Jason Bourne retoma a trilogia sobre o superagente secreto atormentado em busca de sua identidade

Com a mesma fórmula de sucesso, filme tenta provar que a passagem dos anos e as mudanças globais não interferiram em nada no personagem

por Mariana Peixoto 28/07/2016 09:01

Universal Pictures/Divulgação
Matt Damon resgatou a parceria com o diretor Paul Greengrass para dar sequência à saga criada pelo escritor Robert Ludlum (foto: Universal Pictures/Divulgação)

Em 2002, os Estados Unidos ainda procuravam entender como tinham sido atingidos de maneira tão devastadora como nos atentados de 11 de setembro. Queriam respostas urgentes e esperavam encontrá-las eliminando a Al Qaeda e o Talibã. Facebook e Twitter nem sequer sonhavam em existir e os países da União Europeia começavam a adotar o euro como moeda corrente.

Catorze anos mais tarde, o mundo é outro. Convulsões sociais tomam conta da Europa, que vê a unificação ser desmantelada. Refugiados da guerra da Síria chegam ao continente europeu, boa parte vivendo em campos fronteiriços. E o sonho do acesso à informação provou-se também um pesadelo, com a vigilância invadindo a privacidade do cidadão comum.

Jason Bourne tenta passar ao largo disso. Vive um dia após o outro, sempre sozinho, à margem, e sem qualquer contato com o mundo virtual. Nove anos após interpretar o personagem criado por Robert Ludlum na terceira sequência da franquia Bourne, Matt Damon está de volta no papel do ex-agente da CIA. Jason Bourne chega hoje aos cinerma do país – 17 salas da Grande BH (veja aqui as salas e horários) – tentando provar que a passagem dos anos e as mudanças globais não interferiram em nada no personagem.

E Damon só voltou à carga porque conseguiu convencer o cineasta Paul Greengrass (diretor de A supremacia Bourne, de 2004, e O ultimato Bourne, de 2007, segundo e terceiro filmes da franquia) a integrar a empreitada. Se a trilogia da década passada conseguiu responder à pergunta que move o personagem – “quem sou?” – o novo filme toca fundo em questões também ligadas à identidade Por que ele foi escolhido para se tornar um superagente e quem era antes de se tornar Jason Bourne?

Entre O ultimato Bourne e o longa que chega agora aos cinemas, houve uma tentativa de fazer com que a série emplacasse sem a dupla, que havia se recusado a continuar com a franquia. O legado Bourne, dirigido por Tony Gilroy (roteirista dos três primeiros filmes) em 2012, apresentou Jeremy Renner como Aaron Cross, outro agente também perseguido pelo serviço secreto. O filme não emplacou, Damon e Greengrass não gostaram nada da atitude do estúdio e foi preciso muito poder de convencimento (ao longo de dois anos) dos executivos da Universal para que eles voltassem à carga

Agora que todos estão no mesmo barco, como fazer com que o personagem se torne crível passados tantos anos? Pois fazendo exatamente a mesma coisa, só que num cenário atualizado. Da fronteira da Macedônia com a Grécia, onde a história tem início, o personagem vai reencontrar seu passado numa Atenas caótica.
Com a população nas ruas em conflito com a polícia, ele se vê ao lado da agente Nicky Parsons (Julia Stiles). Ela também vive no submundo, atuando junto ao hacker Christian Dassault (Vinzenz Kiefer), uma espécie de Julian Assange das sombras. Ao invadir os computadores da CIA, Nicky descobre em meio a velhos arquivos o passado de Bourne antes de ele se tornar agente. São novas perguntas para o personagem.

As respostas vão sendo dadas à maneira de Greengrass. Cineasta que conseguiu fazer com que filmes de ação fossem alçados a outro patamar (outras referências são Voo United 93, de 2006, e Capitão Phillips, de 2013), aqui ele continua em busca do realismo extremo. Câmera sempre à mão, trêmula quando tem que ser, e edição rápida, mas que não deixa nada importante de fora do quadro, Greengrass consegue ser político mesmo fazendo um blockbuster para entreter.

Como nos filmes anteriores, há um vilão engravatado (Robert Dewey, o chefão da CIA, papel de Tommy Lee Jones) e um matador que sai a campo (aqui interpretado por Vincent Cassel, que empreende uma vendeta contra Bourne). Os cenários são também globais: além da Grécia, há também perseguições na Islândia, Itália, Alemanha e Inglaterra. A cena final é uma sequência absurda de carros cuja filmagem fechou, pela primeira vez, a icônica Strip, onde estão localizados os hotéis-cassino de Las Vegas.

Jason Bourne é, acima de tudo – e a despeito de suas magníficas sequências de ação –, um filme que busca chamar a atenção para a sociedade da vigilância. Edward Snowden é citado mais de uma vez na trama. O personagem Aaron Kalloor (Riz Ahmed), empreendedor e criador da rede social Deep Dream, é calcado em Mark Zuckerberg e seus congêneres que existem mundo afora.

E há ainda a personagem mais complexa desta seara. Estrela em ascensão em Hollywood, a sueca Alicia Vikander (Oscar de atriz coadjuvante por A garota dinamarquesa) é Heather Lee. Especialista da CIA em contrainsurgência e ataques por drone, vê sua grande chance na agência quando consegue chefiar a equipe que vai atrás de Bourne. Como nos demais filmes da série, nada é o que se imagina e Heather rapidamente vai mudar de lado na história.

A narrativa de Jason Bourne termina deixando abertas possibilidades para nova sequência. Em entrevistas recentes, tanto Greengrass quanto Damon não disseram nem que sim nem que não. Aprenderam, com este novo filme, a nunca dizer nunca.

PARA VER DE NOVO
Universal Pictures/Divulgação
(foto: Universal Pictures/Divulgação)

A identidade Bourne (2002)
Direção: Doug Liman
Renda: US$ 214 milhões

Ambientado em Marselha e Paris (França), Zurique (Suíça) e Mikonos (Grécia), o filme começa com um Bourne desmemoriado e baleado no litoral francês. A única referência que ele tem é uma conta num banco suíço. Procurado pela polícia e pela CIA, empreende uma fuga ao lado da alemã Marie (Franka Potente), ao mesmo tempo em que tenta descobrir quem é: um superagente secreto.

A supremacia Bourne (2004)


Direção: Paul Greengrass
Renda: US$ 288 milhões

Vivendo com Marie em Goa, Bourne tem sua aparente paz interrompida quando é incriminado numa conspiração que envolve a CIA e um magnata russo. Perseguido, volta a investigar seu passado e acaba descobrindo sua identidade. A narrativa começa na Índia, passa por Nápoles (Itália), Munique e Berlim (Alemanha), Moscou (Rússia) e culmina em Nova York, onde o personagem volta a viver anonimamente.

O ultimato Bourne (2007)


Direção: Paul Greengrass
Renda: US$ 443 milhões

Ferido na Rússia, Bourne tenta ajudar um jornalista investigativo.
Vai a Madri, onde reencontra a agente Nicky Parsons (Julia Stiles).
Os dois partem para o Marrocos e, de lá, para Nova York. O personagem descobre o laboratório e o médico que fez com que se tornasse um superagente. O mais bem-sucedido filme da série levou três Oscars: montagem, edição de som e mixagem.

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