Os dois estão indicados ao Oscar. O longa de Iñárritu é o favorito ao prêmio máximo – o de melhor filme –, a ser entregue no dia 28 de fevereiro. Já para o O lobo do deserto é uma vitória estar entre os cinco concorrentes à categoria de melhor filme estrangeiro. O longa é o primeiro representante da Jordânia na história da premiação. Até então, o país havia enviado apenas outro longa para a consideração da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
Em meio às paisagens áridas da província de Hejaz, o garoto Theeb (o surpreendente Jacir Eid Al-Hwietat) passa os dias acompanhando o irmão mais velho, Hussein (Hussein Salameh Al-Sweilhiyeen). Com ele, aprende o mínimo para a sobrevivência no cenário de condições adversas. É metáfora corriqueira no grupo associar o comportamento da família ao dos lobos, daí o nome em português do filme. O original é apenas Theeb.
Quando um oficial inglês aparece no acampamento, Hussein é escalado para ser o guia do estrangeiro na localização de um poço romano. Theeb se junta à comitiva pelo deserto a contragosto dos adultos. Parte na garupa do camelo do irmão, com destino a um território dominado pela tensão da Primeira Guerra Mundial. O conflito bélico, no entanto, é apenas pano de fundo para o filme de Noware.
A ele interessa mais o olhar atento – de certa forma ingênuo – de Theeb, logo dominado pela violência. É um amadurecimento tão árido e seco como a paisagem que o cerca. A câmera de Naji Abu Noware se curva à força do deserto. Tem o apoio da trilha sonora do inglês Jerry Lane para fazer do vazio um aliado. A areia quente infinita diz tanto do personagem como do contexto em que a trama se passa.
A grande diferença em relação a O regresso é que O lobo do deserto fala sobre vingança na perspectiva de uma criança. Mas, independentemente da faixa etária, o longa jordaniano nos dá a dimensão de todas as cruzadas sobre transformações pessoais. Sem propósitos, seja lá de qual natureza forem, o ser humano não chega longe.
COTAÇÃO - BOM
Em temporada pré-Oscar é inevitável não fazer um paralelo entre o pequeno filme jordaniano O lobo do deserto, do estreante Naji Abu Noware, e o gigante O regresso, do mexicano Alejandro González Iñárritu. Guardadas as devidas proporções e diferenças de cenário – um no deserto e o outro na neve –, ambos são cruzadas solitárias cujos protagonistas são movidos por vingança.