De um lado, o cinema marginal de Neville d’Almeida e seus quase 50 anos dedicados às telas.
Os jovens de Neville são rebeldes sem causa – vazios, sem limites e apegados ao poder do dinheiro. Os jovens de Vera são anti-heróis – com humor e atitude superam desventuras amorosas e profissionais.
Neville d’Almeida conta que há sete anos está envolvido com o projeto de A frente fria..., baseado na peça homônima do dramaturgo Mário Bortolotto. A narrativa reflete o comportamento dos jovens da classe dominante brasileira, explica o diretor.
“São pessoas que não têm ideal, nenhum objetivo, estão totalmente perdidas. Sem contar que não têm sensibilidade alguma, seja social, cultural, ética, moral ou espiritual. Eles apenas têm dinheiro, acham que podem comprar tudo e todos”, comenta Neville.
O cineasta lamenta o fato de esse comportamento se tornar cada vez mais frequente tanto nas metrópoles quanto nas cidades do interior.
Neville d’Almeida quer surpreender o público. “O espectador vai sentir um impacto muito grande. A produção traz uma transgressão poética e verbal nunca usada no cinema brasileiro. Os diálogos são fortes, pois essa é exatamente a maneira como aqueles jovens falam”, observa.
CLASSE MÉDIA Amores urbanos, de Vera Egito, volta-se para a classe média das metrópoles. Juntos, os amigos Júlia (Maria Laura Nogueira), Diego (Thiago Pethit) e Micaela (Renata Gaspar) enfrentam os momentos bons e ruins da vida. Vera, de 34 anos, assina o roteiro. “É uma espécie de crônica. Fui coletando histórias e formando as minhas ideias. Os personagens estão na faixa dos 30, não são mais tão jovens e enfrentam várias crises”, explica.
O filme fala de gente que teve muitas oportunidades e, sobretudo, conquistou liberdade. “É uma geração que se assume, em todos os sentidos.
O longa questiona o fim da juventude em meio a encontros e desencontros amorosos. “Você é jovem enquanto consegue ser transgressor e age de acordo com o que acredita, mesmo que o entorno diga não. Principalmente enquanto tem coragem de atuar da forma mais verdadeira para você mesmo. Quando começa a ficar medroso, careta, e a perder a capacidade de transgredir e revolucionar, deixa de ser jovem. Juventude tem muito mais a ver com atitude do que com idade”, conclui.
O PESO DA OUSADIA
Amores urbanos traz dois estreantes em longas, os cantores e compositores Thiago Pethit e Ana Cañas, ambos formados em artes cênicas. Ele faz o papel de Diego, gay que não quer saber de monogamia e tem relação complexa com os pais. Ana interpreta Duda, atriz que não se assume lésbica por temer perder trabalhos.
Thiago, de 30 anos, conta que foi um pouco assustador aceitar o convite da amiga Vera Egito, pois não atuava há muitos anos. Porém, a experiência se mostrou prazerosa. “Era um ambiente de muita confiança, que me permitiu liberdade para experimentar e, especialmente, aprender. Essa troca de aprendizado é o que mais levo em consideração quando vou fazer um trabalho, seja ele de que natureza for”, diz.
Outro motivo para mergulhar de cabeça no projeto foi o fato de Diego ser um personagem escrito exclusivamente para Thiago.
A frente fria que a chuva traz conta a história de Amsterdã (Bruna Linzmeyer), garota pobre que convive com milionários cariocas. Ela se prostitui para consumir drogas, enquanto Alisson (Johnny Massaro) e Espeto (Chay Sued) comandam festa na laje de um barraco de favela, alugada de Gru (Flávio Bauraqui), movida a drogas, álcool, sexo e tensão social.
A FRENTE FRIA QUE A CHUVA TRAZ
(2015, 110min, de Neville D’Almeida, com Chay Suede, Bruna Linzmeyer e Michel Melamed). Classificação: 16 anos. Em cartaz no Paragem 4, às 15h30 e às 19h15.
AMORES URBANOS
(2015, 96min, de Vera Egito, com Thiago Pethit,
Maria Laura Nogueira e Renata Gaspar). Classificação: 14 anos. Em cartaz no Belas 3, às 17h50 e às 21h40; e no Cidade 1, às 16h30, 18h35 e às 20h40. .