"Se o nosso filme sobre o destino de uma família judia perseguida e aniquilada pode contribuir para uma atitude mais positiva em relação aos refugiados, então todos nós podemos nos orgulhar", declarou Fred Breinersdorfer, roteirista do filme Das Tagebuch der Anne Frank (O diário de Anne Frank), num momento em que a Europa enfrenta uma crise migratória sem precedentes desde o final da Segunda Guerra Mundial.
"As perseguições, expulsões e destruição são coisas que não podemos simplesmente nos livrar", acrescentou.
O filme, exibido terça à noite em uma seção paralela à competição oficial, conta a história da adolescente judia de 13 anos e sua família, alemães forçados a fugir para a Holanda após a chegada ao poder dos nazistas em Berlin.
Mas em 1940, o exército alemão invadiu a Holanda, forçando a família Frank a se esconder a partir de 1942, quando sua irmã Margot é condenada a ir a um campo de trabalhos forçados.
Em seu diário, a jovem Anne descreve sua vida na clandestinidade, entre junho de 1942 e agosto de 1944, quando sua família é denunciada.
Crônica da vida dos judeus perseguidos na Europa sob o jugo nazista, o diário foi publicado em holandês em 1947 por seu pai, o único sobrevivente da família.
Desde então, mais de 30 milhões de cópias foram vendidas em todo o mundo e o livro foi objeto de várias adaptações, no teatro, cinema e televisão.
"Quando contamos sobre o seu destino hoje (...), que citamos a frase 'aquele que salva uma vida, salva a humanidade' (tirada do Talmud, um dos textos fundamentais do judaísmo), então, como autores do filme, realizamos uma grande coisa", declarou Walid Nakschbandi, co-produtor.
UMA VIDA "ROUBADA"
"Nós acreditamos que (...) seria muito importante ter um filme em uma linguagem moderna, e também em alemão, porque a família vivia na Alemanha há 400 anos", indicou à AFP Yves Kugelmann, um membro do Fundo Anne Frank, organismo detentor dos direitos do livro.
Com sede em Basileia (Suíça), o Fundo abriu seus arquivos para a equipe de filmagem que teve acesso a 100.000 documentos: textos, objetos, fotografias. Assim, todas as cenas do filme tinham sua própria "fonte", insistiu Hans Steinbichler, o diretor.
"Para mim, era importante remover de Anne Frank (...) esse status sagrado... Porque era a única maneira de fazer passar a mensagem de que o que foi roubado dela foi uma vida normal", explicou.
É a jovem Lea van Acken, de 16 anos, que interpreta uma Anne Frank no auge da adolescência.
A atriz alemã declarou na terça-feira ao jornal alemão Bild que releu de maneira aprofundada a obra para melhor entrar no papel. "Mas eu estava sentada na minha cama e simplesmente não podia embarcar. Senti de repente que era arrogante de minha parte tentar me colocar no seu lugar", disse ela.
Ela então decidiu escrever "cartas para Anne onde dizia coisas sobre mim", explicou a jovem com o cabelo raspado a fim de filmar a cena mostrando a chegada da adolescente em Auschwitz.
Anne Frank morreu de tifo no campo de concentração de Bergen-Belsen no norte da Alemanha, em 1945..