São Paulo – Cinquenta anos atrás, o mundo era outro. Em 1966, globalização era apenas um conceito que começaria a ser colocado em prática na década seguinte. As (então) superpotências Estados Unidos e URSS participavam da corrida espacial – o homem só chegaria à Lua três anos mais tarde.
Era nesse cenário que Gene Roddenbery, um ex-policial e ex-piloto, tentava nova carreira: roteirista de TV. Quando The man trap, o primeiro episódio de Star trek, foi exibido na rede americana NBC, em 8 de setembro de 1966, Roddenbery respirava aliviado depois de dois anos.
Desde 1964 ele tentava emplacar o projeto da série – nesse período, fez dois pilotos, o primeiro recusado pela rede de TV por ser demasiado cerebral.
Star trek (Jornada nas estrelas para quem tem mais de 30) chega aos 50 como a mais cultuada produção da cultura pop. É TV, cinema, livro, quadrinho, roupa, comportamento. “Vida longa e próspera” é um mote que não envelhece.
Start trek: Sem fronteiras, a terceira produção da nova leva de filmes encabeçada por J.J. Abrams, chega aos cinemas do Brasil – hoje com pré-estreias nos cines BH e Boulevard, e na quinta no circuito nacional – com a missão de render muito e continuar fazendo com que a equipe da Enterprise encante trekkers (velhos e jovens) mundo afora.
A produção enfrentou alguns percalços para chegar até aqui. Abrams, que dirigiu os dois filmes anteriores, neste é apenas um dos produtores. Roberto Orci (corroteirista dos outros longas) foi o nome encontrado para substitui-lo, mas houve divergências no processo e ele acabou saindo para dar lugar a Justin Lin (Velozes e furiosos). Houve ainda a morte, um mês antes da estreia americana, do ator Anton Yelchin (o oficial Chekov), num acidente.
Pois Sem fronteiras resolve bem essas questões. Como filme que veio celebrar a efeméride, carrega nas homenagens (a parte final, sem entregar muito, faz um emocionante tributo a Leonard Nimoy, morto em 2015). Assim como a Enterprise, a franquia tem que estabelecer uma relação com novos públicos.
A nova jornada tem início com uma rápida explicação sobre o que ocorreu com a tripulação da nave depois de Além da escuridão (2013), o filme anterior. Cansado das aventuras, o capitão Kirk (Chris Pine) acaba tendo que deixar os devaneios (continuar ou não na Enterprise) com a aparição de um novo inimigo.
O misterioso Krall (um Idris Elba absolutamente irreconhecível) coloca à prova tudo o que a Federação representa. A tripulação, então desmotivada, acaba se unindo novamente para dar fim ao vilão e recuperar a própria razão de viver (a Enterprise é destruída).
De olho na cartilha da diversidade, Sem fronteiras revela a orientação sexual de Sulu (John So), algo que gerou alguma controvérsia. George Takei, intérprete do personagem na série clássica, discordou da mudança do perfil de Sulu. E a trama ganhou uma personagem feminina de peso, a alienígena Jaylah (Sofia Boutella), que rapidamente se torna aliada dos tripulantes da Enterprise.
Uma das razões de Star trek funcionar até hoje é o aspecto inclusivo que a narrativa tem desde os seus primórdios. No universo trekker, todos se sentem representados. Gene Roddenbery certamente aprovaria.
A repórter viajou a convite da Paramount Pictures
Números
Star Trek (2009)
Direção: J.J. Abrams
Custo: US$ 150 milhões
Renda: US$ 385 milhões
Além da escuridão:
Star Trek (2013)
Direção: J.J. Abrams
Custo: US$ 190 milhões
Renda: US$ 467 milhões
Star Trek:
Sem fronteiras (2016)*
Direção: Justin Lin
Custo: US$ 185 milhões
Renda: US$ 234 milhões