O diretor mineiro Neville d’Almeida acaba de completar 75 anos. Mais que celebrar, ele comemora o bom desempenho de seu mais recente trabalho, A frente fria que a chuva traz, filme que marcou sua volta ao cinema comercial depois de 15 anos. “Isso não significa que deixei de trabalhar durante esse período. Muito pelo contrário”, avisa.
Nascido em Belo Horizonte, o cineasta afirma que tem um projeto permanente de filmagem: o Neville Sem Lei. “É sem lei de censura, sem lei de incentivo. Se ficar esperando essas leis de captação e patrocínio, não faço nada. É uma tortura. Tenho trabalhos em todos os formatos: mini, micro, curta e média”, acrescenta.
Em sua casa no Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, ele vive em companhia de quatro cachorros. Durante a entrevista, o espevitado poodle Bob insistia em “participar” da entrevista. “Bob, fica quieto. A conversa é entre mim e a repórter”, brincou Neville, ao telefone.
Desde que estreou, no fim de abril, A frente fria... tem recebido críticas positivas. Liderado por Alison (Johnny Massaro), um grupo de jovens ricos tem o costume de alugar a laje de um barraco na favela carioca do Vidigal para dar festas regadas a bebidas e drogas.
O local pertence a Gru (Flávio Bauraqui), que vive rondando os inquilinos, ora reclamando dos abusos cometidos ora sonhando em fazer parte do mundo daquela turma. Durante o dia, rapazes e moças permanecem na laje aproveitando a bela vista e se bronzeando. Entre as jovens está Amsterdã (Bruna Linzmeyer), garota pobre que se infiltra nas festas de ricos para conseguir drogas, mesmo que para isso ofereça favores sexuais.
“Estou muito feliz com o resultado. Acho que consegui, mais uma vez, fazer um filme moderno, atual, com crítica mordaz e profunda. Ofereço ao espectador um produto de cinema, mesmo. Não faço filmeco, filme água-com-açúcar. É uma coisa artística e nada paliativa”, diz Neville.
BLOCKBUSTER
O currículo desse mineiro é respeitável. Ele dirigiu A dama do lotação, estrelado por Sônia Braga e considerado a quarta maior bilheteria do cinema nacional, com 6,5 milhões de espectadores. Também lançou Os sete gatinhos e Rio Babilônia.
Neville se compara ao músico que toca vários instrumentos, pois se dedica a várias artes. E garante: está sempre atento às mudanças e novidades da profissão. “Já mostrei de tudo: a crueldade, a bondade, o amor, a aventura e a desintegração da família. Tenho repertório muito amplo, sou artista multimídia. Estou totalmente integrado ao meu ofício de cineasta e adaptado ao momento em que vivo, às novas tecnologias, ao digital e às câmeras mais modernas”, ressalta.
MINAS
Apesar de morar há décadas no Rio de Janeiro, Neville d’Almeida garante: não perdeu as raízes e a essência mineira. Vem sempre que pode a Belo Horizonte visitar os irmãos e primos, quando não a trabalho, como ocorreu em abril, durante a reabertura do Cine Santa Tereza.
“Sou de BH, sou mineiro, sou minério e, mais do que isso, sou América. Estou muito feliz com a conquista do Campeonato Mineiro”, comemora. Outro motivo de alegria é ter sua obra “no pavilhão mais popular de Inhotim”. Neville se refere ao pavilhão que abriga as Cosmococas, criação em parceria com Hélio Oiticica.
A partir de agora, ele promete visitar Belo Horizonte com mais frequência. O motivo é outra parceria audaciosa, desta vez com o cineasta Geraldo Veloso. Trata-se da minissérie Minas Babilônia, que inicialmente terá oito episódios. O cineasta quer envolver os conterrâneos em todas as etapas da produção – cita atores, cenógrafos e figurinistas. Diz que também pretende trazer para trabalhar com ele os mineiros “exilados” em outros lugares.
“Minas é o mundo, é poesia, é vício, é virtude, é amor, é crime, é redenção, é história, é barroco, é contemporânea. Minas é tão ampla, grande e profunda que esse projeto será assim também. Vamos falar de tudo que envolve o estado”, resume.
Da vanguarda ao blockbuster
Neville Duarte de Almeida nasceu em 1941, em Belo Horizonte. Na década de 1960, mudou-se para o Rio de Janeiro. É fotógrafo, desenhista, escultor, artista visual e cineasta. Nos anos 1960 e 1970, morou em Nova York e Londres, experiências marcantes para sua obra.
Homem de vanguarda, dirigiu filmes censurados pela ditadura militar: Mangue bangue, Surucucu catiripapo e Gatos da noite, todos da década de 1970 e praticamente inéditos. Porém, soube se aproximar do grande público e do mercado com o blockbuster A dama do lotação. Adaptou para as telas Os sete gatinhos, de Nelson Rodrigues, também autor de A dama..., e Navalha na carne, clássico do dramaturgo Plínio Marcos.
IMAGEM-ESPETÁCULO
Como artista visual, Neville se juntou a Hélio Oiticica (1937-1980) para criar as Cosmococas, série que explora ambientes sensoriais sob o conceito de “quasi-cinema”, com projeção de slides, trilhas sonoras e elementos táteis. A dupla chamou a atenção do mundo com suas criações, destacando-se no segmento da arte contemporânea por explorar pioneiramente a relação do público com a imagem-espetáculo.
No Instituto Inhotim, em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, um pavilhão especial guarda Trashiscapes, Onobject, Maileryn, Nocagions e Hendrix-War – cinco Cosmococas.
FILMES
2016
A frente fria que a chuva traz
1999
Hoje é dia de rock
1997
Navalha na carne
1991
Matou a família e foi ao cinema
1982
Rio Babilônia
1980
Música para sempre
1980
Os sete gatinhos
1978
A dama do lotação
1973
Surucucu catiripapo
1972
Gatos da noite
1971
Mangue bangue
1971
Piranhas do asfalto
1970
Jardim de guerra
Nascido em Belo Horizonte, o cineasta afirma que tem um projeto permanente de filmagem: o Neville Sem Lei. “É sem lei de censura, sem lei de incentivo. Se ficar esperando essas leis de captação e patrocínio, não faço nada. É uma tortura. Tenho trabalhos em todos os formatos: mini, micro, curta e média”, acrescenta.
Em sua casa no Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, ele vive em companhia de quatro cachorros. Durante a entrevista, o espevitado poodle Bob insistia em “participar” da entrevista. “Bob, fica quieto. A conversa é entre mim e a repórter”, brincou Neville, ao telefone.
Desde que estreou, no fim de abril, A frente fria... tem recebido críticas positivas. Liderado por Alison (Johnny Massaro), um grupo de jovens ricos tem o costume de alugar a laje de um barraco na favela carioca do Vidigal para dar festas regadas a bebidas e drogas.
O local pertence a Gru (Flávio Bauraqui), que vive rondando os inquilinos, ora reclamando dos abusos cometidos ora sonhando em fazer parte do mundo daquela turma. Durante o dia, rapazes e moças permanecem na laje aproveitando a bela vista e se bronzeando. Entre as jovens está Amsterdã (Bruna Linzmeyer), garota pobre que se infiltra nas festas de ricos para conseguir drogas, mesmo que para isso ofereça favores sexuais.
“Estou muito feliz com o resultado. Acho que consegui, mais uma vez, fazer um filme moderno, atual, com crítica mordaz e profunda. Ofereço ao espectador um produto de cinema, mesmo. Não faço filmeco, filme água-com-açúcar. É uma coisa artística e nada paliativa”, diz Neville.
BLOCKBUSTER
O currículo desse mineiro é respeitável. Ele dirigiu A dama do lotação, estrelado por Sônia Braga e considerado a quarta maior bilheteria do cinema nacional, com 6,5 milhões de espectadores. Também lançou Os sete gatinhos e Rio Babilônia.
Neville se compara ao músico que toca vários instrumentos, pois se dedica a várias artes. E garante: está sempre atento às mudanças e novidades da profissão. “Já mostrei de tudo: a crueldade, a bondade, o amor, a aventura e a desintegração da família. Tenho repertório muito amplo, sou artista multimídia. Estou totalmente integrado ao meu ofício de cineasta e adaptado ao momento em que vivo, às novas tecnologias, ao digital e às câmeras mais modernas”, ressalta.
MINAS
Apesar de morar há décadas no Rio de Janeiro, Neville d’Almeida garante: não perdeu as raízes e a essência mineira. Vem sempre que pode a Belo Horizonte visitar os irmãos e primos, quando não a trabalho, como ocorreu em abril, durante a reabertura do Cine Santa Tereza.
“Sou de BH, sou mineiro, sou minério e, mais do que isso, sou América. Estou muito feliz com a conquista do Campeonato Mineiro”, comemora. Outro motivo de alegria é ter sua obra “no pavilhão mais popular de Inhotim”. Neville se refere ao pavilhão que abriga as Cosmococas, criação em parceria com Hélio Oiticica.
A partir de agora, ele promete visitar Belo Horizonte com mais frequência. O motivo é outra parceria audaciosa, desta vez com o cineasta Geraldo Veloso. Trata-se da minissérie Minas Babilônia, que inicialmente terá oito episódios. O cineasta quer envolver os conterrâneos em todas as etapas da produção – cita atores, cenógrafos e figurinistas. Diz que também pretende trazer para trabalhar com ele os mineiros “exilados” em outros lugares.
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“Minas é o mundo, é poesia, é vício, é virtude, é amor, é crime, é redenção, é história, é barroco, é contemporânea. Minas é tão ampla, grande e profunda que esse projeto será assim também. Vamos falar de tudo que envolve o estado”, resume.
Da vanguarda ao blockbuster
Neville Duarte de Almeida nasceu em 1941, em Belo Horizonte. Na década de 1960, mudou-se para o Rio de Janeiro. É fotógrafo, desenhista, escultor, artista visual e cineasta. Nos anos 1960 e 1970, morou em Nova York e Londres, experiências marcantes para sua obra.
Homem de vanguarda, dirigiu filmes censurados pela ditadura militar: Mangue bangue, Surucucu catiripapo e Gatos da noite, todos da década de 1970 e praticamente inéditos. Porém, soube se aproximar do grande público e do mercado com o blockbuster A dama do lotação. Adaptou para as telas Os sete gatinhos, de Nelson Rodrigues, também autor de A dama..., e Navalha na carne, clássico do dramaturgo Plínio Marcos.
IMAGEM-ESPETÁCULO
Como artista visual, Neville se juntou a Hélio Oiticica (1937-1980) para criar as Cosmococas, série que explora ambientes sensoriais sob o conceito de “quasi-cinema”, com projeção de slides, trilhas sonoras e elementos táteis. A dupla chamou a atenção do mundo com suas criações, destacando-se no segmento da arte contemporânea por explorar pioneiramente a relação do público com a imagem-espetáculo.
No Instituto Inhotim, em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, um pavilhão especial guarda Trashiscapes, Onobject, Maileryn, Nocagions e Hendrix-War – cinco Cosmococas.
FILMES
2016
A frente fria que a chuva traz
1999
Hoje é dia de rock
1997
Navalha na carne
1991
Matou a família e foi ao cinema
1982
Rio Babilônia
1980
Música para sempre
1980
Os sete gatinhos
1978
A dama do lotação
1973
Surucucu catiripapo
1972
Gatos da noite
1971
Mangue bangue
1971
Piranhas do asfalto
1970
Jardim de guerra