A cada temporada do Oscar, as livrarias são tomadas pelos livros que deram origem aos filmes que estão na competição.
Há ainda nas livrarias algumas narrativas de indicados que não entraram na categoria de roteiro. A história de sobrevivência do explorador Hugh Glass já era conhecida dos norte-americanos muito antes do filme O regresso. Existem, inclusive, meia dúzia de livros que retratam seus feitos no século 19. Mas foi um dos mais recentes, também chamado O regresso (Intrínseca, 272 páginas, R$ 39,90), que inspirou o cineasta Alejandro González Iñárritu.
Ao contrário do que o filme mostra, Glass nunca se casou nem teve filhos. Teria tido uma noiva que morreu enquanto ele estava em uma de suas viagens. Pouco se sabe de concreto sobre sua história. Porém, todos os autores dão conta de que o personagem teria tido uma passagem como pirata. A tal luta com uma fêmea de urso, crucial no filme, é descrita de maneira quase descuidada por Punke. Há sequências de ação mais interessantes, como o confronto de Glass e barqueiros com índios arikaras.
Outra narrativa em tom biográfico é Trumbo (Intrínseca, 368 páginas, R$ 39,90), de Bruce Cook, cujo filme homônimo deu a primeira indicação a Bryan Cranston. O livro, na verdade, foi publicado originalmente em 1977, um ano após a morte do roteirista Dalton Trumbo. Com o filme, ganhou nova edição.
Como toda adaptação cinematográfica, o filme cortou muito da história. O diretor Jay Roach privilegiou o período da perseguição ao roteirista. O livro vai além: traz boa parte da vida familiar do personagem.
Outro relato de destaque é A garota dinamarquesa (Fábrica 231, 363 páginas, R$ 34,50), de David Ebershoff. O longa de Tom Hooper toma todas as licenças para levar a história ao cinema, da mesma forma que Ebershoff reconhece tê-lo feito. Em ambos, interessa mais o caso da transformação do pintor Einar Wegener em Lili Elbe e a relação com a mulher, Gerda, mas não necessariamente o desfecho. E eles, inclusive, são diferentes.
Como Ebershoff é dono de uma literatura bastante descritiva, algumas cenas de Tom Hooper seguem à risca as observações dele. O diretor, no entanto, suprimiu do filme toda a história prévia de Gerda, assim como sua família. No livro, ela é uma rica herdeira de laranjais norte-americanos que, além de ter perdido o primeiro marido, também teve que enterrar o filho ainda bebê.
No livro, as histórias de Gerda e de Einar se alternam entre os capítulos. No fim das contas, as transformações pelas quais a mulher passa para suportar as escolhas do marido são tão importantes quanto a trajetória dele.