Nas conversas com a imprensa, ambos buscaram reforçar a ideia de que o longa dirigido pelo russo Timur Bekmambetov (O procurado, Abraham Lincoln: O caçador de vampiros) é baseado no romance Ben-Hur: A tale of the Christ (1880), de Lew Wallace, e não na superprodução de William Wyler.
Apostam ainda que as plateias de hoje não viram o filme de 1959 que, durante 38 anos, reinou absoluto como o maior ganhador de Oscars da história – 11 (somente Titanic, de 1997, e O senhor dos anéis: O retorno do rei, de 2003, igualaram o feito). Bem, a maior parte do público jovem que for aos cinemas para conhecer a história do nobre tornado escravo realmente não deve ter visto um épico de mais de três horas filmado 57 anos atrás. Mas esses espectadores certamente já ouviram falar, de alguma maneira, em Ben-Hur, tamanha a força que ele adquiriu.
O filme de Wyler, ele mesmo precedido de outro longa com a mesma história (a versão muda, de 1925), é ainda hoje considerado o épico dos épicos. Uma bem-acabada realização que soube dosar aventura e reflexão religiosa. E mais importante: não envelheceu, a despeito da passagem do tempo e de todas as inovações do cinema.
O novo longa-metragem cujo orçamento esbarrou em US$ 100 milhões tem que levar o maior número de pessoas aos cinemas para não se tornar um fracasso épico – projeções mais do que pessimistas dão conta de que o primeiro fim de semana não irá além dos US$ 15 milhões.
O Ben-Hur de hoje não tem muitas pretensões artísticas. A narrativa sobre vingança e redenção – o nobre Judah Ben-Hur (Huston), que viveu na época de Cristo, é traído e tornado escravo graças a seu irmão de criação, Messala (Toby Kebbell), um oficial do Exército romano – é ancorada unicamente pela ação. Conflitos religiosos, políticos, brigas familiares, tudo é resolvido muito facilmente, quase ao sabor de uma novela – o que é reforçado pela parte final, que traz um destino diferente para Messala.
São duas grandes sequências as que dão o sabor de hoje à narrativa. A primeira, num navio em que os escravos são o combustível para uma batalha, foi filmada de um modo bastante realista. Os anos de maus-tratos de Ben-Hur vêm à tona nesta longa sequência (Huston, neto do cineasta John Huston e sobrinho da atriz Anjelica Huston, emagreceu 15 quilos para o personagem).
A outra é uma recriação da já antológica cena do filme de 1959, a corrida de bigas. Assim como o longa de Wyler, o novo também foi filmado nos estúdios Cinecittà, em Roma. Três meses foram levados para construir o Circo Máximo de Roma, outros três para realizar as filmagens. Inteligentemente, Bekmambetov utilizou o mínimo de efeitos especiais. Ao todo, são 12 minutos de pura adrenalina, em que não se desgrudam os olhos da tela, ainda que já se saiba o nome do vencedor.
A pirotecnia visual impressiona. No entanto, a falta de estofo da narrativa decepciona, ainda mais diante de uma história tão cara ao cinema.
A repórter viajou a convite da Paramount
Três perguntas para...
JACK HUSTON
ator
Você se imaginava como Ben-Hur?
Eu esperava fazer um filme como este. A versão de William Wyler me é muito familiar, pois todo ano ela é exibida na TV inglesa durante a Páscoa. E acho que agora é realmente a época de se fazer este filme. Antes da versão de Wyler, houve a versão muda (de 1925, Ben-Hur: A tale of the Christ). Wyler chegou e deu uma outra proporção. Era um set imenso, com uma quantidade enorme de figurantes. De certa maneira, a beleza deste novo filme está em sua redescoberta, reimaginar a história de Lew Wallace. Hoje, a maneira de atuar é bem diferente do que era em 1959. Mas a história, 130 anos depois, consegue refletir sobre o mundo em que estamos vivendo. Há muito ódio, brigas religiosas, políticas. Estamos chegando a um ponto perigoso no mundo, e a trajetória de Ben-Hur é exatamente isso. Ela mostra como é possível encontrar redenção, bondade. Tem uma mensagem poderosa.
O que mais se fala é sobre a sequência das bigas. Como foi fazê-la?
Quando comecei a conversar com Timur, ele me disse: “O público de hoje já viu de tudo. Qualquer coisa é possível com os efeitos especiais, então, para que a sequência funcione, temos que voltar ao básico”. Foram três meses, quase quatro, de preparação. Eu e Toby começamos os ensaios numa charrete com dois cavalos. Depois passamos para quatro. Mais tarde, fomos para a biga com dois e novamente quatro cavalos. A força está toda nas pernas, mas a primeira vez em que tive que parar os cavalos, coloquei meu pé em frente da biga e fiquei totalmente na vertical. Eu tinha que ficar assim para que os cavalos sentissem que eu ia pará-los. Já no primeiro dia de filmagem (de um total de 32) fizemos isso tudo. Só que ficávamos parados o tempo todo na biga e o Timur dizendo: “Vocês têm que atuar!”. No final, filmamos com 32 cavalos e oito bigas. Era uma coreografia incrível que os cavalos faziam, quase uma dança. E nada poderia sair do lugar, pois alguma biga poderia bater. Tivemos alguns machucados, mas os cavalos saíram ilesos.
O fim do filme, depois do ápice com a corrida de bigas, é quase um anticlímax. Qual a sua opinião sobre o desfecho novelesco?
Isto é um debate grande em vários filmes. Uma produção como esta envolve produtores, diretor, elenco e estúdio. Há escolhas difíceis a fazer. Um dos produtores queria que houvesse uma continuação, como um Ben-Hur 2. Isso é meio louco. E como queríamos fazer um novo filme, diferente do de Wyler, foi definida essa mensagem positiva. Todo mundo