Dois caras, muitas drogas e a sedução por milhões de dólares caindo na conta graças ao comércio de armas entre governos de potências mundiais. Poderíamos estar falando sobre Senhor das armas, filme de 2005, com Nicolas Cage no papel principal. No entanto, esse é o mote de Cães de guerra, que chega hoje às salas de BH. 'O roubo da taça' faz rir com história sobre o destino da Jules Rimet Conheça youtubers especializados em games que dominam hoje a internet Mostra em Tiradentes homenageia Nise da Silveira e discute a loucura Julgamento do ator americano Bill Cosby é marcado para 2017 Séries 'Justiça' e 'The night of' confirmam alto nível da teledramaturgia
Baseado em fatos, o longa conta a história de David Packouz (Miles Teller) e Efraim Diveroli (Jonah Hill), jovens de Miami que ficaram milionários vendendo armas para o governo dos Estados Unidos durante a invasão do Iraque e do Afeganistão, nos anos 2000.
Frustrado com os baixos salários como massagista terapêutico e prestes a ser pai, Packouz decide aceitar o convite de Diveroli, seu amigo de infância de caráter duvidoso, para trabalhar em seu rentável (e questionável) comércio.
Embora seja amplamente promovida em comerciais como o novo filme de Todd Phillips, diretor da trilogia cômica Se beber não case, a história em cartaz não é digna de muitas risadas. Pelo contrário. Em vez de amigos que se metem em trapalhadas ébrias, o drama é sobre jovens que embolsaram US$ 300 milhões vendendo armas que mataram milhares de pessoas no Oriente Médio.saiba mais
A trama está mais próxima de Senhor das armas do que de Se beber não case. Prende o espectador pelos dilemas e perigos que o negócio traz aos personagens. A dupla vai ao Iraque e à Albânia resolver problemas e acaba colocando a vida em risco ao ser perseguida por terroristas e se envolver com criminosos.
O drama pessoal de Packouz é explorado em vários momentos. Com a mulher grávida (Ana de Armas) e o nascimento da filha, ele se dividide entre os milhões de dólares e a ética, pois era pacifista, contrário à guerra no Iraque. Ao esconder os negócios da mulher, acaba em conflito com ela. A mesma situação do personagem de Nicolas Cage em Senhor das armas, embora Packouz não seja capitalista frio e quase inescrupuloso como o Yuri Orlov de Cage. Esse estereótipo cabe a Diveroli (Jonah Hill).
REPETIÇÃO
Diante do enredo construído em torno de dramas pessoais, conflitos familiares e do negócio manchado de sangue, que põe em xeque a confiabilidade de instituições governamentais que movimentam milhões de dólares para fomentar a máquina de guerra, fica difícil imaginar onde está a comédia anunciada nos trailers e noticiários. É aí que entra Todd Phillips.
O diretor aposta na repetição de fórmulas que deram certo em Se beber não case. O que seria drama se torna “comédia dramática” a partir de piadas ácidas e politicamente incorretas sobre questões raciais e étnicas, assim como na trilogia que o consagrou. A presença das drogas como fator de riso é outra estratégia repetida de comédias dirigidas anteriormente por ele, como Caindo na estrada (2000).
Bradley Cooper, um dos protagonistas de Se beber não case, participa de Cães de guerra no papel de um poderoso traficante de armas, além de colaborar na produção executiva. Jonah Hill, que não havia trabalhado com Phillips, parece ter recorrido à experiência como parceiro de Leonardo DiCaprio em O lobo de Wall Street (2014), de Martin Scorsese, para garantir contorno cômico ao novo filme. Assim como o corretor Donnie Azof, Efriam Diveroli é intempestivo, obcecado por dinheiro, viciado em drogas e capaz de se desentender com todos e metê-los em roubadas. Apesar do talento do ator, pode ser difícil dissociar os dois.
No fim das contas, entre boas atuações, cenas de ação bem filmadas e caracterizações bem construídas, Cães de guerra não disseca a indústria bélica tão bem quanto Senhor das armas, nem diverte como Se beber não case. A mistura de estilos pretendida por Todd Phillips, tão certeiro nas comédias, pode ter saído pela culatra