Filme de Afonso Poyart conta a história de José Aldo, lutador de MMA e ex-campeão do UFC

O galã José Loreto interpreta o atleta que venceu a pobreza para se tornar ídolo dos brasileiros

por Renan Damasceno 23/06/2016 08:00
Globo Filmes/divulgação
O porte físico do ator José Loreto contribuiu para dar veracidade às cenas da cinebiografia de José Aldo (foto: Globo Filmes/divulgação)

Mais do que um possível fenômeno isolado de bilheteria, caso cumpra as altas expectativas dos produtores, a cinebiografia do lutador manauara José Aldo, em cartaz nas salas de BH, será um termômetro para o cinema brasileiro testar a popularidade das artes marciais mistas (MMA) na telona. Na última década, a modalidade se tornou febre no Brasil, com fãs reunidos em frente à TV, madrugadas sangrentas adentro, vibrando com golpes de Anderson Silva, Vitor Belfort, Maurício Shogun, Lyoto Machida e do próprio Aldo, o lutador franzino e com marcas no rosto – que lhe renderam o apelido de Scarface –, ex-detentor do cinturão dos penas do Ultimate Fighting Championship (UFC), a multimilionária liga da modalidade.

Com algum esforço, o longa Mais forte que o mundo: a história de José Aldo, dirigido por Afonso Poyart, consegue extrapolar clichês românticos que envolvem filmes do gênero, ao explorar dramas sociais e aspectos psicológicos que contribuem para a formação de um lutador. Por outro lado, peca no excesso de câmeras lentas e artifícios que tiram o impacto dos embates, poetizando um esporte marcado – e admirado – justamente pela crueza dos golpes.

Em seu primeiro filme como protagonista, o ator José Loreto, jovem galã das novelas de TV, beneficia-se do porte físico, característico dos lutadores, para dar vida a Aldo. Não é uma atuação brilhante, mas não compromete a fluência das quase duas horas de projeção. Os primeiros 40 minutos se passam na paisagem pobre e de desgraça social que ajudou a formar a personalidade de Aldo, ainda em Manaus. A convivência com o pai alcoólatra (Jackson Antunes) e com o martírio da mãe (Cláudia Ohana), que apanha do marido, são combustível para o rapaz começar a se estruturar como lutador – na pré-estreia, no Rio de Janeiro, o atleta se mostrou emocionado com o retrato fiel de seu início de carreira.
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Cleo Pires faz o papel de Vivi, a mulher do campeão do UFC (foto: Globo Filmes/divulgação)


TRANSIÇÃO


O filme ganha algumas licenças poéticas na primeira transição da carreira do lutador, na ida de Manaus para o Rio, quando ele passa a treinar na Academia Nova União, do professor André Pederneiras (Milhem Cortaz), responsável pela formação de grandes atletas como Renan Barão e Júnior Cigano. Com a ajuda do amigo Loro (Rafinha Bastos), Aldo conhece a mulher, Vivi (Cléo Pires), iniciando uma relação marcada por crises e cumplicidades. Nos minutos finais, surgem as conquistas no octógono e a escalada da fama, enquanto ele briga consigo mesmo para expurgar demônios do passado.

Embora seja o país do futebol e esteja às vésperas de sediar a primeira Olimpíada da América Latina, o Brasil não tem larga tradição em filmes em que o esporte é fio condutor. Documentários como Garrincha, alegria do povo (1962), de Joaquim Pedro de Andrade, e Pelé eterno (2004), de Anibal Massaini Neto, conseguiram se estabelecer, mas, no campo ficcional, cinebiografias recentes como Garrincha, estrela solitária (2003), dirigido por Milton Alencar Júnior, e Heleno (2012), de José Henrique Fonseca, sobre o craque mineiro Heleno de Freitas, não tiveram sucesso financeiro.

Mais forte que o mundo, embora esteja longe de ser inesquecível, tenta mudar o placar dos filmes de esporte nas bilheterias, apostando alto na paixão dos brasileiros pelo MMA.

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