Steven Spielberg lançou O bom gigante amigo no Festival de Cannes com uma acolhida triunfal na sessão oficial. Apesar de longamente aplaudido, fora do festival a recepção foi mais morna. Não é, nem de longe, um grande Spielberg, e muito menos está à altura da trilogia informal que ele dedicou ao 11 de Setembro, com os filmes O terminal, Guerra dos mundos e Munique. O longa, produzido pela Disney, é adaptação do livro de Roald Dahl e marca um retorno do diretor a suas fantasias. Ele afirma que elas o nutrem e satisfazem sua necessidade de continuar acreditando no cinema como uma atividade lúdica.
“Essa história faz parte do meu imaginário há muito tempo. Era o livro que lia para meus filhos, e eles adoravam. Para mim, trata-se de uma história de amor. Não fiz muitos filmes assim na minha carreira.” Spielberg relata que trabalhou na Disney com toda a liberdade.
Do elenco, e na pele do gigante, participa Mark Rylance, que ganhou o Oscar de coadjuvante deste ano, por Ponte dos espiões. Rylance relata sua relação com o diretor: “Steven (Spielberg) tem sido muito generoso comigo. É nosso segundo filme e ele anuncia que tem pelo menos mais uma meia dúzia de projetos que gostaria de fazer comigo. Há quase 30 anos, na época de Império do sol, ele me chamou para um papel que, na época, teria dado extraordinário impulso à minha carreira. Eu era jovem, queria fazer teatro, que me parecia mais sério. Todo mundo achou que eu estava louco, mas não me arrependo.
Diferença
Como é fazer um gigante? “É uma experiência bizarra, porque a sua real dimensão na imagem será definida na pós-produção. Mas você tem de ter consciência, o tempo todo, de que é muito maior do que a garota (interpretada por Ruby Barnhill) e passar isso com naturalidade. É uma questão de nivelar o olhar. Acredite, é mais difícil do que parece.” Rylance conhecia o livro de Dahl? “Como não? É um clássico da literatura infantojuvenil de língua inglesa. Roald escreveu até James Bond, mas seus clássicos infantis são muito ricos pelo olhar compassivo que ele tem sobre a fragilidade da infância, o processo de maturação da personalidade.”
O filme tem no elenco duas atrizes de diferentes gerações, ambas ótimas em seus papéis – a bela e jovem Rebecca Hall, que faz Mary, e Penelope Wilton, a rainha. “Steven disse que há tempos queria trabalhar comigo. Elogiou-me por meu papel em Downton Abbey. Disse que eu saberia fazer a rainha no tom certo: imperial, mas humana.
Rebecca Hall não é apenas impressionantemente bela, mas também tem brilho. “Steven moldou minha infância, e a de todo o mundo, com aqueles filmes – Tubarão, Contatos imediatos, E.T. O impressionante é que o tempo passa, ele hoje é um senhor, mas continua conectado com a infância. Sabe chegar até ela, e despertar a criança na gente.” Filha de diretor – Peter Hall –, Rebecca conta que o cinema e o teatro sempre fizeram parte de sua vida. “E eu amo representar. Apareço mais para o fim do filme, assim pude desfrutar as demais interpretações, a técnica. Sou suspeita, mas fui arrebatada por Steven.” (Estadão Conteúdo).