

“Na verdade, sou de tudo. Fiquei 28 anos sem sair de cena, emendando um espetáculo no outro, em companhias pelas quais tenho muito respeito. Trabalhei com o Aderbal (Freire-Filho), com Kiki (Dias), com Yara (de Novaes). Teatro para mim é um negócio sério e muito sagrado”, afirma. Apaixonado pelo tablado, Augusto conta que já chegou a fazer três peças (Jacinta, A serpente e 20 mil léguas submarinas), ao mesmo tempo, entre o Rio de Janeiro e São Paulo.
saiba mais
Cineasta pernambucano rebate crítica de ministro a protesto em Cannes
Fox se desculpa por cartaz de X-Men acusado de incentivar violência contra a mulher
Novo Ministro da Cultura chama de 'quase infantil' protesto da equipe de 'Aquarius'
O ator Marcos Veras encara o primeiro papel dramático no cinema em 'O filho eterno'
Cada vez mais, estúdios de Hollywood investem em filmes que rendem sequências e lucro
Se para o leitor é impossível encarar a rotina entre sets de filmagem, para o ator, acredite, chato mesmo é ficar sem fazer nada. “Meu estresse é passar uma semana em casa. Sou workaholic”, confessa. “Minha profissão me traz vitalidade, me divirto por fazer o que faço, me dá saúde”. Mas, mesmo com tanto entusiasmo, Augusto pisou no freio ao encarar um perrengue daqueles quando foi obrigado a pegar mototáxi para sair do Projac, no final da tarde, para chegar antes das 21h a um teatro em Botafogo, em pleno rush. “Nesse dia, parei para repensar minha agenda. Hoje tenho prioridades.”
Apesar da crise em vários setores da economia, Augusto Madeira não é pessimista em relação à queda da produção. “Os grandes financiadores eram as estatais”, pondera. “Mas, pela Lei do Audiovisual, os canais são obrigados a fazer material de conteúdo nacional. Essa obrigação continua lá e, de alguma forma, a produção irá continuar. Conquistamos o mercado que está aí, consolidado. Somos bons de luta. A indústria não vai acabar assim de mão beijada. Não vamos deixá-la ir embora”, defende.
GERAÇÃO
Com experiência no cinema e na TV, Augusto é otimista quanto ao futuro dos roteiristas. “Parece que não, mas a herança nefasta da censura não matou a geração daquela época, matou a geração que estava nascendo. E essa geração que nasceu ali e não escreveu gerou outra geração. Na verdade, agora estamos saindo do buraco. Estamos aprendendo a escrever, a falar da gente. O roteiro de Polidorio, com José de Abreu, é uma coisa redonda. Na primeira leitura, todo mundo caiu aos prantos. O lobo atrás da porta, de Fernando Coimbra, é um primor”, elogia.
Assim como atua em todas as frentes, Augusto não se prende apenas a um gênero. “Em Nise..., faço um personagem com arco incrível e o público se surpreende. Faço muita coisa de humor por ser convidado. Acredito fazer com alguma categoria porque continuam me convidando. Adoro papéis dramáticos. Na série da HBO, minha personagem é cheia de nuances. Sou um ator que gosta de servir à história.”
Ser ator profissional não era prioridade de Augusto aos 16 anos. Com talento para o desenho – “desenhava bem, não perdi o traço” –, foi ver espetáculo encenado por algumas amigas, alunas do curso de teatro de Roberto Bomtempo. “Fui assistir, achei sensacional e entrei ‘não oficialmente’. No final daquele ano, montamos Grease.” Se a admiração pelo palco veio rápido, o mesmo não se pode dizer da postura para encarar a carreira. “Demorei a assumir que era ator. Quando decidi, entrei nesse ritmo. Mal comecei e já queria saber o que tinha pela frente. Peça infantil, teledrama ao vivo? Eu faço. Tudo foi somando, fui aprendendo... Desde novo, metia a cara e não era por necessidade de sobrevivência.”
Depois de dois ou três anos, já firme na carreira, em plena Era Collor, o pai de Augusto, que trabalhava no mercado financeiro, faliu e vendeu casa, escritório, tudo. Foi quando ele se jogou na vida, dividindo apartamento e contas com o ator Bruno Garcia. “Ele estava no elenco de O burguês ridículo com Marco Nanini. No meu caso, de vez em quando caía o dinheiro de um comercial. O Bruno segurava a onda e, muitas vezes, dizia para eu pagar apenas o aluguel da linha telefônica. Somos irmãos.”
Quase 30 anos depois e uma sucessão de trabalhos que parecem não parar tão cedo, Augusto prefere o projeto pelo qual se apaixona. “A melhor alegria é o caminho, a história de fato. Quando me chamam para um trabalho, chego no set e 80% da equipe me conhece e abre um sorriso de alegria em estar comigo lá. É muito bom. Olho para trás e não me envergonho de nada. Pelo contrário. Tenho orgulho da minha estrada. Já estou no lucro há muito tempo. Estaria feliz com um décimo do que já fiz. E a estrada para frente está bonita”, conclui.