Ambientado no pós-guerra, com a Palestina ainda sob domínio britânico, o longa mostra as dificuldades de estabelecimento do Estado israelense e os conflitos nascentes entre judeus e palestinos. Mas a opção de Natalie é deixar a política como difuso pano de fundo, enquanto se concentra nas relações familiares. Em especial, na relação entre filho e mãe.
E é a figura da mãe a que mais se destaca. Fania era uma pessoa sensível e problemática. Sentia-se solitária, vivia um casamento frio e distante, compensava o vazio existencial com conversas íntimas com o filho, Amos (Amir Tessler), a quem tratava como adulto. Pode-se imaginar a importância que essa convivência precoce com problemas da idade adulta teve sobre a criança que um dia seria escritor.
Natalie, nascida em Israel e radicada de pequena nos EUA, opta pela radical decisão de fazer um filme falado em hebraico. Do ponto de vista da dramaturgia, as opções são mais conservadoras. Busca-se o naturalismo de sempre e, nesse contexto, Natalie sente-se bem à vontade. É o registro quase exclusivo do cinema norte-americano contemporâneo, no qual ela atua. Em termos visuais, o filme é bonito, um tanto calcado em tons escuros, guardando o viés retrô que talvez convenha à história.
A trama tem um tom dramático, que tende ao trágico. No entanto, a diretora estreante em longas-metragens prefere tratar tudo de maneira discreta, sóbria, contida. Bem, tudo, na vida e na arte, é questão de dose. Nesse tipo de situação, o exagero talvez soasse um tanto vulgar. Por temer esse risco, Natalie se aproxima do extremo oposto, e esteriliza em demasia as emoções.
A impressão que fica é a de um filme correto, porém algo frio. E, o que é um tanto limitante num diretor novato que deseja impor sua marca, sem a afirmação de estilo próprio. Talento não parece faltar a Natalie nessa outra faceta de sua carreira no cinema. Talvez lhe tenha faltado ousadia ao abordar tema tão próximo. (Luiz Zanin Oricchio/AE).