Com uma semana em cartaz, Batman e Superman se mostraram capazes de defender não apenas o planeta de terríveis inimigos, mas também seus produtores e investidores das duras críticas da mídia. Apesar da avaliação bem negativa por parte da crônica especializada, o filme estreou com tudo nas bilheterias, arrecadando US$ 424 milhões no primeiro fim de semana de exibição em todo o mundo. É a maior abertura da história entre as adaptações de quadrinhos e a sexta no geral. Se Batman vs Superman: A origem da justiça será mais um caso de “fracasso de crítica e sucesso de bilheteria”, ainda temos que esperar as próximas semanas de exibição, mas fica mais uma oportunidade para o debate sobre essa estranha relação no cinema contemporâneo.
De acordo com o site norte-americano Metacritic, que calcula a nota média que os filmes recebem da crítica, Batman vs Superman é um filme 4,4. Bem menos que os 6,5 que Deadpool, da concorrente Marvel, que também estreou este ano. No entanto, nas bilheterias, a recém-lançada adaptação da DC Comics teve um resultado melhor, considerando apenas primeira semana em cartaz. Caso a história dos dois heróis continue atraindo multidões e cumpra a arrecadação esperada de quem investiu US$ 250 milhões na produção (orçamento oficialmente divulgado), teremos mais um caso de desacordo entre crítica e público, como foram, por exemplo, Transformers: A era da extinção de 2014, e o nacional Os dez mandamentos, que estreou este ano.
Até que ponto a opinião especializada influencia o público a assistir ou não um filme? No caso das megaproduções, praticamente nada. É o que afirma o coordenador do curso de cinema e audiovisual da UNA, Rafael Cicarini.
E não é só para Hollywood que a proporção inversa anda valendo. Entre os campeões nacionais de bilheteria também encontramos alguns títulos detonados pela crítica, como a adaptação da telenovela bíblica Os dez mandamentos, líder de público no Brasil no ano, à frente de todos os blockbusters estrangeiros. Com mais de 10,5 milhões de espectadores, o longa já é a terceira maior bilheteria da história entre os brasileiros, atrás apenas de Dona flor e seus dois maridos (1976), que deve ser superado ainda nesta semana, e Tropa de elite 2 (2010).
Assim como as superproduções hollywoodianas, filmes nacionais criados em parceira com grandes emissoras de TV, como Globo e Record, costumam ter um bom espaço de divulgação na mídia e um orçamento destinado ao marketing, garantindo a curiosidade do público, a despeito do que a crítica fale. “Tem crítico que já vai preparado para não gostar desses filmes comerciais e o público acaba antagonizando com ele, em alguns casos, o crítico vai ser odiado e perder seguidores ao falar mal de um filme querido pelo público”, explica Rafael Cicarini.
Crítica No entanto, a lógica não vale para produções menores. Para Cicarini, o público que se interessa por filmes de arte e pelo cinema independente costuma se informar através da crítica sobre o que está em cartaz. Na opinião dele, uma crítica negativa pode ter efeitos terríveis para uma produção de menor orçamento. “Quando a crítica é muito negativa, cria-se a sensação de um filme irrelevante, já que ele quase não tem espaço na mídia e não tem propaganda em volta. Da mesma forma, quando um filme desse tipo é elogiado, como ocorreu com o O som ao redor, que apareceu na lista dos 10 melhores do ano do The New York Times, o resultado é bem superior ao esperado”, explica.
O som ao redor, que chegou às salas em 2013, foi apontado pelo crítico norte-americano A.O. Scott, do jornal The New York Times, como um dos 10 melhores filmes do mundo em 2012. Durante a exibição no Brasil, o longa dirigido por Kleber Mendonça Filho levou pouco mais de 94 mil espectadores às salas. Número expressivo para uma produção independente, mas ainda bem inferior a outras produções nacionais lançadas naquele ano com grande aporte financeiro, como Minha mãe é uma peça e Até que a sorte nos separe 2, que levaram 4,6 e 3,9 milhões de espectadores às salas de cinema, respectivamente.
Mas nem tudo é culpa da crítica na opinião de Rubens Ewald Filho.
Clássicos e crítica na TV
Crítica e cinema nacional também serão o assunto de Rubens Ewald Filho na série 50 grandes filmes brasileiros, que estreia na terça-feira, no canal por assinatura Max. Produzida pelo HBO latina e pela Popcon, a primeira temporada terá 10 episódios. Cada capítulo, com duração de uma hora, falará de cinco filmes nacionais, agrupados por um tema central, com entrevistas com profissionais envolvidos nas produções e comentários de críticos e especialistas.
A estreia reunirá filmes policiais, como Tropa de elite 2 : O inimigo agora é outro e Amei um bicheiro. A sequência da série contemplará ainda grandes comédias, filmes sobre a ditadura, sobre o cangaço, road movies, adaptações da literatura nacional, clássicos de amor e um episódio especial final, reunindo os cinco melhores filmes brasileiros de todos os tempos na opinião dos críticos que participaram da série.
50 grandes filmes do cinema brasileiro
Estreia da série, no Canal Max, terça-feira, às 23h. .