O novo Rua Cloverfield, 10 seria uma espécie de continuação dessa premissa, a julgar pelo título. Só que J.J. Abrams fez algo inusitado: apostou suas fichas num outro time de roteiristas e no novato Dan Trachtenberg, que faz sua estreia como diretor. Essa decisão transformou o projeto em algo completamente diferente da produção anterior.
A escolha desse ambiente fechado torna-se o ponto alto da proposta. Se antes a limitação mostrada na filmagem tinha a desculpa de ter sido feita por um personagem que vivia os fatos, agora esse limite é dado pelo cenário. É a partir daí que o talento de Trachtenberg desponta. Ele inicia o filme prestando uma homenagem a Psicose, de Alfred Hitchcock, e depois vai buscando a sua própria linguagem por meio de trucagens e posicionamento de câmera para ressaltar um clima de paranoia, um flagelo presente hoje entre os americanos.
A partir dessa escolha, o medo e o questionamento sobre o que realmente está ocorrendo vão aumentando em meio à trinca de personagens. A relação entre dúvida e certeza é desenvolvida de forma equilibrada, num jogo cênico que arrasta o espectador para dentro da trama. Tudo isso corroborado por boas atuações do elenco, com destaque para Goodman, que sabe como ninguém alternar o típico bonachão (O natal dos Cooper) e um psicopata aterrorizante (Barton Fink).
Essa ambivalência atinge o público, que se sente preso num local fechado com um possível serial killer. Pena que, no terceiro ato, o filme abandone a premissa inicial para ser mais do mesmo e mergulhar numa sequência desastrosa, em estilo filme de herói com direito a uniforme e uma solução à la MacGyver. .