'De longe te observo' é um filme sobre o olhar e a solidão

Longa de Lorenzo Vigas tira sua força de sua sutileza

por Agência Estado 02/08/2016 09:26
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(foto: Divulgação)
Armando é um voyeur. Por isso, De longe te observo, de Lorenzo Vigas, é um filme sobre o olhar. O longa deu um prêmio inédito à Venezuela, um Leão de Ouro em Veneza, um dos três principais festivais europeus. E isso com um filme que tira sua força de sua sutileza. Armando é um protético de meia-idade. Perambula pelas ruas de Caracas atrás de jovens que o atraiam e que possam, por sua vez, ser atraídos por seu dinheiro. Leva a presa à casa, pede que tire a camisa e depois a calça. Não inteiramente. Quer ver os rapazes seminus, para se masturbar e chegar ao orgasmo. Não há contato físico entre eles. É o olhar que comanda o desejo. Um dia, convida um desses rapazes e a coisa termina em violência. Eder (Luis Silva) é o nome do moço, e ele lidera uma gangue juvenil. Tem problemas com a família, mora na rua e adora automóveis. Seu grupo furta carros por diversão e dinheiro. Mas ele cobiça ter um, em seu nome. Deve-se dizer que, mais do que seus temas principais e secundários, De longe te observo obedece a um programa muito rigoroso de direção e encenação. Há uma precisa escritura de câmera. Muitas vezes, Armando é visto de costas pelas ruas com a câmera colada atrás de si. Armando vaga pelas ruas de uma cidade de contrastes. Caracas tem gente muito rica e gente muito pobre. Há, sobretudo, muitos jovens desocupados e desassistidos. A câmera leva o espectador a esse passeio tanto social como do desejo. Depois, há que levar em conta o contraste dos personagens. Armando é um ser atípico no local. Numa cultura caliente, em que as pessoas se tocam muito, falam alto, ouvem e dançam e cantam, ele é um melancólico solitário. O outro, para ele, é essa imagem erótica a partir da qual ele goza, satisfazendo a si mesmo. É um ser encapsulado, mas que necessita do outro, mesmo que através de uma imagem comprada com dinheiro. Já Eder é o latino típico. Febril e voluntarioso, insolente e violento. Sobre esse contraste, Vigas elabora seu filme, desenvolvido a partir de uma história escrita por ele e pelo mexicano Guilhermo Arriaga, parceiro de Alejandro González Iñárritu em vários trabalhos. À maneira de alguns trabalhos do polonês Krzysztof Kieslowski, De longe te observo também não entrega seus mistérios de mão beijada. Pede que o espectador dele se aproxime em estado de inteligência e sensibilidade abertas. Vale a pena.

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