Augusto Madeira é presença onipresente na indústria do audiovisual e também no teatro. Quer ver só? Esta semana, ele pode ser visto na cidade no filme Uma loucura de mulher, de Marcus Ligocki Júnior, e Nise – O coração da loucura, de Roberto Berliner. Sem contar os longas com previsão de estreia no ano que vem, entre eles o esperado Pedro Malasartes e o duelo com a morte, de Paulo Morelli; Vidas partidas, de Marcos Schetchman; e O beijo no asfalto, a estreia de Murilo Benício na direção. “Tem gente que diz que sou projeto de Wilson Grey”, brinca, em referência ao ator carioca, que entre os anos 1940 e 1990 fez mais de 200 filmes. Madeira faz cinema há 27 anos quase sem parar. “Entre longas e curtas, tenho 60 filmes. Só este ano fiz seis. Ano passado, cinco”, contabiliza, com a naturalidade de quem faz o que gosta, sem estrelismos.
“Na verdade, sou de tudo. Fiquei 28 anos sem sair de cena, emendando um espetáculo no outro, em companhias pelas quais tenho muito respeito. Trabalhei com o Aderbal (Freire-Filho), com Kiki (Dias), com Yara (de Novaes). Teatro para mim é um negócio sério e muito sagrado”, afirma. Apaixonado pelo tablado, Augusto conta que já chegou a fazer três peças (Jacinta, A serpente e 20 mil léguas submarinas), ao mesmo tempo, entre o Rio de Janeiro e São Paulo.
Há dois anos, a agenda ficou apertada e o ator optou por dar um tempo do palco. “Precisei parar. Não queria constranger as produções de teatro, mas também não queria abrir mão de um mercado aquecido como o das produções dos canais a cabo”, diz ele, ansioso pela estreia de O homem de sua vida, na HBO. “Houve uma época em que me achava ator de filme publicitário. Foram mais de 200”, recorda ele, cujo trabalho mais marcante no setor foi a campanha para a Sky estrelada pela modelo Gisele Bündchen. Madeira tem orgulho dos oito prêmios conquistados como melhor ator de curtas-metragens.
Se para o leitor é impossível encarar a rotina entre sets de filmagem, para o ator, acredite, chato mesmo é ficar sem fazer nada. “Meu estresse é passar uma semana em casa. Sou workaholic”, confessa. “Minha profissão me traz vitalidade, me divirto por fazer o que faço, me dá saúde”. Mas, mesmo com tanto entusiasmo, Augusto pisou no freio ao encarar um perrengue daqueles quando foi obrigado a pegar mototáxi para sair do Projac, no final da tarde, para chegar antes das 21h a um teatro em Botafogo, em pleno rush. “Nesse dia, parei para repensar minha agenda. Hoje tenho prioridades.”
Apesar da crise em vários setores da economia, Augusto Madeira não é pessimista em relação à queda da produção. “Os grandes financiadores eram as estatais”, pondera. “Mas, pela Lei do Audiovisual, os canais são obrigados a fazer material de conteúdo nacional. Essa obrigação continua lá e, de alguma forma, a produção irá continuar. Conquistamos o mercado que está aí, consolidado. Somos bons de luta. A indústria não vai acabar assim de mão beijada. Não vamos deixá-la ir embora”, defende.
GERAÇÃO
Com experiência no cinema e na TV, Augusto é otimista quanto ao futuro dos roteiristas. “Parece que não, mas a herança nefasta da censura não matou a geração daquela época, matou a geração que estava nascendo. E essa geração que nasceu ali e não escreveu gerou outra geração. Na verdade, agora estamos saindo do buraco. Estamos aprendendo a escrever, a falar da gente. O roteiro de Polidorio, com José de Abreu, é uma coisa redonda. Na primeira leitura, todo mundo caiu aos prantos. O lobo atrás da porta, de Fernando Coimbra, é um primor”, elogia.
Assim como atua em todas as frentes, Augusto não se prende apenas a um gênero. “Em Nise..., faço um personagem com arco incrível e o público se surpreende. Faço muita coisa de humor por ser convidado. Acredito fazer com alguma categoria porque continuam me convidando. Adoro papéis dramáticos. Na série da HBO, minha personagem é cheia de nuances. Sou um ator que gosta de servir à história.”
Ser ator profissional não era prioridade de Augusto aos 16 anos. Com talento para o desenho – “desenhava bem, não perdi o traço” –, foi ver espetáculo encenado por algumas amigas, alunas do curso de teatro de Roberto Bomtempo. “Fui assistir, achei sensacional e entrei ‘não oficialmente’. No final daquele ano, montamos Grease.” Se a admiração pelo palco veio rápido, o mesmo não se pode dizer da postura para encarar a carreira. “Demorei a assumir que era ator. Quando decidi, entrei nesse ritmo. Mal comecei e já queria saber o que tinha pela frente. Peça infantil, teledrama ao vivo? Eu faço. Tudo foi somando, fui aprendendo... Desde novo, metia a cara e não era por necessidade de sobrevivência.”
Depois de dois ou três anos, já firme na carreira, em plena Era Collor, o pai de Augusto, que trabalhava no mercado financeiro, faliu e vendeu casa, escritório, tudo. Foi quando ele se jogou na vida, dividindo apartamento e contas com o ator Bruno Garcia. “Ele estava no elenco de O burguês ridículo com Marco Nanini. No meu caso, de vez em quando caía o dinheiro de um comercial. O Bruno segurava a onda e, muitas vezes, dizia para eu pagar apenas o aluguel da linha telefônica. Somos irmãos.”
Quase 30 anos depois e uma sucessão de trabalhos que parecem não parar tão cedo, Augusto prefere o projeto pelo qual se apaixona. “A melhor alegria é o caminho, a história de fato. Quando me chamam para um trabalho, chego no set e 80% da equipe me conhece e abre um sorriso de alegria em estar comigo lá. É muito bom. Olho para trás e não me envergonho de nada. Pelo contrário. Tenho orgulho da minha estrada. Já estou no lucro há muito tempo. Estaria feliz com um décimo do que já fiz. E a estrada para frente está bonita”, conclui.
“Na verdade, sou de tudo. Fiquei 28 anos sem sair de cena, emendando um espetáculo no outro, em companhias pelas quais tenho muito respeito. Trabalhei com o Aderbal (Freire-Filho), com Kiki (Dias), com Yara (de Novaes). Teatro para mim é um negócio sério e muito sagrado”, afirma. Apaixonado pelo tablado, Augusto conta que já chegou a fazer três peças (Jacinta, A serpente e 20 mil léguas submarinas), ao mesmo tempo, entre o Rio de Janeiro e São Paulo.
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Se para o leitor é impossível encarar a rotina entre sets de filmagem, para o ator, acredite, chato mesmo é ficar sem fazer nada. “Meu estresse é passar uma semana em casa. Sou workaholic”, confessa. “Minha profissão me traz vitalidade, me divirto por fazer o que faço, me dá saúde”. Mas, mesmo com tanto entusiasmo, Augusto pisou no freio ao encarar um perrengue daqueles quando foi obrigado a pegar mototáxi para sair do Projac, no final da tarde, para chegar antes das 21h a um teatro em Botafogo, em pleno rush. “Nesse dia, parei para repensar minha agenda. Hoje tenho prioridades.”
Apesar da crise em vários setores da economia, Augusto Madeira não é pessimista em relação à queda da produção. “Os grandes financiadores eram as estatais”, pondera. “Mas, pela Lei do Audiovisual, os canais são obrigados a fazer material de conteúdo nacional. Essa obrigação continua lá e, de alguma forma, a produção irá continuar. Conquistamos o mercado que está aí, consolidado. Somos bons de luta. A indústria não vai acabar assim de mão beijada. Não vamos deixá-la ir embora”, defende.
GERAÇÃO
Com experiência no cinema e na TV, Augusto é otimista quanto ao futuro dos roteiristas. “Parece que não, mas a herança nefasta da censura não matou a geração daquela época, matou a geração que estava nascendo. E essa geração que nasceu ali e não escreveu gerou outra geração. Na verdade, agora estamos saindo do buraco. Estamos aprendendo a escrever, a falar da gente. O roteiro de Polidorio, com José de Abreu, é uma coisa redonda. Na primeira leitura, todo mundo caiu aos prantos. O lobo atrás da porta, de Fernando Coimbra, é um primor”, elogia.
Assim como atua em todas as frentes, Augusto não se prende apenas a um gênero. “Em Nise..., faço um personagem com arco incrível e o público se surpreende. Faço muita coisa de humor por ser convidado. Acredito fazer com alguma categoria porque continuam me convidando. Adoro papéis dramáticos. Na série da HBO, minha personagem é cheia de nuances. Sou um ator que gosta de servir à história.”
Ser ator profissional não era prioridade de Augusto aos 16 anos. Com talento para o desenho – “desenhava bem, não perdi o traço” –, foi ver espetáculo encenado por algumas amigas, alunas do curso de teatro de Roberto Bomtempo. “Fui assistir, achei sensacional e entrei ‘não oficialmente’. No final daquele ano, montamos Grease.” Se a admiração pelo palco veio rápido, o mesmo não se pode dizer da postura para encarar a carreira. “Demorei a assumir que era ator. Quando decidi, entrei nesse ritmo. Mal comecei e já queria saber o que tinha pela frente. Peça infantil, teledrama ao vivo? Eu faço. Tudo foi somando, fui aprendendo... Desde novo, metia a cara e não era por necessidade de sobrevivência.”
Depois de dois ou três anos, já firme na carreira, em plena Era Collor, o pai de Augusto, que trabalhava no mercado financeiro, faliu e vendeu casa, escritório, tudo. Foi quando ele se jogou na vida, dividindo apartamento e contas com o ator Bruno Garcia. “Ele estava no elenco de O burguês ridículo com Marco Nanini. No meu caso, de vez em quando caía o dinheiro de um comercial. O Bruno segurava a onda e, muitas vezes, dizia para eu pagar apenas o aluguel da linha telefônica. Somos irmãos.”
Quase 30 anos depois e uma sucessão de trabalhos que parecem não parar tão cedo, Augusto prefere o projeto pelo qual se apaixona. “A melhor alegria é o caminho, a história de fato. Quando me chamam para um trabalho, chego no set e 80% da equipe me conhece e abre um sorriso de alegria em estar comigo lá. É muito bom. Olho para trás e não me envergonho de nada. Pelo contrário. Tenho orgulho da minha estrada. Já estou no lucro há muito tempo. Estaria feliz com um décimo do que já fiz. E a estrada para frente está bonita”, conclui.