Mais do que um possível fenômeno isolado de bilheteria, caso cumpra as altas expectativas dos produtores, a cinebiografia do lutador manauara José Aldo, em cartaz nas salas de BH, será um termômetro para o cinema brasileiro testar a popularidade das artes marciais mistas (MMA) na telona. Na última década, a modalidade se tornou febre no Brasil, com fãs reunidos em frente à TV, madrugadas sangrentas adentro, vibrando com golpes de Anderson Silva, Vitor Belfort, Maurício Shogun, Lyoto Machida e do próprio Aldo, o lutador franzino e com marcas no rosto – que lhe renderam o apelido de Scarface –, ex-detentor do cinturão dos penas do Ultimate Fighting Championship (UFC), a multimilionária liga da modalidade.
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Em seu primeiro filme como protagonista, o ator José Loreto, jovem galã das novelas de TV, beneficia-se do porte físico, característico dos lutadores, para dar vida a Aldo. Não é uma atuação brilhante, mas não compromete a fluência das quase duas horas de projeção. Os primeiros 40 minutos se passam na paisagem pobre e de desgraça social que ajudou a formar a personalidade de Aldo, ainda em Manaus. A convivência com o pai alcoólatra (Jackson Antunes) e com o martírio da mãe (Cláudia Ohana), que apanha do marido, são combustível para o rapaz começar a se estruturar como lutador – na pré-estreia, no Rio de Janeiro, o atleta se mostrou emocionado com o retrato fiel de seu início de carreira.
TRANSIÇÃO
O filme ganha algumas licenças poéticas na primeira transição da carreira do lutador, na ida de Manaus para o Rio, quando ele passa a treinar na Academia Nova União, do professor André Pederneiras (Milhem Cortaz), responsável pela formação de grandes atletas como Renan Barão e Júnior Cigano. Com a ajuda do amigo Loro (Rafinha Bastos), Aldo conhece a mulher, Vivi (Cléo Pires), iniciando uma relação marcada por crises e cumplicidades. Nos minutos finais, surgem as conquistas no octógono e a escalada da fama, enquanto ele briga consigo mesmo para expurgar demônios do passado.
Embora seja o país do futebol e esteja às vésperas de sediar a primeira Olimpíada da América Latina, o Brasil não tem larga tradição em filmes em que o esporte é fio condutor. Documentários como Garrincha, alegria do povo (1962), de Joaquim Pedro de Andrade, e Pelé eterno (2004), de Anibal Massaini Neto, conseguiram se estabelecer, mas, no campo ficcional, cinebiografias recentes como Garrincha, estrela solitária (2003), dirigido por Milton Alencar Júnior, e Heleno (2012), de José Henrique Fonseca, sobre o craque mineiro Heleno de Freitas, não tiveram sucesso financeiro.
Mais forte que o mundo, embora esteja longe de ser inesquecível, tenta mudar o placar dos filmes de esporte nas bilheterias, apostando alto na paixão dos brasileiros pelo MMA.