'Decisão de risco' discute tecnologia de guerra e apresenta combate ao terror por outro ângulo

Longa que estreia hoje, dia 7, é o último filme do ator Alan Rickman, que morreu no início deste ano. Ele vive general responsável por costuras políticas

por Carolina Braga 07/04/2016 10:06
Paris Filmes/Divulgação
(foto: Paris Filmes/Divulgação)
O que está por trás do disparo de um míssil? Qual o peso político de uma decisão militar como essa? Quem articula? Como articula? Decisão de risco, filme com a participação derradeira do ator Alan Rickman, apresenta tais questões para seu espectador sem respostas prontas. É um curioso retrato da guerra, mais do ponto de vista institucional do que propriamente militar, ainda que um lado não viva sem o outro em qualquer conflito desta natureza.

O longa começa com a apresentação da intimidade da coronela Katherine Powell (Helen Mirren). Não há a ansiedade na direção de Gavin Hood (Ender’s game e X-Men origens). Da Inglaterra, ela coordena uma delicada operação em Nairobi, no Quênia: o encontro de três terroristas. Powell comanda a equipe remotamente e, com a ajuda de drones, acompanha a perseguição.

Helen Mirren é, como sempre, competente como a coronela Powell, mas muito dura emocionalmente. Em nenhum momento a atriz revela como a mulher é afetada pela operação. É a mesma cristalização do general Frank Benson, interpretado por Alan Rickman (1946–2016), com a diferença que há nele um olhar mais sarcástico. O contrário vale para jovem ator Aaron Paul (o Jesse Pinkman de Breaking Bad). Ele transita muito bem entre o conflito pessoal e profissional do militar.

Os primeiros 30 minutos são dedicados a construir – calmamente – o cenário em torno da coronela, sua relação com a equipe e, sobretudo, com o objeto da operação. Nesse começo, Decisão de risco aborda tecnologia de guerra, no caso os drones. Os modelos são diversos. Há drone-pássaro, drone-besouro e por aí vai. O uso dos equipamentos pode até ter ética questionável, mas isso o filme deixa para a avaliação do espectador.

Cada segundo da caça é transmitida ao vivo para a central de operações do Exército em Londres e também para o gabinete militar, onde se dão as escolhas políticas. A partir do momento em que os terroristas entram no alvo, a tensão do longa cresce bastante. Vira outro filme. O ritmo não cai e o suspense aumenta.

Decisão de risco retrata uma lógica bastante cruel do peso político por trás da decisão militar. É cruel por existirem vidas de inocentes em jogo. O espectador participa, já que o que está ao alcance das autoridades são as mesmas imagens apresentadas durante a narrativa do filme. Cada um avalia a ação de acordo com o que acredita. Outra camada interessante do filme é a relação explícita entre a comunicação e o poder. Quais impactos uma ação desastrosa pode gerar na imagem institucional de um governo?

A pergunta é feita, mas fica em aberto. Decisão de risco apenas apresenta os fatos. Os julgamentos ficam por conta da imaginação de cada um.

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