Presságios de um crime, que chega hoje às salas brasileiras, é a segunda estreia no cinema do diretor Afonso Poyart, de 37 anos.
“Óbvio que não foi fácil. É uma indústria muito consolidada”, afirma. Presságios de um crime é um thriller psicológico com um histórico de problemas de produção. Mark Pellington (O suspeito da Rua Arlington) foi o primeiro diretor anunciado, em 2008. A participação dele não vingou, e o roteiro foi reescrito duas vezes depois disso.
“Estava preparado para o que viesse”, conta. Encontrou uma equipe comprometida, profissional, mas nem um pouco aberta ao improviso. As relações foram tensas, inclusive com o protagonista, o ator (e produtor-executivo) Anthony Hopkins. “A parte do set de filmagem foi a que menos amei. Tem certo vício industrial. É quase uma fábrica”, diz Poyart.
Na opinião do diretor, o cinema que se faz no Brasil ainda pode ser chamado de artesanal. Não apenas pelo modo como é filmado, mas pela liberdade com que o processo é conduzido. “Tive liberdade criativa, mas em um set de filmagem lá é mais difícil sair do plano e ir atrás do improviso”, explica. Adepto da ideia de que o acaso contribui com o cinema, ele diz que seu maior aprendizado no exterior foi justamente com o rigor. “Saber manusear uma equipe.”
Depois dessa experiência, ele voltou ao cinema nacional com Mais forte que o mundo, cinebiografia do lutador José Aldo. “Já estamos finalizando som e os efeitos visuais”, conta. A previsão é de que na metade do ano o longa esteja pronto. Mais forte que o mundo tem José Loreto como protagonista.
MMA Com orçamento de R$ 5 milhões, o filme vai contar a história do lutador de MMA desde sua saída de Manaus, onde teve uma infância marcada por violência doméstica, até a consagração no octógono. Por mais que o diferencial do roteiro seja a superação do atleta e o acerto de contas com os traumas do passado, Poyart promete mais um filme de ação.
Depois da experiência no exterior, o brasileiro assegura que existem aqui fornecedores capacitados para esse tipo de produção. “Eles vêm, resolvem e pronto. O que não temos é a mesma experiência rodada. Por isso precisamos trabalhar juntos para desenvolver a coisa.”
Ele conta ter rodado em Mais forte que o mundo uma cena de perseguição, com dublês e mão de obra 100% nacional. “Pensei em contratar fora, mas achei um pessoal aqui que fez muito (bem). Tivemos quatro meses de treinamento com os atores. Eles pegaram com muita vontade”, diz. Para o diretor, o negócio é fazer. “Em qualquer lugar tem sempre a primeira vez”, sintetiza.
Usar a tecnologia 3D, por exemplo, é o próximo passo em sua carreira.
Crítica
Se em 2 coelhos, mesmo como poucos recursos, Afonso Poyart conseguiu chamar a atenção para a originalidade com que conta uma história de ação, em Presságios de um crime o caminho é inverso. Curiosamente, mesmo tendo ao seu dispor a engrenagem de Hollywood, o thriller psicológico não escapa em momento algum dos clichês.
A trama gira em torno da história de uma dupla de detetives do FBI que pede ajuda a John Clancy (Anthony Hopkins), um recluso médico aposentado. Dotado de poderes premonitórios, ele é chamado para ajudar na resolução de uma série de crimes bizarros. A construção de cada cena é tão estranha e artificial quanto a ação do bandido, no caso, um Colin Farrell em desempenho mecânico.
Por mais talentoso que Anthony Hopkins seja, há nele um ar de insatisfação que se sobrepõe ao personagem. A atriz Abbie Cornish (Sem limites, 2011) é muito dura como Katherine Cowles, a policial que abre mão da vida pessoal em favor da carreira. Jeffrey Dean Morgan (P.S Eu te amo, 2007) como o agente Joe Merriweather, é quem mais bem consegue lidar com as dualidades humanas, mesmo em um cenário adverso.
Por se tratar de um thriller psicológico, Presságios de um crime é cercado por uma aura fantástica que joga mais contra do que a favor do suspense. Como diretor, Poyart escolhe apostar em planos fechados e muitas cenas em câmera lenta. Ele justifica essa linguagem pelo fato de o longa lidar com premonições do futuro.
Quando altera o tempo da imagem, é como se quisesse também modificar a relação dos espectadores com aquele tempo/espaço. Não funciona. O certo exagero que há no uso desse recurso distancia o espectador, em vez de aproximá-lo do clima de mistério, fantasia e medo.
Cotação: ruim.
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