Nascido em Belo Horizonte, o cineasta afirma que tem um projeto permanente de filmagem: o Neville Sem Lei. “É sem lei de censura, sem lei de incentivo. Se ficar esperando essas leis de captação e patrocínio, não faço nada. É uma tortura. Tenho trabalhos em todos os formatos: mini, micro, curta e média”, acrescenta.
Em sua casa no Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, ele vive em companhia de quatro cachorros.
Desde que estreou, no fim de abril, A frente fria... tem recebido críticas positivas. Liderado por Alison (Johnny Massaro), um grupo de jovens ricos tem o costume de alugar a laje de um barraco na favela carioca do Vidigal para dar festas regadas a bebidas e drogas.
O local pertence a Gru (Flávio Bauraqui), que vive rondando os inquilinos, ora reclamando dos abusos cometidos ora sonhando em fazer parte do mundo daquela turma. Durante o dia, rapazes e moças permanecem na laje aproveitando a bela vista e se bronzeando. Entre as jovens está Amsterdã (Bruna Linzmeyer), garota pobre que se infiltra nas festas de ricos para conseguir drogas, mesmo que para isso ofereça favores sexuais.
“Estou muito feliz com o resultado. Acho que consegui, mais uma vez, fazer um filme moderno, atual, com crítica mordaz e profunda. Ofereço ao espectador um produto de cinema, mesmo. Não faço filmeco, filme água-com-açúcar. É uma coisa artística e nada paliativa”, diz Neville.
BLOCKBUSTER
Neville se compara ao músico que toca vários instrumentos, pois se dedica a várias artes. E garante: está sempre atento às mudanças e novidades da profissão.
MINAS
Apesar de morar há décadas no Rio de Janeiro, Neville d’Almeida garante: não perdeu as raízes e a essência mineira. Vem sempre que pode a Belo Horizonte visitar os irmãos e primos, quando não a trabalho, como ocorreu em abril, durante a reabertura do Cine Santa Tereza.
“Sou de BH, sou mineiro, sou minério e, mais do que isso, sou América. Estou muito feliz com a conquista do Campeonato Mineiro”, comemora. Outro motivo de alegria é ter sua obra “no pavilhão mais popular de Inhotim”. Neville se refere ao pavilhão que abriga as Cosmococas, criação em parceria com Hélio Oiticica.
A partir de agora, ele promete visitar Belo Horizonte com mais frequência. O motivo é outra parceria audaciosa, desta vez com o cineasta Geraldo Veloso. Trata-se da minissérie Minas Babilônia, que inicialmente terá oito episódios. O cineasta quer envolver os conterrâneos em todas as etapas da produção – cita atores, cenógrafos e figurinistas.
“Minas é o mundo, é poesia, é vício, é virtude, é amor, é crime, é redenção, é história, é barroco, é contemporânea. Minas é tão ampla, grande e profunda que esse projeto será assim também. Vamos falar de tudo que envolve o estado”, resume.
Da vanguarda ao blockbuster
Neville Duarte de Almeida nasceu em 1941, em Belo Horizonte. Na década de 1960, mudou-se para o Rio de Janeiro. É fotógrafo, desenhista, escultor, artista visual e cineasta. Nos anos 1960 e 1970, morou em Nova York e Londres, experiências marcantes para sua obra.
Homem de vanguarda, dirigiu filmes censurados pela ditadura militar: Mangue bangue, Surucucu catiripapo e Gatos da noite, todos da década de 1970 e praticamente inéditos. Porém, soube se aproximar do grande público e do mercado com o blockbuster A dama do lotação. Adaptou para as telas Os sete gatinhos, de Nelson Rodrigues, também autor de A dama..., e Navalha na carne, clássico do dramaturgo Plínio Marcos.
IMAGEM-ESPETÁCULO
Como artista visual, Neville se juntou a Hélio Oiticica (1937-1980) para criar as Cosmococas, série que explora ambientes sensoriais sob o conceito de “quasi-cinema”, com projeção de slides, trilhas sonoras e elementos táteis. A dupla chamou a atenção do mundo com suas criações, destacando-se no segmento da arte contemporânea por explorar pioneiramente a relação do público com a imagem-espetáculo.
No Instituto Inhotim, em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, um pavilhão especial guarda Trashiscapes, Onobject, Maileryn, Nocagions e Hendrix-War – cinco Cosmococas.
FILMES
2016
A frente fria que a chuva traz
1999
Hoje é dia de rock
1997
Navalha na carne
1991
Matou a família e foi ao cinema
1982
Rio Babilônia
1980
Música para sempre
1980
Os sete gatinhos
1978
A dama do lotação
1973
Surucucu catiripapo
1972
Gatos da noite
1971
Mangue bangue
1971
Piranhas do asfalto
1970
Jardim de guerra.