Fernanda. “A maioria ficou emocionada e se sentiu respeitada.
A repercussão tem sido maravilhosa, percebo que o público está se sentido tocado. Por tudo isso, já valeu a pena contar essas histórias”, conclui a cineasta.

Na Itália

Também em cartaz em BH, a produção italiana Loucas de alegria, do diretor Paolo Virzi, mostra pacientes de instituições psiquiátricas e critica o uso de remédios para tratar frustrações cotidianas. Beatrice, rica e extravagante, não para de falar. Tímida e misteriosa, Donatella evita contato com o outro. Com personalidades opostas, as duas têm algo em comum: foram internadas no manicômio. As duas se tornam amigas e decidem fugir de lá para resolver uma questão do passado de Donatella.

 

Confira o trailer de 'A loucura entre nós'

 

 

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