Mesmo que a polêmica do ‘Oscar branco’ tenha dominado paródias e as intervenções do apresentador Chris Rock, as referências a casos de abuso sexual arrebataram mais. Lady Gaga, cercada de pessoas que foram vítimas desse crime, foi aplaudida de pé na canção Til it happens to you, do filme The hunting ground. Ela foi precedida pelo vice-presidente americano, Joe Biden, que divulgou uma campanha de combate aos crimes sexuais. Gaga causou, mas não levou.
Na 88ª edição do Oscar, as zebras fizeram a festa, mas não rolou o azarão que o Brasil esperava. A animação Divertida mente confirmou seu favoritismo sobre O menino e o mundo, de Alê Abreu. Mas quem diria que Sylverster Stallone perderia a estatueta de melhor ator coadjuvante para o talentoso – mas pouco cotado – Mark Rylance, de Ponte dos espiões? O ator britânico foi a única vitória de um filme dirigido pelo bambambã Steven Spielberg. Também era difícil imaginar que Ex-Machina, longa que nem sequer chegou aos cinemas brasileiros, tiraria de Star wars – O despertar da força o prêmio de efeitos visuais.
Já Mad Max – Estrada da fúria, de George Miller, teve sua maior virtude reconhecida: a técnica. Faturou seis estatuetas (edição, figurino, maquiagem e cabelo, edição de som, mixagem e direção de arte) das 10 que disputou. O regresso, a cruzada de vingança na neve, conquistou três estatuetas das 12 que disputava, mas foram as de melhor diretor (Alejandro González Iñarritu), ator (Leonardo DiCaprio) e fotografia (Emmanuel Lubezki).
DiCaprio, na verdade, desencantou. Depois de cinco tentativas frustradas, subiu ao palco do Dolby Theatre aliviado e fez um discurso enfático sobre a sustentabilidade do planeta e a necessidade de medidas para conter a mudança climática. As vitórias consecutivas dos mexicanos Iñárritu (duas vezes seguida o melhor diretor no Oscar) e Lubezki (tricampeão) mostram que os estrangeiros andam sambando na cara de Hollywood. Bom sinal em tempos de acalorado debate sobre o papel dos imigrantes no país e de discussão em torno da diversidade na indústria audiovisual.
Iñárritu gastou mais do que o tempo previsto para passar o recado. “Glass (DiCaprio) diz para seu filho (indígena): ‘Eles não escutam, apenas veem a cor da sua pele’. Então, que bela oportunidade para nossa geração realmente se liberar de todos os preconceitos, desse pensamento tribal, e ter certeza de que a cor da pele se torna tão irrelevante quanto o tamanho do seu cabelo”.
PULVERIZAÇÃO O resultado do Oscar 2016 foi um dos mais pulverizados dos últimos anos. Mad Max: Estrada da fúria, O regresso e Spotlight foram os únicos que acumularam prêmios, respectivamente, seis, três e dois. A grande aposta, O quarto de Jack, A garota dinamarquesa, Ex-Machina e Divertida mente levaram um cada um.
A cerimônia foi bem menos espetaculosa, mas nem por isso curta. Cadê aquelas performances intermináveis com bailarinos e afins? Muito pouco e ainda assim foram quase quatro horas de duração. Em resumo: foi pura falação. Curiosamente, duas das canções indicadas não foram apresentadas, Simple song, de Sumi Jo (Youth), e Manta Ray, de J. Ralph e Anohni (Racing extinction), que aderiu ao boicote. Ele é transexual e não admitiu ser substituído por outro intérprete na festa.
Coube a Dave Ghrol, do Foo Fighters, a homenagem póstuma. Ele fez uma delicada versão de Blackbird, dos Beatles. E a Academia esqueceu o centenário diretor português Manoel de Oliveira, que morreu em abril de 2015. Que feio.
A não ser pela respiração ofegante de Alicia Vikander ao receber das mãos de J.
Brie Larson, vencedora do prêmio de melhor atriz por O quarto de Jack, fez um agradecimento típico das produções independentes. “Algo de que gosto no cinema é a quantidade de pessoas necessárias para fazê-lo. Gostaria de primeiro agradecer aos festivais de Telluride e Toronto, que nos deram a chance. Foram nossas primeiras plataformas”, afirmou. Mais lindo do que ver Brie Larson ganhar o Oscar foi observar o semblante do pequeno Jacob Tremblay, que interpreta o filho dela no filme. “Meu parceiro de todas as maneiras possíveis”, resumiu a atriz.
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