Steven Spielberg lançou O bom gigante amigo no Festival de Cannes com uma acolhida triunfal na sessão oficial. Apesar de longamente aplaudido, fora do festival a recepção foi mais morna. Não é, nem de longe, um grande Spielberg, e muito menos está à altura da trilogia informal que ele dedicou ao 11 de Setembro, com os filmes O terminal, Guerra dos mundos e Munique. O longa, produzido pela Disney, é adaptação do livro de Roald Dahl e marca um retorno do diretor a suas fantasias. Ele afirma que elas o nutrem e satisfazem sua necessidade de continuar acreditando no cinema como uma atividade lúdica.
“Essa história faz parte do meu imaginário há muito tempo. Era o livro que lia para meus filhos, e eles adoravam. Para mim, trata-se de uma história de amor. Não fiz muitos filmes assim na minha carreira.” Spielberg relata que trabalhou na Disney com toda a liberdade. “Não me impus nenhum limite, de imaginação ou o quê. Quando você faz filmes como Lincoln ou Ponte dos espiões, a própria realidade o tolhe. Não há muito espaço para a imaginação. Aqui, a pegada é outra. A garota se liga ao gigante amigo e ele a leva numa jornada de autoconhecimento e superação. É um tema tradicional, mas nem por isso menos relevante. Impulsionou-me a ser livre. Na verdade, tenho a impressão de que nunca me senti mais livre desde o meu começo, nos anos 1970.”
saiba mais
Diferença
Como é fazer um gigante? “É uma experiência bizarra, porque a sua real dimensão na imagem será definida na pós-produção. Mas você tem de ter consciência, o tempo todo, de que é muito maior do que a garota (interpretada por Ruby Barnhill) e passar isso com naturalidade. É uma questão de nivelar o olhar. Acredite, é mais difícil do que parece.” Rylance conhecia o livro de Dahl? “Como não? É um clássico da literatura infantojuvenil de língua inglesa. Roald escreveu até James Bond, mas seus clássicos infantis são muito ricos pelo olhar compassivo que ele tem sobre a fragilidade da infância, o processo de maturação da personalidade.”
O filme tem no elenco duas atrizes de diferentes gerações, ambas ótimas em seus papéis – a bela e jovem Rebecca Hall, que faz Mary, e Penelope Wilton, a rainha. “Steven disse que há tempos queria trabalhar comigo. Elogiou-me por meu papel em Downton Abbey. Disse que eu saberia fazer a rainha no tom certo: imperial, mas humana. Quando você vai trabalhar com um diretor tão grande, um homem que, nos últimos 40 anos, tem exercido um efeito extraordinário sobre o público de todo o mundo, você até se sente intimidada. Mas Steven é tudo, menos ditatorial. Ele acredita e termina por convencer de que o cinema pode fazer a diferença e ajudar a mudar o mundo.”
Rebecca Hall não é apenas impressionantemente bela, mas também tem brilho. “Steven moldou minha infância, e a de todo o mundo, com aqueles filmes – Tubarão, Contatos imediatos, E.T. O impressionante é que o tempo passa, ele hoje é um senhor, mas continua conectado com a infância. Sabe chegar até ela, e despertar a criança na gente.” Filha de diretor – Peter Hall –, Rebecca conta que o cinema e o teatro sempre fizeram parte de sua vida. “E eu amo representar. Apareço mais para o fim do filme, assim pude desfrutar as demais interpretações, a técnica. Sou suspeita, mas fui arrebatada por Steven.” (Estadão Conteúdo)