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Filme sobre futebol vence Festival Internacional de Documentário É tudo verdade

Longa-metragem de Sérgio Oksman, que saiu vencedor na competição brasileira do evento, fala mais da relação do diretor com seu pai do que sobre o esporte

Agência Estado

- Foto: Reprodução/Internet

Pode ser que o 21º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade não tenha tido tanto público como algumas edições anteriores. Amir Labaki ainda não dispunha dos números definitivos após a cerimônia de premiação no sábado, mas concordava com o que se podia ver a olho nu. As sessões de pré-estreias da competição brasileira, à noite, sempre lotadas, dessa vez exibiam clarões de público. "Já tivemos anos anteriores com menos público e esse foi atípico. Estamos num momento político muito tenso, não é só o É Tudo Verdade que está perdendo espaço para o noticiário hard."

De qualquer maneira, foi uma grande edição do evento, e os dois júris, nacional e internacional, reconheceram isso. Mesmo assim, podem-se discutir certas escolhas dos dois júris. Os vencedores de ambas as competições, a brasileira e a internacional, foram filmes realizados na primeira pessoa. Confessionais, autobiográficos.
Mera coincidência ou terá sido a (dupla) consagração de uma tendência no É Tudo Verdade?

Sérgio Oksman, brasileiro radicado na Espanha, venceu a competição brasileira com O futebol. A poucos dias da realização da Copa no Brasil, Sérgio contactou o pai, de quem vivia afastado. O futebol sempre havia sido a ligação entre os dois. Menino, o pai levava-o aos estádios para ver seu time jogar. E se os dois vissem a Copa juntos, em primeiro lugar? E, se, desse reencontro, fosse feito um filme? A produtora Zita Carvalhosa montou uma equipe pequena e eficiente. Tudo foi feito e decidido rapidamente. O que Sérgio nem o pai podiam prever foi o que ocorreu durante o processo. Não, não foi o vexame dos 7 a 1 perante a Alemanha.

Mais que um filme de conversas entre pai e filho, é um filme de silêncios. Eles estão juntos, mas talvez não próximos como Sérgio e até o pai gostariam. O futebol venceu na categoria longa. O melhor curta brasileiro, segundo o júri, foi Abissal, de Arthur Leite. Um jovem tenta levar uma investigação sobre o avô, que sumiu da vida familiar, quando ele era criança. A avó decide contar a história da traição do marido.
Segredos familiares vêm à tona.

 

Com as qualidades que O futebol possa ter e tem, muita gente, no final, confessava que gostaria de ver uma inversão na decisão do júri. O colegiado atribuiu uma menção honrosa a Imagens do Estado Novo - 1937/45 e o longa de Eduardo Escorel - põe longa nisso: quase quatro horas -, enriquecido por minuciosa pesquisa e rico material iconográfico, possui o que se chama de urgência política. Discute a República e o Estado Novo, e os golpes que, ao longo da História, têm ameaçado a democracia brasileira. "Vamos começar agora a batalha da distribuição", disse o produtor Cláudio Kahns. Um filme de mais de 200 minutos, e documentário ainda por cima, não vai ser fácil para conseguir chegar ao mercado.

O curta brasileiro tem tudo a ver com o longa que venceu a competição internacional. Um caso de família é uma coprodução de Holanda, Bélgica e Dinamarca dirigida por Tom Fassaert. O próprio diretor, presente no Cinearte - onde houve a premiação - destacou o caráter confessional da obra. "Durante muito tempo era eu sozinho, com minha câmera, tentando montar uma estrutura narrativa." Ele agradeceu ao produtor e a seus montadores, mas agradeceu, principalmente, aos personagens de sua história (real). "Thanks, grandma", e Fassaert olhou para cima, para o céu.

Outra avó, mas essa, ao contrário da avó do curta brasileiro, foi uma femme fatale. Um caso de família narra a história dessa avó devoradora de homens.

O júri também premiou o curta A visita, de Pippo Delbono, e, pela segunda vez, os curtas vencedores do É Tudo Verdade estão pré-selecionados para o Oscar de Hollywood, já que, em 2015, o festival foi reconhecido pela Academia como evento pré-classificatório, na categoria documentário, de sua estatueta dourada. Delbono é um importante autor - ator, dramaturgo e encenador - do teatro italiano e, em seu filme, coloca Michel Lonsdale, ator mítico francês, numa cadeira de rodas e em visita ao palácio de Versalhes. Acompanhado pelo diretor, também em cadeira de rodas, Lonsdale percorre o cenário fantasmagórico - deserto - do que já foi a representação do poder na França.

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