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Estreia hoje

Lázaro Ramos está no filme 'Mundo cão', que usa cães para abordar a violência

Suspense do diretor Marcos Jorge, o mesmo de 'Estômago', também tem no elenco os atores Babu Santana, Adriana Esteves e Milhem Cortaz

Shirley Pacelli

Quem de criança nunca ouviu da mãe para tomar cuidado com o homem da carrocinha, que levava o cachorro para virar sabão? Pois foi nessa lenda urbana que o diretor Marcos Jorge, de Estômago (2007), se inspirou para criar Mundo cão, suspense que estreia hoje nas salas de cinema do país.

O longa traz os atores Lázaro Ramos e Babu Santana como protagonistas em um embate cheio de reviravoltas.

Marcos Jorge conta que o projeto do filme surgiu de seu desejo de fazer suspense. Vontade desperta desde a pitada de conjecturas que rondavam a história de Nonato em Estômago: que crime ele havia cometido para estar na cadeia?. “Tinha o desejo de falar dessa violência cotidiana. Sujeito a qualquer momento fazer encontro que muda a vida”, diz.

E é esse o ponto de partida da trama, que tem roteiro original assinado por Jorge e Lusa Silvestre. Ao encontrar um rottweiler na rua, toda a vida de Santana (Babu Santana), funcionário do Departamento de Combate a Zoonoses, é transformada. Em São Paulo, até 2007, os cachorros eram recolhidos e, depois de três dias, sacrificados. O grande problema é que o animal pertencia a Nenê (Lázaro Ramos), ex-policial com índole bastante questionável.

“E se quiser me exaltar?”, questiona Nenê no centro de zoonose à procura do animal perdido.
“Aí não tem problema, que eu estou acostumado a lidar com animal”, responde, desafiador, Santana. A tensão da cena traz uma adrenalina instigante, que só aumenta ao longo da trama.

O diretor Marcos Jorge revela que o ator Babu Santana serviu de inspiração para o personagem, que, por consequência, acabou levando seu nome. “Já tinha trabalhado com ele em Estômago e fiquei impressionado. Queria alguém que tivesse força, mas fosse bonachão. Um cara que nem o Santana. Foi natural convidá-lo”, conta Jorge.

Todo o restante do elenco veio depois. Da necessidade de um grande ator, com carisma e presença, surgiu o convite a Lázaro Ramos. “Quis o melhor ator brasileiro. Ele curtiu a ideia de fazer um antagonista. Nunca tinha feito”, explica o diretor.

Em Mundo cão, os papéis se invertem. Babu, visto com frequência na tela como o cara rude e grosseiro, é o pai de família. Lázaro, o gângster: um ex-policial corrupto, com paixão obsessiva por seus cães. A risada de Nenê ao ameaçar um parceiro de negócios é diabolicamente magistral.
A dupla atua em sintonia de talentos.

O elenco conta ainda com Adriana Esteves no papel de Dilza, esposa evangélica de Santana, que divide o tempo entre o trabalho como costureira e a dedicação à casa e aos filhos. Milhem Cortaz faz participação especial como Cebola, braço direito de Nenê.

Os estreantes Vini Carvalho (João), de 10 anos, e Thainá Duarte (Isaura) foram escolhidos a dedo entre mais de 160 crianças para serem os filhos de Santana e Dilza. Houve até pesquisa de biotipos. A atuação de Thainá foi um desafio e exigiu preparação especial. O telespectador é levado a lê-la como uma “aborrecente”, mas é só mais um truque do diretor.

De tamanha importância para a história, os nomes dos cães aparecem até nos créditos finais do filme: Nero, Calígula/Vampeta, Herodes e Salomé. Os cães das raças dobermann e rottweiler foram preparados durante meses. O papel de Nero foi feito por três cães. “É muito difícil trabalhar com cachorro. Já tinha tido experiências em comerciais. É uma complicação trabalhar com animal de porte grande e que tem que parecer agressivo em cena.
Você não diz para ele faça isso e ele faz. Exige técnica”, explica Jorge.

 

TRAMA INTELIGENTE
“Quem é o bandido dessa história?”, questiona Jorge. A todo momento, o diretor busca provocar o telespectador. Mundo cão não veio para explicar, mas confundir. O diretor se arrisca e, ao longo da trama, constroi inúmeros eventos que deixam você boquiaberto diante da tela.

Segundo Jorge, o filme passa muito pela ideia de tirar o espectador da sua zona de conforto. “É uma proposta até em relação ao próprio tema: justiça com as próprias mãos, vingança. Provoco tanto os que acham que é uma barbárie, a ver o lado de quem se vinga, quanto aqueles que dizem que é legal, para ver as consequências desse tipo de atitude e, com isso, fazer um filme emocionante”, afirma. O defecho também é provocativo. “Mas peraí, a situação se resolveu?”, questionará o público.

O diretor faz grande aposta ao levar aos cinemas brasileiros um gênero ainda pouco explorado no país. “É natural que as comédias nacionais tenham muito sucesso nos cinemas. Você ri e precisa saber a referência. Falar dessa situação é mais fácil do que outra que precisa acompanhar legendas”, diz. Marcos Jorge enfatiza que é possível criar suspense com coisas próprias do dia a dia do brasileiro. “Pareceu-me um suspense. E ousado. Pode-se fazer algo popular, sem ser popularesco”, resume.

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