Ela nasceu Helena Maria, tornou-se Darlene Glória, mas ainda há quem a chame de Geni. A prostituta do filme Toda nudez será castigada (1973), de Arnaldo Jabor, é até hoje um dos papéis mais conhecidos e icônicos da carreira dessa atriz, que acaba de completar 74 anos. É sobre essa personagem e esse clássico do cinema nacional que Darlene conversa hoje com o público do projeto Curta Circuito, em Belo Horizonte, após a exibição do longa, no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes.
“Para você ver como esse trabalho foi marcante e gratificante, mesmo após 40 anos da estreia, estarei em BH falando de Toda nudez... Foi histórico para o cinema brasileiro. Além de ser baseado na peça do Nelson Rodrigues, que era um craque, e ser dirigido pelo Jabor, a gente tinha no elenco atores fantásticos, como o Paulo César Pereio, Paulo Porto, Henriqueta Brieba e Hugo Carvana”, diz a musa dos anos 1970.
Darlene Glória se lembra com carinho das filmagens e dos passos seguintes do filme – salas cheias (o longa teve quase 2 milhões de espectadores) e prêmios como o Urso de Prata do Festival de Berlim e o Kikito do Festival de Gramado, nas categorias de melhor filme e atriz (Darlene Glória), além de menção especial à trilha sonora de Astor Piazzolla.
No entanto, o que nunca lhe saiu da cabeça foram os elogios da atriz, cantora e ativista política grega Melina Mercouri (1920-1994). “Ela assistiu a Toda nudez será castigada umas três vezes e ficou encantada com meu trabalho. Fiquei sabendo que a Melina era minha fã. Para mim, isso foi melhor do que qualquer premiação.”
Após o sucesso do filme de Jabor, Darlene prosseguiu fazendo cinema.
Nessa nova fase, a atriz se mudou para os Estados Unidos, onde passou a produzir filmes e vídeos evangélicos e ficou afastada 10 anos do meio artístico. Nesse período, ela se casou com o pastor Marcus Vinícius de Almeida Brandão, pai de dois (Rebeca e João Marcos) de seus quatro filhos – o primogênito, Paulo, nasceu quando ela tinha 16 anos e é fruto de um relacionamento que não perdurou. Rodrigo é filho de Mariel Mariscot (1940-1981), agente expulso da polícia, acusado de integrar o Esquadrão da Morte e ter ligações com a contravenção, com quem Darlene teve um romance.
AMOR ETERNO “Casar mesmo é só uma vez e foi com o Marcus. Nossa história acabou em 1989, mas ele é o meu amor eterno. Nós nos falamos de vez em quando, e é ele quem me sustenta até hoje. Sou pensionista”, afirma. Quando a coisa aperta, diz ela, Darlene participa de um ou outro trabalho na telinha ou na telona. Aceitou o convite de Selton Mello para participar de Feliz Natal (2008), que marcou a estreia do ator na direção de longas.
Depois disso, fez pontas em seriados como A diarista e Força-tarefa, na Globo.
A trajetória artística dessa capixaba nascida na bucólica São José do Calçado teve início quando ela passou a cantar, ainda adolescente, numa rádio de Cachoeiro de Itapemirim, terra de Roberto Carlos e de Carlos Imperial. Logo depois virou miss, e os vizinhos aconselharam a menina a criar um nome artístico. “Helena era muito comum na época.
Mesmo vivendo afastada dos grandes centros e cercada pela natureza, Darlene Glória diz que é atenta a tudo. Bastante ativa nas redes sociais, a atriz faz questão de se posicionar a respeito de diversos assuntos. Sobre a atual crise do país, ela se revela decepcionada e triste. “Minha vida é simples e calma, mas não vivo alienada. O que está acontecendo é uma vergonha. Por mim, tinha que começar do zero. Apagar o Senado, a Câmara, porque pouca coisa salva. O que está faltando é amor pelo Brasil.”
DRAMA FAMILIAR
Baseado na peça homônima de Nelson Rodrigues, Toda nudez será castigada conta a história de Herculano (Paulo Porto), homem puritano, viúvo, que jura a seu filho Serginho (Paulo Sacks) que nunca terá outra mulher. Porém, ele se apaixona por uma prostituta, Geni (Darlene Glória), a quem conhece por intermédio de Patrício (Paulo César Pereio), seu irmão, interessado em que Herculano volte a sustentar seus vícios em bebida e mulheres. Quando resolve se casar com Geni, desata uma série de conflitos em sua família. Após uma briga num bar, Serginho é preso e sofre abuso na cadeia. De novo em liberdade, ele se torna amante de Geni, com o propósito de se vingar do pai por haver quebrado o juramento. Desesperada, Geni comete suicídio, deixando uma fita gravada narrando toda a história para Herculano.
Toda nudez será castigada
Exibição do filme, seguida de bate-papo com a atriz Darlene Glória e a crítica Andrea Ormond. Hoje, às 20h, no Cine Humberto Mauro, Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada franca, com distribuição de ingressos 30 minutos antes da sessão. Classificação: 18 anos .