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Humberto Mauro estreia o projeto Traga Seu Filme com documentário 'O imortal do gelo'

Programação abre espaço para cineastas exibirem suas obras. Produção de Marcelo Reis conta trajetória do Atlético-MG

Luiz Fernando Motta
“Neste mundo de mídias digitais, todo mundo pode assistir aos filmes no celular ou no computador.
Mas no cinema é diferente. É um convite a desligar os aparelhos e mergulhar no  filme”, diz o diretor Marcelo Reis, antes da sessão de seu documentário O imortal do gelo, que inaugurou anteontem o projeto Traga Seu Filme, do Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes. A iniciativa abre espaço para que qualquer diretor envie sua obra – curta, média ou longa – para a gerência de cinema da Fundação Clóvis Salgado. Um selecionado será exibido na última quarta-feira de cada mês.

Mais de 50 títulos já foram inscritos, de acordo com o gerente do Cine Humberto Mauro, Philipe Ratton. “Nosso objetivo é criar um canal de distribuição para cineastas do Brasil todo, com mais ênfase nos diretores mineiros”, diz. Segundo ele, as formas de distribuição hoje são restritas e acabam se limitando à internet ou a festivais. “O Traga Seu Filme é aberto, não temos nenhum tipo de norma.
Pode ser um filme de qualquer estilo, qualquer temática. E não precisa ser de um diretor de renome”, afirma Ratton.

O programa estreou anteontem com ingressos esgotados. A estratégia escolhida tinha uma baixíssima margem de erro: jogar para a torcida. O imortal do gelo é sobre futebol e conta a história do Atlético Mineiro na excursão por cinco países europeus (Alemanha, Áustria, Bélgica, França e Luxemburgo), em 1950. A saga rendeu ao clube o título simbólico de Campeão do Gelo, que é mencionado com ênfase no hino do Galo.

Como era de esperar, a torcida compareceu em peso e fez do Cine Humberto Mauro uma arquibancada. Gritos empolgados de “Galo” antes do início da sessão, hino cantado a plenos pulmões ao fim do filme, enquanto os créditos rolavam na tela. Os atleticanos tinham motivos de sobra para ir ao Palácio das Artes. O documentário só havia sido exibido uma única vez, no auditório da sede do clube, em sessão fechada para pessoas que participaram do financiamento coletivo da produção, além de familiares dos campeões do gelo e staff do clube.

O título não pode entrar em circuito comercial nem ser vendido em cópias digitais até que os produtores consigam negociar o pagamento dos direitos autorais das músicas e algumas imagens, que pertencem a uma rede de TV alemã.

A sessão contou com a presença ilustre da figura central do filme, o ex-atacante Walter José Pereira, o Vavá, único remanescente do elenco de 1950. Após a exibição, Vavá participou de um debate com os torcedores, que funcionou como extras do documentário. Assim como na entrevista que norteia a montagem do filme, o ex-jogador demonstrou memória afiada e contou outros “causos”, causando um misto de risadas e comoção na plateia atleticana. “Não queria que essa história passasse despercebida e que ninguém soubesse por que o Galo é campeão do gelo. Estamos deixando isso para os atleticanos, para o resto da vida”, disse.

OPORTUNIDADE O torcedor Marcelo Henrique Silva, de 29 anos, correu para retirar um dos últimos ingressos para a sessão, gratuita. Ainda ofegante, respirou aliviado por ter conseguido chegar a tempo.
“É uma oportunidade única. Pelo Galo e pela oportunidade de acompanhar uma produção de cinema como essa”, disse. A atleticana Ana Reis, de 80, levou os dois filhos e a sobrinha adolescente. “Essa paixão pelo clube começou com a minha mãe e faço questão de passá-la para toda a família.” Marcelo Reis dirigiu o filme com Emmerson Maurílio, coordenador-geral da TV institucional do clube. Segundo Reis, o acervo sobre a empreitada atleticana na Europa é muito grande e há uma ideia em andamento para ampliar o filme. “Essa é uma pitada do que se tem sobre essa história. O projeto Traga Seu Filme foi uma oportunidade de ouro para o torcedor ver o que já temos. Foi muito bom o documentário ter sido selecionado em uma data tão próxima ao aniversário do clube (comemorado em 25 de março)”, afirmou.

Enquanto o filme sobre o Atlético Mineiro permanece inédito em circuito comercial, Marcelo Reis está com outro documentário em cartaz em Belo Horizonte. No vermelho aborda a história de pessoas que trabalham em semáforos na capital miniera – um músico, um vendedor de balas, dois irmãos vendedores de frutas, um lavador de carros e um casal de malabaristas. Está em sua segunda semana em cartaz no Cine104.

No vermelho oscila entre relatos de dificuldades e humilhação e depoimentos reveladores de orgulho e libertação.
É o segundo longa do diretor a entrar em circuito comercial. O primeiro foi Aterro, filme sobre sete mulheres pioneiras na catação de lixo no Brasil.

O diretor destaca a diferença dos trabalhos anteriores e do filme sobre o Galo. “Meus dois longas exigiram trabalhos de pesquisa muito longos. Para fazer No vermelho, gastei 16 meses na rua, conhecendo pessoas, buscando referências. Já no documentário sobre futebol fiz tudo em dois meses, porque já peguei todo o material de pesquisa interno do clube.”

TRAGA SEU FILME
Última quarta-feira de cada mês, no Cine Humberto Mauro, Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Entrada franca

NO VERMELHO
Em cartaz até 6 de abril, sempre às 17h (exceto na segunda-feira, 4 de abril) no Cine 104. Praça Ruy Barbosa, 104, Centro, (31) 3222-6457. Entrada: R$ 12 (inteira); R$ 6 (meia)
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