Curta Circuito debate pornochanchadas hoje à noite no Cine Humberto Mauro

Evento apresentará o filme 'Mulher objeto' e contará com a participação do produtor Aníbal Massaini Neto e da atriz Maria Lúcia Dahl

por Mariana Peixoto 29/08/2016 08:17

Cinedistr / Divulgação
Nuno Leal Maia e Helena Ramos em cena de 'Mulher objeto' (foto: Cinedistr / Divulgação )
“Mulher reprimida que não consegue ter relações sexuais com o marido só encontra o prazer em fantasias com outros homens. Vai até um terapeuta para tentar salvar sua vida sexual e o próprio casamento”.

Em 1981, quando Mulher objeto, o filme da sinopse acima, chegou aos cinemas, as pornochanchadas já apresentavam sinais de esgotamento, atesta Anibal Massaini Neto, um dos maiores produtores do gênero.

“Numa conversa com Silvio de Abreu (diretor de Mulher objeto), ele disse que teríamos que ‘emprestar ao projeto algum valor’. Naquela época, os filmes já tinham caído um pouco na vulgaridade, então procurávamos um cinema de temática um pouco mais séria”, comenta Massaini, de 70 anos. Hoje à noite, ele vem a Belo Horizonte participar, ao lado da atriz Maria Lúcia Dahl, do projeto Curta circuito. Os dois vão conversar com o público depois da sessão de Mulher objeto. O Cine Humberto Mauro exibirá cópia em 35mm.

A personagem-título é Regina – interpretada por Helena Ramos, uma das rainhas da pornochanchada –, casada com Hélio (Nuno Leal Maia). Maria Lúcia fez o papel de Maruska. Na última semana, a atriz, de 75 anos, assistiu ao longa para relembrar as cenas.

“Todo mundo chamava aqueles filmes de pornochanchada, o que os rebaixava. Em geral, muitos deles não tinham argumentos interessantes. Desse eu gostei, tem edição legal e bons atores”, comenta Maria Lúcia.

“Comecei no Cinema Novo, mais focado em política, com intelectuais. Esse outro tipo de filme apareceu como pretexto para as pessoas ficarem nuas. Na época, era assim: ou você fazia daquele jeito ou não fazia cinema. Mesmo no Cinema Novo tinha muita nudez. Trabalhei com Joaquim Pedro (de Andrade), em Macunaíma (1969): fazia uma sereia e ficava o tempo todo nua”, conta ela.

Massaini lembra que o público médio das pornochanchadas batia na casa de dois milhões de espectadores. “Mulher objeto, no primeiro momento, chegou a 1,8 milhão. Mais tarde, o filme foi relançado nos cinemas em duas ou três oportunidades”, informa.

 

Zuleika de Souza / CB / D.A Press
O produtor Aníbal Massaini comprou briga com Xuxa por causa de cenas de sexo (foto: Zuleika de Souza / CB / D.A Press)
Briga nos tribunais

Filho de Oswaldo Massaini – produtor da Cinedistri, que assinou 62 filmes (entre eles, O pagador de promessas, de 1962, único brasileiro a levar a Palma de Ouro em Cannes) –, Anibal Massaini Neto é protagonista de uma das maiores brigas judiciais do cinema brasileiro. Ele entrou em embate com Xuxa pela comercialização de Amor, estranho amor  (1982), em que a apresentadora aparece numa cena de sexo com um garoto de 12 anos.

A Cinearte, empresa de Massaini, perdeu na Justiça o direito de comercializar o longa em home video. Porém, houve acordo da Cinearte com a Xuxa Produções Artísticas de cessão temporária de exploração dos direitos. A renovação do contrato, que incluía um depósito judicial, seria anual.

De acordo com Massaini, a empresa de Xuxa perdeu o prazo em 2009 e nova briga começou. Em 2013, a Cinearte foi derrotada em novo recurso. Em 2015, o Google ganhou a briga com a apresentadora, que tentou restringir a exibição de suas imagens em Amor, estranho amor pelo mecanismo de busca.

Massaini diz que continua a lutar pela liberação do filme. “Quero assistir a esse último capítulo”, avisa.

 

 CURTA CIRCUITO
Exibição do longa Mulher objeto. Hoje, às 20h. Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7300. Depois da sessão, o produtor Aníbal Massaini Neto e a atriz Maria Lúcia Dahl conversam com o público. Entrada franca. Ingressos serão distribuídos a partir das 19h30.

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