A relação intensa de paixão entre duas mulheres é misteriosamente interrompida. O aconchego de um lar de repente dá lugar ao abandono e ao frio de florestas suecas. Por meio de um monólogo interior e da dança, o espectador é convidado a dividir a angústia com a personagem que é deixada para trás por sua companheira. Esse é o tom do filme Onde o mar descansa, da diretora belo-horizontina Fernanda Lippi e de seu marido, o suíço André Semenza, que estreia hoje em Belo Horizonte.
O longa é um poema visual não linear que mergulha ora na dor da realidade, ora no subconsciente da protagonista, interpretada por Lívia Rangel, que não tem seu nome revelado em nenhum momento. É difícil distinguir se o que está na tela é o que a personagem presencia fisicamente ou se estamos imersos na vastidão de sua mente. A dança contemporânea é um recurso para expressar a angústia e o desassossego da amante. O filme escancara a contradição de se lidar com a perda em um ambiente de tamanha beleza, mas, ao mesmo tempo, de tamanho isolamento. A dupla de diretores é criadora da companhia de dança e teatro Zikzira, que tem sede em Londres e uma filial em Belo Horizonte. A coreógrafa Fernanda Lippi, que além de dirigir o filme ainda interpreta a amada da personagem principal, diz que toda a equipe teve que superar as dificuldades impostas pelo frio nas locações nas florestas suecas. “Trabalhamos com uma ideia de que tudo que estávamos fazendo no estúdio de ensaios sairia diferente quando fôssemos para a locação. Esse trabalho exigiu técnica e preparação corporal da Lívia. Além disso, tínhamos uma ‘equipe de sobrevivência’ que dava suporte ao elenco”, conta.
Quando as personagens aparecem juntas, os movimentos são mais leves, graciosos. Ao se separarem, a coreografia é catártica, mas os movimentos representam sempre o estado psicológico da personagem e não de quem a interpreta. Em alguns momentos de maior intensidade no filme, a atriz demonstra capacidades físicas e emocionais surpreendentes. “Tem que ter muito controle para não segurar tudo aquilo que o personagem pode dar”, avalia a diretora.
GELO Onde o mar descansa foi filmado em um ambiente que tem uma relevância muito maior do que servir de mero pano de fundo para as personagens. Registrado sempre em sua luz natural pelo diretor de fotografia Marcus Waterloo, o ambiente norteia a estrutura dramática. “Deixa de ser um cenário para ser aquilo que você vive nele. Demos um jeito de passar esse local até para a roupa que a personagem da Lívia veste: enterramos o figurino no gelo por cerca de três dias para que ele chegasse na textura que queríamos. Ela ‘vestiu’ a locação”, conta Lippi.
Quase todo o texto do filme foi retirado de trechos de poemas datados entre os séculos 15 e 20. As principais referências são o poeta Swinburne (1837-1909) e as poetisas Renée Vivien (1877-1909) e Katherine Phillips (1632-1634). André Semenza disse que as fontes foram encontradas durante uma intensa pesquisa sobre literatura lésbica. “São poetas que se encaixam bem no que estávamos procurando, pois representam a fuga do mundo das limitações”, diz o diretor. O filme alterna essas poesias com alguns trechos escritos por Fernanda Lippi. Filho de pai italiano e mãe sueca, Semenza diz que conhece bem o país de locação de Onde o mar descança e que uma história local também o influenciou a pensar sobre o longa. “A sociedade da Suécia é muito ligada aos mistérios das florestas e aos espíritos que ali habitariam. Quando estava lá no país de origem da minha mãe, ouvi a história de um pai de família que um certo dia se levantou, foi para a floresta e nunca mais voltou para casa. Esse foi um gancho para a ideia central do filme”, conta o cineasta.
A poética do filme é acentuada pela trilha sonora composta pela banda The Hafler Trio – que usou sons produzidos pelo próprio elenco durante o processo de filmagem – e pelo trabalho do designer de som Glenn Freemantle, ganhador do Oscar por Gravidade e de dois prêmios Bafta, novamente por Gravidade e por Quem quer ser um milionário?
O outro longa dirigido pelo casal André Semenza e Fernanda Lippi que chegou aos cinemas brasileiros foi As cinzas de Deus, em 2003. Os diretores avaliam que o primeiro trabalho teve boa recepção por parte do público. “Estamos muito empolgados por voltar a trazer um filme para as salas brasileiras. Independentemente de ser um filme europeu, acho que é um trabalho poético, humano. Qualquer um, seja brasileiro, americano ou de qualquer parte do mundo, pode se entregar à viagem”, diz o diretor.
O longa é um poema visual não linear que mergulha ora na dor da realidade, ora no subconsciente da protagonista, interpretada por Lívia Rangel, que não tem seu nome revelado em nenhum momento. É difícil distinguir se o que está na tela é o que a personagem presencia fisicamente ou se estamos imersos na vastidão de sua mente. A dança contemporânea é um recurso para expressar a angústia e o desassossego da amante. O filme escancara a contradição de se lidar com a perda em um ambiente de tamanha beleza, mas, ao mesmo tempo, de tamanho isolamento. A dupla de diretores é criadora da companhia de dança e teatro Zikzira, que tem sede em Londres e uma filial em Belo Horizonte. A coreógrafa Fernanda Lippi, que além de dirigir o filme ainda interpreta a amada da personagem principal, diz que toda a equipe teve que superar as dificuldades impostas pelo frio nas locações nas florestas suecas. “Trabalhamos com uma ideia de que tudo que estávamos fazendo no estúdio de ensaios sairia diferente quando fôssemos para a locação. Esse trabalho exigiu técnica e preparação corporal da Lívia. Além disso, tínhamos uma ‘equipe de sobrevivência’ que dava suporte ao elenco”, conta.
Quando as personagens aparecem juntas, os movimentos são mais leves, graciosos. Ao se separarem, a coreografia é catártica, mas os movimentos representam sempre o estado psicológico da personagem e não de quem a interpreta. Em alguns momentos de maior intensidade no filme, a atriz demonstra capacidades físicas e emocionais surpreendentes. “Tem que ter muito controle para não segurar tudo aquilo que o personagem pode dar”, avalia a diretora.
GELO Onde o mar descansa foi filmado em um ambiente que tem uma relevância muito maior do que servir de mero pano de fundo para as personagens. Registrado sempre em sua luz natural pelo diretor de fotografia Marcus Waterloo, o ambiente norteia a estrutura dramática. “Deixa de ser um cenário para ser aquilo que você vive nele. Demos um jeito de passar esse local até para a roupa que a personagem da Lívia veste: enterramos o figurino no gelo por cerca de três dias para que ele chegasse na textura que queríamos. Ela ‘vestiu’ a locação”, conta Lippi.
Quase todo o texto do filme foi retirado de trechos de poemas datados entre os séculos 15 e 20. As principais referências são o poeta Swinburne (1837-1909) e as poetisas Renée Vivien (1877-1909) e Katherine Phillips (1632-1634). André Semenza disse que as fontes foram encontradas durante uma intensa pesquisa sobre literatura lésbica. “São poetas que se encaixam bem no que estávamos procurando, pois representam a fuga do mundo das limitações”, diz o diretor. O filme alterna essas poesias com alguns trechos escritos por Fernanda Lippi. Filho de pai italiano e mãe sueca, Semenza diz que conhece bem o país de locação de Onde o mar descança e que uma história local também o influenciou a pensar sobre o longa. “A sociedade da Suécia é muito ligada aos mistérios das florestas e aos espíritos que ali habitariam. Quando estava lá no país de origem da minha mãe, ouvi a história de um pai de família que um certo dia se levantou, foi para a floresta e nunca mais voltou para casa. Esse foi um gancho para a ideia central do filme”, conta o cineasta.
A poética do filme é acentuada pela trilha sonora composta pela banda The Hafler Trio – que usou sons produzidos pelo próprio elenco durante o processo de filmagem – e pelo trabalho do designer de som Glenn Freemantle, ganhador do Oscar por Gravidade e de dois prêmios Bafta, novamente por Gravidade e por Quem quer ser um milionário?
O outro longa dirigido pelo casal André Semenza e Fernanda Lippi que chegou aos cinemas brasileiros foi As cinzas de Deus, em 2003. Os diretores avaliam que o primeiro trabalho teve boa recepção por parte do público. “Estamos muito empolgados por voltar a trazer um filme para as salas brasileiras. Independentemente de ser um filme europeu, acho que é um trabalho poético, humano. Qualquer um, seja brasileiro, americano ou de qualquer parte do mundo, pode se entregar à viagem”, diz o diretor.