Ave, César fala sobre Hollywood. Não a de hoje, refém de super-heróis e efeitos especiais, mas a chamada época de ouro dos estúdios, nos anos 1950. Era quando as grandes empresas da área detinham total controle dos astros, não apenas em relação à vida profissional, mas também a pessoal. É esse o cenário de trabalho de Eddie Mannix (Josh Brolin), produtor responsável por manter as estrelas na linha, fazer as escalações e garantir a conclusão das obras.
O problemão que ele tem pela frente é que o astro principal da próxima produção Baird Whitlock (George Clooney), também chamada Ave, César, foi sequestrado. É missão de Mannix encontrá-lo, despistar a imprensa, ao mesmo tempo em que resolve a gravidez inesperada da estrela DeeAnna Moran (Scarlett Johansson) ou a falta de talento de Hobie Doyle (Alden Ehrenreich), ator de western escalado para uma produção de estúdio.
Ethan e Joel oferecem uma obra irônica com a qual os iniciados na história do cinema vão se divertir mais.
Mas, apesar de empacotadas em uma estética hollywoodiana da década de 1950, há também críticas às dinâmicas contemporâneas, como a greve dos roteiristas de Hollywood em 2007. Os sequestradores de Baird Whitlock são roteiristas comunistas. Cometem o crime como um ato contra a desigualdade na distribuição da verba. No caso, estúdios, diretores e atores sempre levaram a maior parte do bolo.
Como toda boa produção de época, a direção de arte e figurinos são impecáveis. Destaque para as coreografias nas cenas de musicais, uma bela homenagem ao gênero que fazia muito sucesso na época. Tem até uma aura kitsch, que combina com a estética geral do longa.
Ave, César é caricato em diversos aspectos, sobretudo na atuação. Mas ser exagerado faz parte da ironia da proposta. O espectador que não relaxar em relação a isso corre o risco de achar o filme bobo. Em certo sentido, é mesmo. Mas tem horas em que é preciso não se levar tão a sério. Desta vez, Ethan e Joel Coen se dão esse desconto.
SAIBA MAIS
O QUE FOI O STAR SYSTEM
Vigente na Hollywood dos anos 1940, o star system foi um sistema de contratos exclusivos organizado pelos grandes estúdios de cinema. Os documentos tinham cláusulas que extrapolavam a atividade-fim dos atores, interferindo em sua vida pessoal. Todos os aspectos que pudessem impactar na carreira eram controlados: os namoros, os casamentos, as separações, as roupas, os hábitos em geral. Segundo o pensador francês Edgar Morin, era um mecanismo para transformar estrelas em divindades, transmitir sensações de beleza e poder. São ícones deste modelo James Dean, Marilyn Monroe e Ava Gardner.
COTAÇÃO: BOM.